No próximo domingo, os venezuelanos vão às urnas para decidir em plebiscito se aceitam ou não a reforma constitucional apresentada pelo presidente Hugo Chávez. Contrários às mudanças, os bispos da Venezuela têm sido criticados por afirmarem que a proposta do governo é "desnecessária, moralmente inaceitável e inconveniente para o país".
O secretário-geral da Conferência Episcopal Venezuelana, Dom Ramón José Viloria Pinzón, concedeu entrevista exclusiva ao Canção Notícias e deu detalhes do momento atual que vive o país.
Canção Nova Notícias: Por que a Igreja, na Venezuela, se opõe à proposta de reforma constitucional do presidente Hugo Chávez?
Dom Viloria: Depois de fazer um estudo bastante exaustivo do documento, afirmamos que a reforma é moralmente inaceitável, sobretudo porque não coloca a pessoa humana no centro, mas coloca ao estado e o governo acima da pessoa.
Em nossa doutrina social da Igreja, qualquer ideologia ou sistema de governo que queira implantar-se acima da pessoa humana ou qualquer outra realidade, imediatamente se converte em inaceitável a nível moral. Esta consideração foi feita por nós, pois é um campo que nos corresponde especificamente. Não nos corresponde entrar em partidarismos políticos ou associações politicas, mas nas considerações específicas da reforma.
Por outro lado, nós percebemos também que nas propostas da reforma que fazem o presidente da República e a Assembléia Nacional, muitas das afirmações que estão tendo nessa proposta vão contra à mesma Constituição que no seu prefácio tem princípios fundamentais que estão sendo violados.
Por exemplo, na proposta se fala de um Estado Socialista que deve ser implantado e que todas a ações econômicas, políticas e sociais devam ir em função da construção do Estado Socialista. A Constituição Vigente estabelece que o Estado Venezuelano é um EStado Social de Justiça e de Direito, e ainda é pluralista, de maneira que contradiz estabelecer um Estado Socialista.
Canção Nova Notícias: Como os senhores bispos reagem às críticas do presidente?
Dom Viloria: Nós simplesmente escutamos também as reações do presidente, porque estamos simplesmente obedecendo, inclusive, um convite que ele fez para que todos nós, venezuelanos, estudemos a proposta e demos também nossa opinião. Simplesmente, estamos respondendo ao convite que ele mesmo nos fez. Lamentavelmente, ele parece que quer escutar somente reações de apoio, e quando há alguém se opõe, só reage negativamente e desqualifica a qualquer pessoa que é contra a reforma.
Canção Nova Notícias: O futuro da Venezuela está em jogo, no próximo domingo?
Dom Viloria: Nós esperamos que esse próximo domingo seja uma jornada pacífica, que seja realmente de demonstração do espírito democrático do povo venezuelano. Por isso, estamos convidando a todos a que expressem sua opinião através do voto. Há, certamente, um clima de tensão, mas temos que estar vigilantes sobre isso para que o povo venezuelano mantenha a harmonia e a paz que o tem caracterizado. Este ambiente de paz e harmonia tem se perdido um pouco nos últimos anos, mas a verdade é que o povo venezuelano é um povo que vive em solidariedade, apesar da diversidade que possamos ter. Nós nos aceitamos mutuamente, acima da diversidade que possa existir.
Canção Nova Notícias: A democracia é fundamental para a vida em sociedade?
Dom Viloria: Claro que sim. Nós, junto aos papas, sobretudo ao último, João Paulo II, e agora também a Bento XVI, afirmamos que o sistema no qual se desenvolve melhor a promoção humana, o desenvolvimento social e a igualdade entre as pessoas é especificamente a democracia que seja realmente participativa, na qual todos os homens e mulheres tenham algo a dizer e a dar num esforço próprio.
Canção Nova Notícias: Qual a importância da oração neste momento?
Dom Viloria: Nós temos recebido bastante mensagens de solidariedade de muitíssima gente da Venezuela e também de fora do país. Estamos absolutamente seguros de que esta oração, que todos os cristãos do mundo estão fazendo pela nossa situação atual na Venezuela, fará com que os corações se suavizem e que a jornada de votações de domingo ocorra na normalidade e que o futuro de nosso país seja um futuro muito sólido na vivência do espírito democrático que temos.