Vinte e três mil peregrinos estiveram hoje na Praça de São Pedro para a Audiência Geral onde Bento XVI recordou que o “ caminho de Cristo está aberto a todos, embora exija uma conversão pessoal”. A catequese foi dedicada a Santo Hilário de Poitiers, Padre da Igreja que viveu no século IV, paladino da luta contra a heresia cristológica de Ariano.
“Santo Eusébio de Vercelli nasceu na Sardenha, nos inícios do século IV – observou Bento XVI na sua catequese em espanhol. Tendo-se transferido para Roma, com a sua família, foi mais tarde eleito bispo de Vercelli. Formado solidamente na fé do Concílio de Nicéia, defendeu a plena divindade de Cristo perante a política imperial filo-ariana, sendo por isso desterrado para a Palestina, onde escreveu algumas Cartas à sua Igreja. Logo que foi posto em liberdade, regressou à sua cidade, estabelecendo uma apreciável relação não só com os cristãos, mas com toda a população, fonte de inspiração para outros Bispos.
No exercício do seu ministério episcopal, o seu estilo monástico não diminuiu o seu dinamismo pastoral. Este Santo Pastor diz-nos com a sua vida que a autêntica escala de valores não provém dos Imperadores de ontem ou de hoje, mas sim de Jesus Cristo, igual ao Pai na divindade, sem por isso deixar de ser homem. Por isso, Eusébio recomenda sempre aos seus fiéis: conservar com especial esmero a fé, manter a concórdia e ser assíduos na oração. Também eu vos recomendo de todo o coração estes valores perenes”.
Bento XVI recordou que este Padre, Eusébio, da Igreja do século IV, foi obrigado a partir em exílio, no verão de 356, precisamente para o território da atual Turquia, onde aliás se distinguiu pela sua solicitude de pastor. Dedicou toda a sua vida a defender a fé na divindade de Cristo, perante os arianos. Escreveu um Tratado sobre a Trindade, em que mostra como a Escritura testemunha claramente a divindade do Filho. Noutros livros Hilário interpreta os fatos do Antigo Testamento como prefigurações da vinda de Cristo ao mundo.
O ponto de partida da reflexão de Hilário é a fé em Deus – Pai, Filho e Espírito Santo, recebida no batismo. Deus Pai, que é amor, comunica plenamente a sua divindade ao Filho. Este partilhou a nossa condição humana, de tal modo que só em Cristo, Verbo encarnado, a humanidade encontra a salvação. Assumindo a natureza humana, Ele uniu a si todo o homem. Assim, o caminho para Cristo está aberto a todos, mas requer-se sempre, da nossa parte, a conversão pessoal.
Na conclusão da audiência, Bento XVI lançou “um apelo” para que católicos e ortodoxos possam chegar à plena comunhão. O Papa recordou que “decorre nestes dias em Ravena a décima sessão plenária da Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto, que enfrenta um tema teológico de particular interesse ecumênico: “Conseqüências eclesiológicas e canônicas da natureza sacramental da Igreja – Comunhão eclesial, conciliariedade e autoridade”.
"Peço para vos unirdes à minha oração a fim de que este importante encontro ajude a caminhar para a plena comunhão entre católicos e ortodoxos e se possa em breve chegar a partilhar o mesmo Cálice do Senhor”.
Não faltou uma saudação, na nossa língua, aos peregrinos de língua portuguesa, provenientes, desta vez, especialmente do Brasil:
“Minha saudação cordial vai hoje também aos peregrinos de língua portuguesa, a todos desejando paz e harmonia para as suas famílias e comunidades. De modo especial desejo cumprimentar os portugueses vindos de Aveiro e os brasileiros de Ribeirão Bonito no Estado de São Paulo e os cearenses de Fortaleza.
Faço também uma menção particular aos integrantes da Casa do Menor de Nova Iguaçu do Rio de Janeiro, com os votos de que prossigam nesta árdua, mas entusiasmante, tarefa de formar a juventude, mormente aquela mais abandonada no Brasil. Com a minha Bênção Apostólica.”
