Saúde do Papa: porta-voz do Vaticano esclarece especulações

Padre Federico Lombardi esclareceu recentes especulações de que Francisco estaria doente, hipóteses que surgiram após cancelamento ou redução de compromissos do Pontífice

Da Redação, com Rádio Vaticano

Saúde do Papa: porta-voz do Vaticano esclarece especulações

Padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano / Foto: Arquivo

“Especulações completamente sem fundamento”. Assim o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, responde às notícias publicadas recentemente pela imprensa de que o Papa Francisco estaria doente. As notícias surgiram depois do Pontífice cancelar ou reduzir alguns compromissos de sua agenda.

O sacerdote explica que parte das especulações se devem à recente divulgação da agenda do Papa durante o período de verão. De fato, há reduções de compromissos, mas isso já é um costume, nesse período do ano, e aconteceu, inclusive, com os antecessores de Francisco. O Papa emérito Bento XVI, por exemplo, costumava ir a Castel Gandolfo nessa época.

“Uma redução dos compromissos do Papa é também uma redução do trabalho de seus colaboradores. (…) O Papa sabe que também essas pessoas precisam repousar de vez em quando”.

Padre Lombardi também recorda que, assim como no ano passado, Francisco decidiu permanecer na Casa Santa Marta. Esse período com menos compromissos possibilitará ao Santo Padre dedicar mais tempo a outras atividades de reflexão, de oração, com um ritmo mais calmo que lhe permita pensar e escrever.

“Se todos os dias ele tiver audiências, colóquios e outras coisas, nunca terá tempo para pensar em algum documento ou em alguma reflexão mais aprofundada.”

Leia a seguir a entrevista exclusiva que padre Lombardi concedeu ao Programa Brasileiro da Rádio Vaticano.

Programa Brasileiro: Padre Lombardi, partimos de um fato desses dias: parte da imprensa brasileira tem especulado sobre a saúde do Papa, com deduções de que Francisco não estaria muito bem. O que o senhor pode nos dizer a esse respeito?

Padre Lombardi: São especulações completamente sem fundamento. Em parte, elas se devem ao fato de que publicamos as atividades do Papa durante o período de verão (europeu), portanto, a redução de seus compromissos habituais nesse período. Isso significa que não haverá audiências gerais, no mês de julho, e as Missas, na Casa Santa Marta, nos meses de julho e agosto.
Isso foi interpretado por alguns como redução dos compromissos por motivo de saúde, mas é absolutamente desprovido de razão, porque é exatamente a mesma coisa que se fez no ano passado, em que não houve as Missas da manhã durante todo o mês de julho e de agosto. Não houve também as audiências gerais durante todo o mês de julho; inclusive, foram depois suspensas também durante o mês de agosto, porque havia poucas inscrições. Então, isso é normal! Não há nenhum motivo particular de saúde do Papa.

Aproveito para recordar que também seus predecessores fazem o mesmo tipo de redução dos compromissos durante o período do verão. João Paulo ia para lugares de montanha, durante o mês de julho, e não fazia nenhuma audiência geral. Também Bento XVI ia para Castel Gandolfo, e as audiências gerais eram suspensas durante o mês de julho. Portanto, trata-se de algo absolutamente normal feito pelos predecessores.

Uma redução dos compromissos do Papa é também uma redução do trabalho de seus colaboradores. O Santo Padre não está sozinho no Vaticano ou na Igreja; toda iniciativa dele envolve muitas pessoas que trabalham em função dos compromissos do Santo Padre. Devem receber os pedidos de participação nas audiências, distribuir os bilhetes, dispor as cadeiras, colocar as coisas em ordem, limpar… Em suma, fazer tantas coisas! Inclusive, para as Missas que celebra na Casa Santa Marta, várias pessoas trabalham quer para a preparação quer para a realização e o acolhimento dos grupos todas as manhãs. O Pontífice sabe que também essas pessoas precisam repousar de vez em quando. O Papa e seus colaboradores devem ter um ritmo humano de trabalho. É justo que, durante o período de verão, haja uma redução dos compromissos.

É algo absolutamente normal e não há nenhum motivo de saúde. Noto que o Papa Francisco decidiu, como no ano passado, permanecer na Santa Marta durante o verão. Não sair de Roma, mas ter um período com menos compromissos públicos que lhe permitam fazer outro tipo de trabalho, de reflexão, de oração, com um ritmo mais calmo, mas também que lhe permita pensar e escrever. Nos meses de verão do ano passado, o Papa escreveu a Evangelii Gaudium, que é um grande documento, muito importante para toda a Igreja. Certamente, houve a oportunidade para que pudesse pensá-lo e escrevê-lo. Se todos os dias ele tiver audiências, colóquios e outras coisas, nunca terá tempo para pensar em algum documento ou em alguma reflexão mais aprofundada.

