Para alguns cientistas, a seca no maior rio da China, o Yang-tsé, é uma demonstração de como o aquecimento global pode interferir cada vez mais no complexo balé de correntes de ar, chuvas e cursos de água que alimentam represas e terras agricultáveis.
Muitos fazendeiros idosos nas cercanias do Lago Honghu, parte da bacia do Rio Yang-tsé afetada pela seca, disseram que os verões e invernos pareceram mais quentes na última década, e alguns disseram que o volume geral de chuvas diminuiu, embora as impressões variem.
Poucos culparam o aquecimento global, uma ideia ainda pouco disseminada na China rural, embora um tenha dado sua própria interpretação.
"Tudo isto está relacionado ao aquecimento global. Nos últimos anos tem ficado mais quente e tem chovido menos que antes e em épocas diferentes", disse Li Shenguang, mercador de peixes que trabalho nas águas minguantes do Lago Honghu.
"Está relacionado com o vazamento nuclear do Japão e a erupção do vulcão na Islândia", acrescentou.
Especialistas climáticos certamente descartariam essas explicações e evitam sobretudo culpar eventos climáticos extremos e específicos pelo aquecimento global. Eles dizem que seu trabalho acompanha tendências, não eventos em particular. A seca que aflige grande parte do Yang-tsé, o terceiro maior rio do mundo, não é diferente.
Mas os meses de secura em partes do centro e do leste da China, e a seca intensa na normalmente viçosa província de Yunnan, no sul, no ano passado são sinais do que o aquecimento global pode trazer, afirmou Liu Changming, proeminente hidrologista da Academia Chinesa de Ciências de Pequim.
"Creio que há uma ligação com a mudança climática", disse Liu à Reuters. "Nos últimos anos, a tendência parece mostrar que o sul da China, que normalmente tem abundância de água, tem sofrido mais secas e extremos climáticos.
"Não temos certeza de quanto desta seca pode ser creditado à mudança climática, mas no mínimo os processos climáticos e a circulação atmosférica têm sido anormais ultimamente", disse ele.
Os preços dos alimentos podem dobrar em 20 anos, já que a oferta luta contra ganhos decrescentes na colheita, aquecimento global e a demanda de populações e economias crescentes, alertou a organização de caridade Oxfam em um relatório esta semana.
A China é um grande produtor e consumidor de grãos, e mesmo a seca relativamente limitada no Yang-tsé fez os negociadores globais ficarem alerta.
Provas de que a mudança climática está desestabilizando ou alterando a produção ou tornando mais caro e adaptar e manter os ganhos pode amplificar as preocupações.
Pesquisas indicam que o aquecimento global pode aumentar a precipitação em grande parte da bacia do rio Yang-tsé e no sul da China nas próximas décadas, disse Lin Erda, diretor do Centro de Pesquisa de Agricultura e Mudança Climática da Academia Chinesa de Ciências da Agricultura em Pequim.