Encontro Mundial da Família

Pregador do Papa: cristãos devem redescobrir beleza do matrimônio

O Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, assegurou ontem, 14, que os próprios cristãos "precisam redescobrir o ideal bíblico do matrimônio e da família", para poder propô-lo ao mundo de hoje.

Na conferência inaugural do Congresso Teológico Pastoral, o Pe. Cantalamessa indicou que não se deve apenas defender a idéia cristã de matrimônio e família, mas o mais importante é "a tarefa de redescobri-lo e vivê-lo em plenitude por parte dos cristãos, de maneira que se volte a propô-lo ao mundo com os fatos, mais que com as palavras".

O sacerdote dedicou sua intervenção, no primeiro dia do Congresso Teológico Pastoral do VI Encontro Mundial da Família, para explicar que durante séculos, o próprio pensamento cristão deixou em segundo plano, frente à visão institucional, o significado esponsal do matrimônio, presente com força na Bíblia.

No fundo das atuais propostas "inaceitáveis" de "desconstrução relativista" da família tradicional, há uma "instância positiva" que é preciso acolher, e é a revisão da visão do matrimônio como união e doação entre os cônjuges.

"Mas esta crítica se orienta no sentido originário da Bíblia, não contra ela", advertiu o sacerdote capuchinho. "O Concílio Vaticano II recebeu esta instância quando reconheceu como bem igualmente primário do matrimônio o amor mútuo e a ajuda entre os cônjuges".

"Inclusive casais crentes tampouco chegam a reencontrar, às vezes mais que os outros, essa riqueza de significado inicial da união sexual por causa da idéia de concupscência e de pecado original associada a tal ato durante séculos."

É necessário redescobrir a união sexual como imagem do amor de Deus, explicou o Pe. Cantalamessa.

"Duas pessoas que se amam, e o caso do homem e da mulher no matrimônio é o mais forte, reproduzem algo do que ocorre na Trindade – explicou. Nesta luz se descobre o sentido profundo da mensagem dos profetas acerca do matrimônio humano, que portanto é símbolo e reflexo de outro amor, o de Deus por seu povo."

Isso supõe "revelar o verdadeiro rosto e o objetivo último da criação do homem e da mulher: o de sair do próprio isolamento e 'egoísmo', abrir-se ao outro e, através do êxtase temporal da união carnal, elevar-se ao desejo do amor e da alegria sem fim".

O pregador pontifício assinalou, neste sentido, a acolhida "insolitamente positiva" que teve em todo o mundo a encíclica Deus caritas est, que insiste nesta visão do amor humano como reflexo do amor de Deus.

Outra questão, acrescentou, "é a igual dignidade da mulher no matrimônio. Como vimos, está no próprio coração do projeto originário de Deus e do pensamento de Cristo, mas quase sempre foi desatendida".

Não rebater, mas propor

O Pe. Cantalamessa explicou que diante da atual situação de "rejeição aparentemente global do projeto bíblico sobre sexualidade, matrimônio e família", é necessário "evitar o erro de passar todo o tempo rebatendo as teorias contrárias".

A estratégia não é "combater ao mundo", mas "dialogar com ele, tirando proveito até das críticas de quem a combate", afirmou.

Outro erro que se deve evitar é "dirigir tudo para leis do Estado para defender os valores cristãos".

"Os primeiros cristãos mudaram as leis do Estado com seus costumes; não podemos esperar hoje mudar os costumes com as leis do Estado", admitiu.

Com relação à atual "deconstrução da família", ou "gender revolution", o sacerdote explicou que tem uma certa analogia com o marxismo, e recordou que frente a este, a reação da Igreja foi "aplicar o antigo método paulino de examinar tudo e ficar com o que é bom", desenvolvendo "uma doutrina social própria".

"Precisamente a escolha do diálogo e da auto-crítica nos dá direito a denunciar os projetos desencaixados do gender revolution como inumano, ou seja, contrários não só à vontade de Deus, mas também ao bem da humanidade", acrescentou.

"Nossa única esperança é que o senso comum das pessoas, unido ao 'desejo' do outro sexo, à necessidade de maternidade e de paternidade que Deus inscreveu na natureza humana, resistam a estes intentos de substituir Deus, ditados mais por atrasados sentimentos de culpa do homem que por um genuíno respeito e amor pela mulher", concluiu o Pe. Cantalamessa.

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