Agora, sabemos que está sendo preparada uma nova Encíclica, da qual falou, sobre a proteção da criação, sobre a ecologia. Há inúmeros empenhos importantes do Papa para o próximo outono, há o Sínodo sobre a Família, outras viagens. Há pouco anunciou a viagem à Albânia. Depois, há viagem à Ásia e assim por diante. Os compromissos são numerosos e também a preparação para esses empenhos requer concentração e tempo. O verão deste ano servirá para isso.

Destaco ainda que, no ano passado, no mês de julho, o Papa foi ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude e, depois, fez um período mais longo de descanso dos compromissos públicos em agosto. Este ano será o inverso, porque, em agosto, o Papa irá à Coreia, uma longa viagem em outro continente. Portanto, os compromissos serão mais reduzidos em julho, de modo que tenha um tempo de interrupção.

Programa Brasileiro: Portanto, padre Lombardi, na verdade, esse período de verão, em que não há compromissos públicos do Santo Padre, é um tempo, na verdade, que ele trabalha muito, como o senhor reiterou. Há esses compromissos, há a encíclica sobre a ecologia em preparação. Certamente, podemos prever também um tempo disponível para toda essa preparação, para a redação do documento.

Padre Lombardi: Não cabe a nós fazer a agenda do Papa e ditar quais trabalhos ele tem de fazer. O Santo Padre, certamente, é muito ativo, prepara documentos, faz reflexões, mantém encontros. No ano passado, mesmo sem as audiência públicas, realizou, durante o verão, encontros e atividades importantes para desenvolver suas reflexões. Não é, portanto, um tempo “vazio”. É um tempo “cheio”, mas de maneira diferente, sem os compromissos públicos que caracterizam a agenda normal: não há audiências a chefes de Estado ou a outras grandes personalidades. Não há as grandes audiências na Praça, no mês de julho, mas o Papa igualmente trabalha, reza, estuda, escreve e encontra pessoas como faz habitualmente.

Gostaria de acrescentar outra pequena consideração: houve dias em que o Papa suspendeu algumas audiências previstas e as adiou para outro momento. Isso aconteceu, porque havia, naquele dia, um motivo para descansar um pouco devido a uma leve indisposição ou outra razão. Também isso deve ser considerado absolutamente normal para uma pessoa que tem um ritmo de atividade incrível, como o Papa tem, que trabalha de manhã, à tarde, quase sempre sem interrupção. Portanto, se ele tira um momento de repouso, naturalmente deverá mexer ou adiar alguns dos compromissos assumidos. Mas isso é absolutamente normal. Se ele tivesse uma atividade muito mais reduzida, isso não aconteceria. Mas (risos), como sabemos, ele tem uma atividade realmente muito intensa. Como vimos, ele sempre retomou suas atividades num tempo brevíssimo (essas interrupções foram sempre muito breves), de parte do dia, e depois retomou o ritmo normal.

Quem o segue na sua atividade, em Roma, ou acompanha com atenção o que ele faz, percebe que tem um ritmo de atividade enorme, intensíssimo, e isso, certamente, não quer dizer que ele esteja mal. Ou seja, não há uma enfermidade; caso contrário, absolutamente não seria capaz de fazer tudo o que faz: a extensão das grandes audiências, as celebrações, as viagens que realizou em condições muitas vezes difíceis. E continua a assumir mais compromissos. Sei, por exemplo, que se olhássemos para o mês de setembro, praticamente em todos os domingos deste mês já existem compromissos públicos que assumiu, como a viagem a Redipuglia (norte da Itália), uma viagem à Albânia. Em outubro, há também o Sínodo, com a celebração de inauguração, uma celebração para os novos santos canadenses, com a beatificação de Paulo VI. Há ainda as canonizações que previu para o mês de novembro. Digamos, portanto, que se o Papa reduziu um pouco os empenhos de julho e de agosto, como sempre no passado, não podemos absolutamente dizer que tenha reduzido os compromissos dos meses sucessivos.

Programa Brasileiro: Além disso, padre Lombardi, poderíamos dizer que quem está ao lado do Papa Francisco sabe muito bem, como já foi reiterado mais vezes, que o Pontífice é um “turbilhão”, uma pessoa que não para nunca, da qual o senhor é naturalmente testemunha.

Padre Lombardi: Certamente. Creio que seja impressionante a intensidade da sua atividade e da sua criatividade. A contínua produção de novas ideias, a vivacidade com que vive a relação com as pessoas que encontra… Não existem absolutamente elementos que deem a ideia de uma pessoa cansada ou doente. Estamos diante de alguém que nos impressiona continuamente pela intensidade de seus compromissos, da sua vida, da sua vivacidade espiritual.

 

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