Frei Raniero Cantalamessa fez a homilia da Celebração da Paixão do Senhor na Basílica de São Pedro, no Vaticano
Denise Claro
Da redação
O Papa Francisco presidiu na tarde desta Sexta-feira Santa, 30, na Basílica de São Pedro, a celebração da Paixão do Senhor. A homilia da cerimônia, intitulada “Quem viu dá testemunho”, foi feita pelo pregador da Casa Pontifícia, frei Raniero Cantalamessa.
Logo no início, Frei Raniero falou sobre João, o discípulo amado, que desde muito jovem seguiu a Jesus, e o testemunhou.
“Ele “viu” não apenas o que acontecia sob o olhar de todos. À luz do Espírito Santo, depois da Páscoa, ele também viu o sentido do que acontecera: que naquele momento estava sendo imolado o verdadeiro Cordeiro de Deus e era realizado o sentido da Páscoa antiga; que Cristo na cruz era o novo templo de Deus, de cujo lado, como o profeta Ezequiel predisse (47, 1 ss.), jorra a água da vida; que o espírito que ele emite no momento da morte dá início à nova criação, como “o espírito de Deus”, pairando sobre as águas, tinha transformado no princípio o caos no cosmos. João entendeu o significado das últimas palavras de Jesus: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30).”
Sínodo dos Jovens
Frei Cantalamessa lembrou que no ano em que a Igreja celebra um sínodo sobre os jovens e quer colocá-los no centro da sua preocupação pastoral, a presença no Calvário do discípulo a quem Jesus amava contém uma mensagem especial.
“Temos todos os motivos para acreditar que João aderiu a Jesus quando ainda era muito jovem. Foi uma verdadeira paixão. Todo o resto deixou, de repente, de ter importância. Foi um encontro “pessoal”, existencial. Se no centro do pensamento de Paulo está a obra de Jesus, o seu mistério pascal de morte e ressurreição, no centro do pensamento de João está o ser, a pessoa de Jesus.”
O sacerdote lembrou que mais do que ninguém, Jesus tem respostas para os jovens de hoje e de todos os tempos, e convidou a todos a renovar seu encontro pessoal com o Cristo:
“Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito” (Evangelli Gaudium, n º 3). Encontrar-se pessoalmente com Cristo é possível também hoje porque ele ressuscitou; é uma pessoa viva, não um personagem. Tudo é possível depois deste encontro pessoal; nada mudará realmente na vida sem isto.”
O pregador da Casa Pontifícia lembrou que devemos lutar contra o mundo e ir ao encontro de Deus.
“Um grande poeta crente do século passado, T.S. Eliot, escreveu três versos que dizem mais do que livros inteiros: “Em um mundo de fugitivos, a pessoa que toma a direção oposta parecerá um desertor.” Queridos jovens cristãos, se é permitido a um ancião como João dirigir-se diretamente a vocês, eu lhes exorto: sejam daqueles que tomam a direção oposta! Atrevam-se a nadar contra a corrente! A direção oposta, para nós, não é um lugar, é uma pessoa, é Jesus nosso amigo e redentor.”
Amor de Deus
E disse que uma tarefa, especialmente, lhes é confiada: salvar o amor humano da deriva trágica na qual acabou: o amor que não é mais dom de si, mas somente possessão – muitas vezes violenta e tirânica – do outro. Na cruz, Deus se revelou como ágape, o amor que se doa.
“O ágape nunca se separou do eros, do amor de busca, do desejo e da alegria de ser amado novamente. Deus não nos faz somente a “caridade” de amar-nos; nos deseja, em toda a Bíblia se revela como o esposo apaixonado e ciumento. Também o seu é um amor “erótico”, no sentido nobre deste termo. É o que explicou Bento XVI na encíclica “Deus caritas est” .
Eros e ágape, – amor ascendente e amor descendente – nunca se deixam separar completamente um do outro:
“Não se trata, portanto, de renunciar às alegrias do amor, da atração e do eros, mas de saber unir o ágape com o eros, o desejo do outro, a capacidade de se doar ao outro, recordando o que São Paulo comenta como uma fala de Jesus: “Há mais alegria em dar do que em receber”.
E finalizou:
“Jesus na cruz não nos deu apenas o exemplo de um amor de doação levado ao extremo; ele nos mereceu a graça de podê-lo atuar, em pequena parte, na nossa vida. A água e o sangue jorrados do seu lado chegam a nós hoje nos sacramentos da Igreja, na Palavra, até só olhando com fé o Crucifixo. Uma última coisa João viu profeticamente sob a cruz: homens e mulheres de todos os tempos e de todos os lugares que olhavam para “aquele que foi transpassado” e choravam de arrependimento e consolo. A eles nos unimos também nós nos gestos litúrgicos que daqui a pouco se seguirão.”