Em 28 de junho de 1964, L'Osservatore della Domenica [antigo nome de L'Osservatore Romano] publicou o depoimento do então reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana – após 1966, confessor de Paulo VI e de João Paulo I e, em 1991, feito cardeal por João Paulo II -, que descrevia o conteúdo de uma audiência altamente confidencial concedida por Pio XII. O testemunho de uma conversa privada de 1942 entre Pacelli e o jesuíta que, naquele ano, pregou os exercícios espirituais
L'Osservatore Romano – Edizione Quotidiana em italiano – Terça-feira, 02 de fevereiro de 2010
por Paolo Dezza
Em dezembro de 1942, preguei os exercícios espirituais para o Santo Padre no Vaticano. Naquela ocasião, tive uma longa audiência na qual o Papa, falando-me das atrocidades nazistas na Alemanha e nos outros países ocupados, expressou a sua dor, sua angústia porque – me dizia – "reclamam que o Papa não fala. Mas o Papa não pode falar. Se falasse seria pior". Ele me recordou de ter enviado recentemente três cartas, uma a quem ele chamou de "heróico Arcebispo de Cracóvia", o futuro Cardeal Sapeha, e as outras a dois bispos da Polônia, em que lamentava as atrocidades nazistas. "Eles me responderam – me disse o Papa – agradecendo-me, mas afirmando que eles não podem publicar aquelas cartas porque agravariam a situação". Ele citou o exemplo de Pio X, em face à opressão na Rússia: "Deve-se manter a calma para evitar males maiores".
E também nesta ocasião fica muito clara a falsidade daqueles que afirmam que ele não disse nada por desejar o apoio dos nazistas contra os russos e o comunismo; lembro do que ele me disse: "Sim, a ameaça comunista está lá, mas agora a ameaça nazista é mais grave". E me falou sobre o que os nazistas iriam fazer em caso de vitória. Recordo desta frase: "Eles querem destruir a Igreja e esmagá-la como um sapo. Para o Papa, não haverá lugar na nova Europa. Dizem para que eu vá para a América. Mas eu não estou com medo e ficarei aqui". Ele disse isso com muita firmeza e segurança, tornando-se claro que, se o Papa permaneceu em silêncio, não foi por medo ou interesse, mas unicamente devido ao temor de agravar a situação dos oprimidos. Enquanto me falava sobre a ameaça de invasão do Vaticano, permaneceu absolutamente tranquilo, segura, confiante na Providência. "Se eu falar – pensava – farei um mal maior".
Portanto, mesmo que historicamente se possa discutir se seria melhor falar mais ou falar mais alto, é indiscutível que, se o Papa Pio XII não falou mais forte, foi unicamente por esta razão, e não por medo ou outros interesses.
Outra coisa que me impressionou naquele colóquio foi que ele me falou de tudo o que tinha feito e estava fazendo em favor daqueles oprimidos. Recordo-me que falou do primeiro contato que já havia tentado com Hitler assim que se tornou Papa, através de um cardeal alemão, mas sem resultados, bem como da conversa com Ribbentrop quando veio a Roma, também sem frutos. De qualquer modo, ele continuou a fazer o que estava ao seu alcance, sempre com a preocupação de não entrar em questões políticas ou militar, mas se manter no que era a missão da Santa Sé. A este respeito, lembro que, quando em 1943 veio o domínio alemão em Roma – eu era reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana e acolhi aqueles que vieram buscar refúgio -, Pio XII disse: "Padre, evite acolher os militares, porque, sendo a Gregoriana algo pontifício e vinculado à Santa Sé, nos devemos manter distantes dessa parte. Mas acolha todos os outros: civis, judeus perseguidos". De fato, eu acolhi a vários.
Sobre o que o Papa havia feito pelos judeus, entre os muitos exemplos está o de Zolli, que era o Grão Rabino de Roma e que, durante a ocupação nazista, foi refugiado por uma família de trabalhadores. Então, passado o perigo e com a vinda dos Aliados, ele se converteu, tornou-se um católico, com uma conversão sincera e desinteressada. Eu me recordo de ele ter me visitado em 15 de agosto de 1944, expondo a sua intenção de se tornar um católico. "Olhe – me disse – não é uma questão de olho por olho. Peço a água do Batismo e é isso. Os nazistas me tiraram tudo. Sou pobre, viverei pobre e morrerei pobre, não me importo." E quando foi batizado, escolheu o nome de Eugenio, justamente por gratidão ao Papa Eugenio Pacelli, devido a tudo que fez na assistência aos judeus – Eu mesmo o acompanhei em audiência com o Papa após o Batismo, em fevereiro, e foi quando Zolli pediu para que o Papa removesse da liturgia aquelas expressões desfavoráveis aos judeus, como "perfidis iudaeis". Foi então que Pio XII, como não podia mudar imediatamente a liturgia, publicou a declaração de que "perfidi" em latim significa "infiel". No entanto, assim que foi possível, com a reforma da liturgia, a palavra foi removida.
Pio XII queria estar seguro de não dizer nada que pudesse provocar reações que agravassem a situação. Eu elaborei duas questões. Uma delas é: fez bem guardar silêncio ou teria sido melhor falar? Isto, para mim, é uma pergunta que se pode discutir historicamente. Talvez Pio XI, outro personagem, poderia ter agido de forma diferente. Mas o que para mim está claro é que, se Pio XII foi silencioso ou falou pouco, não foi por outro motivo se não o temor de piorar a situação. Objetivamente, pode-se argumentar; subjetivamente, não há dúvida sobre a intenção do Papa: ele realmente tentou fazer aquilo que fosse o melhor.
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