Reconversão de Santa Sofia em mesquita está prevista para a próxima sexta-feira, 24. Igreja Bizantina é utilizada como museu desde 1934
Da Redação, com Vatican News
Continuam na Turquia os preparativos para reconverter em mesquita o Centro Museológico de Santa Sofia. A reabertura como lugar de culto islâmico da antiga igreja bizantina – convertida em mesquita no Séc. XV após a conquista otomana de Constantinopla e transformada em museu em 1934 pelo então presidente Mustafá Kemal Ataturk, será realizada nesta sexta-feira, 24.
No entanto, não cessam os apelos e os protestos no mundo contra a sua reconversão em mesquita querida pelo presidente turco Recep Tayyip Erdoğan. Também importantes expoentes do mundo muçulmano se uniram aos apelos. Entre estes, o Alto Comitê para a Fraternidade Humana, que escreveu uma carta ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
“Reconhecemos o valor cultural e espiritual de Santa Sofia para toda a humanidade e, portanto, apoiamos vosso apelo para evitar as divisões e para promover o respeito e a compreensão recíprocas entre todas as religiões”, afirma a missiva, assinada pelo secretário geral do Alto Comitê para a Fraternidade Humana e consultor especial do Grão-Imame de Al-Azhar, no Egito, Ahmad Al-Tayyb, o jurista islâmico Mohamad Abdel Salam.
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Segundo o Alto Comitê para a Fraternidade Humana, os lugares de culto devem transmitir “uma mensagem de paz e amor por todos” e não ser usados para “contribuir para a segregação e a discriminação, num momento em que o mundo realmente precisa responder ao chamado das religiões a buscar a solidariedade e a reforçar os valores da convivência e da fraternidade humana”.
Nesse sentido, é necessário “evitar toda e qualquer iniciativa que possa minar o diálogo inter-religioso e a comunicação intercultural e criar tensões e ódio entre os seguidores de diferentes religiões” e dar, ao invés, “prioridade aos valores da convivência”, ressalta a carta.
Santa Sofia permaneça sendo o que sempre foi desde 1934
No mesmo tom, uma missiva assinada pelo diretor em Genebra, na Suíça, da Fundação Muçulmana do Conhecimento, Hafid Ouardiri, também cofundador e vice-presidente da Plataforma inter-religiosa na cidade helvécia, expressou pleno apoio à carta endereçada em 11 de julho pelo secretário geral interino do Conselho Mundial de Igrejas, o Rev. Ioan Sauca, ao Presidente Erdoğan:
“Junto a outros muçulmanos no mundo, rezo a fim de que Santa Sofia permaneça sendo aquilo que sempre foi desde 1934: uma intersecção de conhecimentos, luz, sabedoria e paz para toda a humanidade”, escreveu Ouardiri.
Sauca, por sua vez, expressou surpresa e gratidão por todos estes atestados de solidariedade:
“É mais do que jamais poderíamos esperar. Sinto-me feliz e encorajado ao ver estes sinais de apoio e solidariedade expressos por nossos amigos muçulmanos. Demonstra que nosso diálogo é profundo e genuíno e que juntos poderemos realizar o sonho de construir um mundo pacífico em que as pessoas e as religiões se respeitem e se apoiem reciprocamente”, acrescentou o secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, observando que o diálogo inter-religioso “prossegue há quase 50 anos e deve ser ulteriormente aprofundado” enquanto “hoje necessário mais do que nunca”.
Grécia pede auxílio do Papa Francisco
Em telefonema ao Papa Francisco, a presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, afirmou que decisão da Turquia “corrói os fundamentos da tolerância e aprofunda a brecha entre culturas e religiões”.
Na ligação entre o Pontífice e a líder grega – ocorrida em 20 de julho, conforme publicado na rede social da presidente – Sakellaropoulou pediu ao Pontífice que “use a sua influência para advertir a comunidade internacional sobre a conversão de Santa Sofia em mesquita”.
Intelectuais turcos: reconversão é “erro irreparável”
Também três renomados intelectuais turcos, especialistas em teologia e história da Turquia – citados pela agência missionária Fides –, se pronunciaram sobre a iniciativa de Erdoğan.
Nazif Ay, Mehmet Ali Öz e Yusuf Dülger falam de um “erro irreparável”, que destrói a mensagem de reconciliação e de justiça do islã, cujo significado é “paz”.