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Vaticano

Santa Sé fala sobre as novas formas de pecado social

Em entrevista ao jornal L'Osservatore Romano, Mons.Gianfranco Girotti, bispo responsável pela Penitenciária Apostólica da Santa Sé, falou sobre a importância deste Dicastério, pouco conhecido, porém essencial para vida da Igreja.

"Manipulações genéticas; degradação ambiental; desigualdades sociais; injustiça social: eis novas formas de pecado que fazem parte do atual contexto social causado pela globalização", destacou Mons.Gianfranco Girotti na entrevista.

"É um desafio novo também para a Penitenciaria Apostólica que se esforça, ao mesmo tempo, para reafirmar o seu papel em um momento no qual o pecado é banalizado", afirmou o monsenhor.

Confira a íntegra da entrevista:

Nicola Gori – A Penitenciaria Apostólica parece ser um objeto misterioso para a opinião publica, mas também para boa parte dos fiéis?

Mons. Gianfranco Girotti – Mesmo sendo atualmente o mais antigo organismo da Cúria Romana – depois que a Dataria foi suprimida, em 1967 e a Chancelaria, em 1973 – , é pouco conhecido, até mesmo, por grande parte do clero. O motivo pode ser por sua atividade não ser tão visível como a de outros Dicastérios. A Penitenciaria Apostólica, entre os Dicastérios da Cúria Romana, desenvolve, de maneira sempre direta, uma atividade propriamente espiritual e harmônica, com a missão fundamental da Igreja, que consiste na salus animarum. É o órgão universal e exclusivo do pontífice em matéria de Fórum Interno. Que cuida de pecados, censuras, irregularidades, de maneira geral, e situações particulares como, por exemplo, dispensas, liberações e convalidação de atos nulos. Examina e resolve o indício dos casos de consciência que lhes são propostos (aborto, sacrilégios, indulgências plenárias). Resolve dúvidas em matéria moral, jurídica ou quando se trata de circunstâncias particulares.

Nicola Gori – Há sentido, para um órgão como a Penitenciaria, num momento em que existem tantos problemas com o ecumenismo?

Gianfranco Girotti – É difícil colher as razões e os motivos deste suposto mal estar que a Penitenciaria criaria sobre o ecumenismo. Se queremos fazer referências aos erros historiográficos, temos que reconhecer que desde a época do Renascimento não aconteceu uma correta discussão ecumênica. Isto podemos comprovar com a recente e rica documentação de sérios religiosos que fizeram emergir, honestamente, em função deste Dicastério, conhecido como a verdadeira “fonte de graça”, privado de qualquer interesse.

Nicola Gori – A atenção ao pecado parte de uma sensibilidade às exigências da sociedade moderna ou se move sobre a base da referência de um tempo passado?

Gianfranco Girotti – A referência é sempre à relação da aliança com Deus e com os irmãos e os reflexos sociais do pecado. Se, no passado, o pecado tinha uma dimensão demasiadamente individualista, hoje possui uma valência, uma ressonância, além do individualismo, mas sobretudo social por causa do grande fenômeno da globalização. De fato, a atenção ao pecado se apresenta mais urgente hoje do que no passado. Por causa dos seus reflexos quem são mais amplos e mais destrutivos.

Nicola Gori – A Penitenciaria ainda tem alguma utilidade no contexto atual?

Gianfranco Girotti – Sem dúvida. Em uma época, caracterizada pela imagem e pela publicidade, aonde tudo se torna público, um Dicastério, como a Penitenciaria Apostólica, atento ao mundo interior, no seu modo mais delicado e menos visível, no atual cenário da Igreja é, de fato, um instrumento muito precioso.

Nicola Gori – Quais são as questões que atraem em maior parte de sua atenção?

Gianfranco Girotti – São os delitos que, diante de sua gravidade, tem absolvição reservada à Santa Sé: absolvição do próprio cúmplice em pecado contra o 6º mandamento (Cânone 1378); a profanação sacrílega do Santíssimo Sacramento na Eucaristia (Cânone 1387), a violação direta do sigilo sacramental (Cânone 1388, 1); a dispensa da irregularidade ad recipiendos Ordines contraído pelo aborto provocado (Cânone 1041, 4); a dispensa da irregularidade ad exercendos Ordines (Cânone 1044, 1).

Nicola Gori – Como o Dicastério interpreta a surpresa que a opinião pública enfrenta diante de tantas situações de escândalo e de pecado na Igreja?

