Dia da Alfabetização

Professores comentam desafios e alegrias no processo de alfabetização

Dia Mundial da Alfabetização é comemorado nesta terça-feira, 8

Denise Claro
Da redação

Dia Mundial da Alfabetização é comemorado nesta terça, 8./ Foto: Denise Claro

Nesta terça-feira, 8, é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização, criado, em 1967, pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio da UNESCO. A data tem como objetivo ressaltar a importância da alfabetização.

Segundo a Unesco, a alfabetização é um processo de aquisição de habilidades cognitivas básicas (leitura e escrita) responsáveis por contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da capacidade de conscientização social e da reflexão crítica como base de mudança pessoal e social.

No Brasil, reduzir a taxa de analfabetismo está entre as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação. Pela lei, em 2015, o Brasil deveria ter atingido a marca de 6,5% de analfabetos entre a população de 15 anos ou mais. Em 2024, essa taxa deverá chegar a zero.

A taxa de analfabetismo no Brasil passou de 6,8%, em 2018, para 6,6%, em 2019, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação, divulgada em julho deste ano. Apesar da queda, há um pequeno atraso, e o país ainda tem 11 milhões de analfabetos. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples. 

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Alfabetização

Suellen Gongora é professora de alfabetização infantil./ Foto: Arquivo Pessoal

A professora Suellen Gongora, que atua na alfabetização infantil, explica que o processo se inicia assim que a criança tem contato com os códigos, que são as letras.

“A partir daí, elas chegam ao letramento, que é a junção desses códigos, dando sentido, compreendendo cada um desses códigos, o que está sendo lido e escrito.”

Para ela, que atua com as crianças, o maior desafio é alfabetizar a todos na idade adequada. “Cada criança tem o seu tempo, e muitas vezes o que pode ser fácil ou adequado para uma criança pode se tornar algo muito difícil para outra. Mas, por mais desafiador que seja, não é impossível se fizermos adequações corretas e necessárias. Com quem tem mais dificuldade, o trabalho tem que ser diferenciado, para que ela não se atrase e consiga acompanhar a turma.”

No período de pandemia, os professores e as escolas tiveram que se adaptar, pegando a todos de surpresa, e os desafios aumentaram ainda mais. Apesar disso, a profissional diz que está sendo uma boa experiência, já que o uso das plataformas e a parceria dos pais e familiares têm acontecido de forma satisfatória.

“Ninguém estava preparado para virar youtuber, editor de vídeo, mas tivemos que entrar nesse processo de aulas on-line para não deixar as crianças sem aulas. Começamos com os vídeos e aulas ao vivo. Aqui em casa, preparei um ambiente como se fosse nossa sala de aula, com um quadro, jogos que pudessem ser feitos à distância, músicas, e atividades escritas no caderno e apostila. Conseguimos explorar bastante os recursos tecnológicos, e os pais têm sido peças fundamentais nesse processo, é realmente uma parceria.”

Apesar dos desafios, a satisfação em ver as crianças aprendendo a ler e a escrever é maior. “Sou apaixonada tanto pelo processo de pré-alfabetização quanto pela alfabetização em si, porque cada fase, cada sílaba aprendida, cada palavra que é lida, faz com que eu transborde de alegria. Quando vejo um aluno que não sabia ler e escrever, lendo e escrevendo com autonomia, a alegria é simplesmente imensurável.”

Alfabetização de Adultos

Professora Danielle Pedra atua na Educação de Jovens e Adultos (EJA)./ Foto: Arquivo Pessoal.

O analfabetismo funcional também é muito grande no Brasil. Em cada dez adultos no país três não conseguem escrever e ler corretamente, interpretar textos simples ou fazer contas.

A professora Danielle Pedra atua na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e explica que a alfabetização nesta faixa etária acontece mais lentamente do que a das crianças.

“O adulto já chega na escola cansado do trabalho, com toda uma história de cansaço, de carga, de vida. Geralmente, não estudou quando criança porque tinha que trabalhar, são pessoas que tiveram uma história difícil. Outros têm problemas de comunicação e cognitivos. Por isso tem que ser uma alfabetização a partir do que eles vivenciam. Contextualiza-se tudo, de acordo com a vivência do aluno, da comunidade, dentro da realidade própria dele.”

Danielle lembra que algo a ser muito trabalhado nesses alunos é a autoestima. Os desafios são muito maiores para estes que têm trabalho, casa, família. Neste contexto, cabe ao professor literalmente “segurar na mão deste aluno”, e estimulá-lo a continuar, não faltar, e não desistir.

“A maior alegria é quando vejo meus alunos conseguindo ler os rótulos dos produtos no supermercado, e quando o aluno diz emocionado: ‘Professora, eu não pergunto mais ‘Aquele ônibus vai pra onde?’, eu já consigo ler CENTRO.'” Quando o aluno já começa a tomar iniciativa e ter autonomia para fazer compras, conferir o troco e conseguir se locomover sem ter medo de não conseguir voltar para a sua casa… quando passa a entender um mapa, a ordem alfabética, e vai para uma fila de INSS e já entende que está perto do nome dele, tudo isso são coisas que pensamos ser pequeno, mas é muito importante e não tem preço.”

Somado ao trabalho e dedicação do professor, o esforço dos alunos pode levá-los a alcançar sonhos e seus objetivos, que antes pareciam impossíveis.

“Tive alunos que hoje conseguiram se formar. Saber que eu alfabetizei adultos que hoje são professores, ou estão em curso técnico é maravilhoso. Há pouco tempo passaram por mim, ajudei a ler, a contar no dedinho, e hoje vê-los formados, com uma profissão e realizados, é muito gratificante.”

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