L'Osservatore Romano – Edizione Quotidiana em italiano – Quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
por Bernard-Henri LévyDeve-se parar com a má-fé, o preconceito e, verdade seja dita, a desinformação quando se trata de Bento XVI. Logo após sua eleição, se tentou um processo com relação a seu "ultraconservadorismo", retomado continuamente pelos meios de comunicação (como se um Papa pudesse ser outra coisa que não "conservador"). Insistiu-se de modo implicante, para não dizer com "batidas pesadas", no "Papa alemão", sobre o "pós-nazista" de batina, a tal ponto de uma transmissão satírica no jornal francês "Les Guignols", que não hesitava em lhe apelidar como "Adolf II".
São forjados, pura e simplesmente, os textos. Por exemplo, a propósito da viagem papal a Auschwitz, em 2006, se sustenta e – uma vez que ao longo do tempo as memórias ficam mais incertas – ainda se repete que teria honrado a memória dos seis milhões de poloneses mortos, vítimas de um simples "bando de criminosos", sem precisar que a metade deles eram judeus (a mentira é verdadeiramente espantosa, pois Bento XVI, naquela ocasião, falou efetivamente sobre os "poderosos do Terceiro Reich" que tentaram "eliminar o "povo judeu" do "leque de nações da Terra" – Le Monde, 30 de Maio de 2006).
Por ocasião da visita do Papa à Sinagoga em Roma e depois de suas duas visitas às sinagogas de Colônia e Nova Iorque, o mesmo coro de desinformação estabeleceu um recorde, diria que alcançaram a palma da vitória, pois nem sequer esperaram que o Papa atravessasse o Rio Tibre para anunciar, a cidade e ao mundo, que ele teria sido incapaz de encontrar as palavras que gostaria de dizer, nem fez o gestos que gostaria de fazer e que teria falhado em sua tentativa…
Assim, dado que o evento ainda é recente, eu me permitiria colocar alguns pontos em destaque. Bento XVI, quando se recolheu em oração diante da coroa de rosas vermelhas colocadas em frente à placa em memória do martírio dos 1021 judeus romanos deportados, não fez algo que fosse de seu dever, mas fez. Bento XVI, quando prestou homenagem às "faces" de "homens, mulheres e crianças", fez um relato sobre o projeto de "extermínio do povo da Aliança de Moisés", disse uma evidência, mas a disse. Bento XVI, que retoma, palavra por palavra, os termos da oração de João Paulo II, dita dez anos atrás, no Muro das Lamentações; Bento XVI, que pediu "perdão" ao povo judeu pela fúria devastada de um anti-semitismo por um longo tempo de essência católica e assim, mais uma vez, leu o texto de João Paulo II. É preciso parar de repetir, como burros, que ele está em oposição a seus predecessores.
Bento XVI que declara enfim, após uma segunda parada em frente à inscrição que lembra o atentado à bomba cometido em 1982 por extremistas palestinos, que o diálogo católico-judeu, iniciado pelo Concílio Vaticano II, é "irreversível"; Bento XVI, que anuncia ter a intenção de "aprofundar" o "debate entre iguais", que é o debate com os "irmãos mais velhos", que são judeus. É possível fazer todos os processos que se deseja, mas não o de "congelar" os progressos obtidos por João XXIII.
Quanto à história muito complexa de Pio XII, voltarei, se necessário. Voltarei ao caso de Rolf Hochhuth, autor do famoso "O Vigário", que lançou, em 1963, a polêmica em torno dos "silêncios de Pio XII". Em particular, voltarei ao fato de que o justiceiro em foco é também um negador do Holocausto, repetidamente condenado como tal e cuja última provocação, cinco anos atrás, foi de sair em defesa, em uma entrevista ao semanal jornal de extrema-direita "Junge Freiheit", daquele que nega a existência de câmaras de gás, David Irving. Por hora, é justo recordar, como fez Laurent Dispot na revista que editou, "La règle du jeu" que o "terrível" Pio XII, em 1937, quando ainda era apenas o Cardeal Pacelli, foi o coautor, com Pio XI, da Encíclica Mit brennender Sorge ("Com profunda preocupação"), que ainda hoje continua a ser uma das manifestações anti-nazistas mais claras e eloquentes.
Por hora, devemos, pela exatidão histórica, precisar que, antes de optar pela ação clandestina, antes de abrir, sem divulgar, os conventos aos judeus romanos perseguidos pelos fascistas, o "silencioso" Pio XII pronunciou algumas alocuções radiofônicas (por exemplo, nos Natais de 1941 e 1942) que tiveram, após sua morte, a homenagem de Golda Meir [uma das fundadoras do Estado de Israel]: "Durante os dez anos do terror nazista, enquanto nosso povo sofria um terrível martírio, a voz do Papa levantou-se para condenar os carrascos".
Muitos ficam surpreendidos com o silêncio ensurdecedor que se propagou no mundo inteiro na época do Holocausto, e colocam todo esse peso, ou quase todo, sobre os soberanos daquela época: a) não havia armas de fogo ou canhões disponíveis; b) não se pouparam esforços para partilhar, com aqueles que dispunham de aviões e armas, a informação de que se tinha conhecimento; c) salvaram em primeira pessoa, tanto em Roma quanto em outros lugares, um grandíssimo número daqueles pelos quais tinham responsabilidade moral.
Últimos retoques ao Grande Livro da mesquinharia contemporânea; Pio ou Bento, que podem ser Papas e bodes expiatórios.
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