Gianfranco Girotti – Não se pode substimar a objetiva gravidade de uma série de fenômenos que, recentemente, foram denunciados e que trazem consigo as faces da fragilidade humana e institucional da Igreja; sobre isso não se pode não constatar como a Igreja preocupada com grave dano produzido. Ela reagiu e continua reagindo com rigorosas intervenções e iniciativas para zelar por sua própria imagem, para o bem do povo de Deus. Devemos, entretanto, denunciar a enfatização dada pela opinião pública, através dos meios de comunicação, que leva a Igreja a ter descrédito.

Nicola Gori – Às vezes a indulgência da Igreja e o perdão cristão não são compreendidos pelas pessoas. Segundo vossa Excelência, porque isso acontece?

Gianfranco Girotti – Onde parece que a penitência é acolhida com abertura de si mesma ao outro na solução dos problemas que se impõe uma atenção em tal âmbito social no qual, se exprime a própria existência, oferecendo a própria contribuição de esclarecimento e de sustento à quem está em dificuldade. A penitência, portanto, hoje vem acolhida com predominantemente, na dimensão social, no momento em que as relações sociais se enfraqueceram e ao mesmo tempo se complicaram por causa da globalização.

Nicola Gori – Quais são os novos pecados, segundo Vossa Excelência, e quais são as áreas nas quais, hoje, colhemos comportamentos pecaminosos no que diz respeito aos direitos individuais e sociais?

Gianfranco Girotti – Antes de tudo, na área da bioética, aonde não podemos deixar de denunciar algumas violações nos direitos fundamentais da natureza humana através de experimentos, manipulações genéticas.

A área das drogas também é social. Ela enfraquece a psique e se obscura a inteligência deixando muitos jovens fora do circuito eclesial. Outro exemplo se encontra na realidade econômica aonde os mais pobres se tornam sempre mais pobres e os ricos, sempre mais ricos, alimentando uma insustentável injustiça social. Exemplifico, ainda, a área da ecologia que possui, hoje, um relevante interesse.

Nicola Gori – Uma freqüente procura das indulgências não incentiva uma mentalidade mágica diante da culpa e da pena?

Gianfranco Girotti – Para não cair numa perigosa e falsa prisão penso, antes de tudo, que seja absolutamente necessário conhecer e compreender a reta doutrina da prática das indulgências, entendida pela Igreja, como expressão significativa da misericórdia de Deus. As indulgências vêm ao encontro de seus filhos para ajudá-los a pagar as penas de seus pecados, mas, sobretudo, para impulsionar a um maior fervor na caridade.

A Igreja é movida, em primeiro lugar, pelo desejo de educar. Mais do que pela repetição de fórmulas ou práticas, com espírito de oração, penitência e exercício das virtudes teologais: fé, esperança e caridade.

A reforma do Servo de Deus Paulo VI, feita com a Constituição Apostólica Indulgentiarum doctrina, em 1º de janeiro de 1967, eliminou qualquer coisa que induzisse os fiéis a uma mentalidade mágica. Tal doutrina expõe claramente os pressupostos teológicos das indulgências, da comunhão dos santos e do tesouro da Igreja, consistente nas extensões e nos métodos de Cristo, da Bem Aventurada Virgem Maria e dos Santos que são colocados à disposição dos fiéis. As indulgências, de fato, não podem ser adquiridas sem uma sincera conversão e união com Deus, a quem está o pleno rompimento das obras prescritas.

Nicola Gori – Não parece que as condições para ter indulgências sejam leves?

Gianfranco Girotti – Se juntamente às condições impostas – confissão sacramental, não mais do que há 15 dias antes ou depois da indulgência, comunhão eucarística e oração segundo as orações do pontífice – pensemos que para adquirir a indulgência também é pedido um grau de pureza e sinais de ardente caridade, coisas difíceis à nossa fragilidade, então diria que aquilo que está estabelecido não é de se minimizar.

Nicola Gori – Existem pecados que vocês não podem absolver?

A Penitenciaria é a longamanos do Papa no exercício da potestas clavium. Portanto, para realizar as funções que possuem possui todas as faculdades necessárias, com exceção ao que o próprio Pontífice tenha declarado ao Cardeal Penitenciário, para absolver.

Nicola Gori – Sobre o aborto. Existe a sensação difundida de que a Igreja não tem em consideração a difícil situação das mães?

Gianfranco Girotti – Me parece que não é levado em conta comportamento da Igreja que se manifesta constantemente por um desejo de salvaguardar e tutelar pela dignidade e direitos da mulher. São, de fato, muitas as iniciativas católicas e movimentos eclesiais com empenho corajoso e comovente para promover e, até mesmo, contrastar, as atuais tendências sociais e culturais contra a mulher, ajudando, de maneira eficaz, às mães solteiras a trabalharem e a educarem seus filhos e facilitando a adoção.

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