O tráfico de seres humanos é um dos fenômenos mais vergonhosos de nossa época, denunciou a Santa Sé.
O arcebispo Agostino Marchetto, secretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, interveio na quarta-feira no foro contra o tráfico de seres humanos convocado pelo Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Delito (UNODD), que se celebra em Viena de 13 a 15 de fevereiro.
“A Santa Sé”, disse o representante do Papa, “valoriza e impulsiona os esforços empreendidos em vários âmbitos para combater o tráfico de seres humanos, que é um problema multidimensional e um dos fenômenos mais vergonhosos de nossa era”.
O prelado destacou, segundo recolhe a crônica da Rádio Vaticano, o perigo real sofrido pelas numerosas pessoas que, ante a pobreza, assim como a falta de oportunidades e de coesão social, se vêem impulsionadas a deixar seus países de origem, buscando um futuro melhor.
Sem esquecer que também há outros fatores que contribuem para estender este crime, como os conflitos armados, a ausência de regras específicas e de estruturas sócio-culturais em alguns países, assim como a falta de conhecimento de seus próprios direitos por parte das próprias vítimas, Dom Marchetto enfatizou que a Santa Sé alenta todas as iniciativas justas que contribuem para suprimir este fenômeno imoral e criminoso e para promover a recuperação e o bem-estar das vítimas.
A Santa Sé acompanhou constantemente a gravidade do tráfico de seres humanos, recordou Dom Marchetto, evocando o Papa Paulo VI que, em 1970, estabeleceu a Comissão Pontifícia – hoje Conselho – para o cuidado da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, dedicando-se com especial esmero às vítimas deste crime, que são “os escravos da época moderna”.
Nesta mesma perspectiva, este dicastério pontifício organizou dois Congressos Mundiais. O primeiro, para a libertação das mulheres de rua e, o segundo, para as crianças de rua, informou.
Desta forma, a Santa Sé indica sem cessar que todos os esforços para enfrentar as atividades criminosas relacionadas com este flagelo devem centrar-se nos direitos humanos e dirigir-se também aos que protagonizam a demanda da exploração sexual, afirmou o prelado.
Aos homens – jovens e adultos – aos maridos e aos pais, para intervir nas razões que motivam o mau trato e a falta de respeito das mulheres.
Entre as atividades concretas impulsionadas pela Igreja Católica, Marchetto recordou as que numerosos bispos e conferências episcopais realizaram, citando alguns exemplos como Espanha, Nigéria e Irlanda. Atividades que envolveram também a ação direta de organizações e instituições católicas, que assistem as vítimas. Escutam-nas, dão-lhes ajuda material, inclusive a forma de escapar de quem as escraviza por meio da violência sexual, criando lares de acolhida, promovendo os passos necessários para a re-inserção na sociedade e patrocinando a prevenção.
Dom Marchetto apresentou também a decidida atividade da Igreja Católica naqueles países que sofrem violentos conflitos, como a República Democrática do Congo, a Serra Leoa e a Libéria, para salvar as crianças-soldado, que também acabam sendo vendidas.
São numerosas as ações da Igreja Católica, graças também às iniciativas que as congregações religiosas impulsionam em favor destes menores.
Trata-se não só de salvá-los de semelhantes horrores, mas também de curar suas feridas físicas e emocionais e de sustentar as famílias e comunidades. Admitindo que não existem soluções fáceis, a Santa Sé sublinha a importância de tutelar as vítimas do tráfico de seres humanos, de estabelecer penas justas para castigar este crime e de promover medidas preventivas. A prevenção abarca o conhecimento também das causas deste horrível fenômeno, inclusive a situação macroeconômica, afirmou.
No que se refere à ajuda que se deve outorgar às vítimas, o Arcebispo Marchetto insistiu nos cuidados médicos e psicológicos, assim como nas permissões de residência e de emprego que facilitam sua re-inserção social.
Recomendando desta forma que, quando se ajuda as pessoas a voltarem para seus países de origem, é indispensável que se acompanhe esta ajuda com projetos e micro-créditos, que poderiam se financiar com a confiscação dos bens dos próprios traficantes.
Como conclusão, Dom Marchetto citou as palavras de Bento XVI em sua encíclica Spe Salvi: “A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana”.