Abelha valente que se nidifica em ocos de árvores. A noroeste de São Paulo existe uma cidadezinha com o nome deste tipo de abelha: Borá, que em tupi significa "o que há de ter mel". O inseto, cada vez mais raro na região, parece ter ido embora junto com os habitantes. Segundo o atual prefeito, há 15 anos a população era três vezes maior.
A pequena cidade possui 802 habitantes e uma curiosidade: tem mais eleitores do que moradores. Uma usina de álcool, que voltou a se instalar no município cinco anos atrás, tem absorvido grande parte da mão de obra de trabalhadores das cidades vizinhas. Quando saem, eles deixam para trás o título de eleitor. O cartório eleitoral, que fica na cidade de Paraguaçu Paulista, informa que não foi constatada nenhuma irregularidade nestas eleições municipais.
Como em toda cidade pequena, as relações sempre são muito cuidadosas. A começar pelos três candidatos a prefeito deste ano. Todos afirmam respeitar-se mutuamente. Luís Seringueira, que já foi prefeito no penúltimo mandato, compara a disputa eleitoral a um jogo: "depois das eleições todos continuam levando a vida normalmente".
Ao contrário das grandes metrópoles, os candidatos a prefeito e a vereador conseguem visitar todas as casas do município. O famoso "corpo a corpo" é estratégia comum entre os candidatos.
João do Posto foi o vereador mais votado nas últimas eleições. Teve 88 votos. Ele afirma que em Borá a escolha do eleitor se baseia na pessoa do candidato e não no partido que representa. "Aqui leva-se em conta a personalidade do candidato. Eu conheço cada pessoa, cada casa deste lugar. Todo mundo me conhece, é o que vale", comenta.
A oposição direta fica por conta de Luís do Açougue. Ele perdeu a última eleição para o atual prefeito por apenas 24 votos. Fez o popular "corpo mole" na reta de chegada. "Eu contava com a eleição ganha e meu candidato correu atrás até na última semana", lamenta Luiz, que promete não repetir o mesmo erro desta vez.
De acordo com o último censo, em 2000, Borá possuía apenas 99 automóveis, duas motocicletas e quatro ônibus em circulação. De grande mesmo só o mandato do atual prefeito: quatro, somando 16 anos à frente da Prefeitura. Paranaense, Nélson Celestino chegou à cidade como administrador de uma fazenda de café. "Plantamos cerca de 140 mil pés de café por aqui", comenta. Mas hoje, o município depende da arrecadação de impostos e dos empregos gerados pela usina de álcool.
Embora o prefeito defenda seu candidato à eleição, respeita, como bom político, a escolha popular: "Com um candidato responsável e uma boa Câmara Municipal, quem ganha é o povo".
Este ano, se todos os candidatos forem bem votados em Borá, o próximo prefeito poderá vencer as eleições com cerca de trezentos votos. Vencer em Borá, é coisa de abelha mesmo: Tudo se constrói aos poucos, mas com muito trabalho.