Tiago Varanda contará com adaptação da liturgia em braille e ajuda nos primeiros tempos do sacerdócio
Da redação, com Agência Ecclesia
Tiago Varanda, seminarista na arquidiocese de Braga, vai ser ordenado sacerdote neste domingo, 14, e distingue-se dos seus colegas porque vai ser o primeiro padre a ser ordenado cego em Portugal. “Acho que vou fazer um ministério como qualquer outro sacerdote, naquilo que me couber, naturalmente. Vou ser mais um entre tantos aqui na diocese, procurarei colaborar com o que o senhor arcebispo me pedir e com aquilo que as pessoas precisarem e for necessário e me pedirem”, explicou o futuro sacerdote.
O seminarista de 35 anos nasceu com um glaucoma congênito e perdeu a visão progressivamente. Aos 16 anos, Thiago já dependia de Micha, a cadela-guia que o acompanhava – agora é Ibiza, a sua companhia, e que encontra nas sacristias um lugar especial para permanecer durante as celebrações litúrgicas em que participa.
Antes de entrar no seminário, Tiago frequentou o curso de História e começou a dar aulas em várias escolas, foi neste percurso que a questão vocacional surgiu e, “aos poucos”, foi percebido o chamado ao sacerdócio. Ao longo de uma preparação de sete anos, o seminarista contou que foi perdendo os receios. Sem rodeios afirma que não dependeu apenas da sua vontade. “Foi bastante exigente, e sei que não o conseguiria sozinho”, destacou Thiago ao falar da equipe formadora e a ajuda dos colegas no seminário.
A preparação da missa de ordenação e da primeira missa do novo padre, não difere muito da preparação dos restantes futuros padres, com exceção da liturgia que será em braille. Sobre o seu ministério, Tiago Varanda acredita que será “um entre tantos outros” e que com o tempo as pessoas irão se acostumar.
“Claro que, exteriormente, é diferente, as pessoas criam uma certa expectativa, podem no primeiro tempo admirar, sei lá, achar surpreendente. Mas, com o tempo, creio que isso se tornará normal e natural”, revelou o futuro padre. Além da liturgia em braile, Thiago contará com a ajuda de mais pessoas junto no altar, para “pegar no cálice e na patena” e prestar alguma orientação.
Ao longo do tempo no seminário, o futuro sacerdote afirma ter crescido muito, tendo despertado para a vivência comunitária, para a importante relação com as pessoas mas também o dever de escutar. “A questão da escuta, saber escutar as pessoas. Acho que é das coisas mais maravilhosas que levo daqui, posso dizer que aprendi a escutar no seminário. Acho que isso vai ser um grande instrumento para a minha vida sacerdotal”, sublinha.
A contínua formação é um dos seus desejos para que possa “enfrentar um mundo muito complexo”. “Se não estamos permanentemente a escutar o mundo e a ler para perceber o que se passa à nossa volta, definhamos e fechamo-nos no nosso mundo e deixamos de ter capacidade de dialogar”, indica.
A poucos dias da sua ordenação Tiago assume a sua satisfação de “missão cumprida”, e por ter conseguido dar passos que o levaram a este ponto, com capacidade para mostrar a sua “relação com Deus” e a poder levar às pessoas. “A realidade não é sempre como sonhamos mas é possível sempre fazer algo mais que seja bonito, belo e verdadeiro pelas pessoas. Aquilo que eu já vivi ajuda-me a perceber que haverá dificuldades, que haverá desafios a enfrentar que não devem ser encarados como problemas”, finaliza.