O Papa da modernidade

Saiba mais sobre Paulo VI, o Papa que se tornará santo neste domingo

“Papa da modernidade”, Paulo VI deixou importantes documentos à Igreja católica, além de ter instituído o Dia Mundial da Paz e o Sínodo dos Bispos

Kelen Galvan
Da Redação

Paulo VI será canonizado neste domingo, 14, no Vaticano, pelo Papa Francisco durante o Sínodo dos bispos sobre os Jovens. Em 2014, sua beatificação também ocorreu durante o Sínodo dos Bispos sobre as Famílias. As datas são significativas, pois ele foi o Papa que instituiu os Sínodos em 1965, a pedido dos participantes do Concílio Vaticano II.

O futuro santo, que tem sua memória litúrgica no dia 26 de setembro, é conhecido principalmente por ter concluído o Concílio Vaticano II, iniciado por seu antecessor João XXIII, e pelas Encíclicas Humanae Vitae (que tornou-se um marco na Doutrina Moral da Igreja nas questões de regulação da natalidade) e a Populorum Progressio (sobre o desenvolvimento dos povos, um documento importante para a Doutrina Social da Igreja).

O professor de história da Igreja, Felipe Aquino, lembra que a Humane Vitae foi publicada na época em que os cientistas descobriram a pílula anticoncepcional, o que deixou o Papa preocupado.

“Paulo VI disse exatamente isso: ‘Com o uso desta pílula, haverá na atividade sexual uma separação entre o aspecto unitivo e o aspecto procriativo’, ou seja, o ato sexual poderá ser usado simplesmente para o prazer, deixando-se de lado a procriação. Hoje cerca de 50 anos depois, nós podemos ver aquilo que o Papa dizia, sobre os grandes problemas que o mundo passaria por causa dessa pílula, em relação à demografia. Não nascem crianças e os pais estão envelhecendo. Os demógrafos chamam isso de ‘implosão demográfica'”, destaca.

Aquino lembra ainda que na Populorum Progressio,  Paulo VI colocou de forma clara o que a Igreja entende como justiça social. “Excluindo a luta de classes, o marxismo e comunismo, o Papa chamou os cristãos a viver o Evangelho. O amor de Cristo que vê no outro um irmão, que deve ser socorrido e não pode deixá-lo passando as necessidades do dia a dia”, explicou o professor.

Giovanni Battista Montini deixou muitas outras contribuições para a Igreja Católica durante o seu Pontificado, entre os anos de 1963 e 1978, tornando-o conhecido como o “Papa da Modernidade”, como afirmou o próprio Papa Francisco, em agosto deste ano.

Papa Peregrino

Paulo VI foi o primeiro Papa a usar um avião e o primeiro viajar para fora da Itália desde 1809. Também foi o primeiro a visitar a Terra Santa, depois do Apóstolo Pedro.

A visita à Terra Santa, em 1964, foi a primeira de seu Pontificado, e marcou uma mudança pastoral, iniciada por Paulo VI, de ir às nações. Na ocasião, ele encontrou-se com o patriarca ortodoxo Atenágoras I, e assinaram uma declaração conjunta, sobre o desejo de reconciliação e diálogo entre as duas igrejas, e o cancelamento das excomunhões mútuas ocorridas depois do Grande Cisma entre o Oriente e o Ocidente, em 1054.

Em 2014, o Papa Francisco visitou a Terra Santa para celebrar os 50 anos deste acontecimento.

Paulo VI foi o primeiro Pontífice a visitar os cinco continentes. Ele realizou uma visita pastoral a Uganda, na África; visitou a Colômbia e os Estados Unidos, na América; Portugal, na Europa; Austrália, na Oceania; Filipinas e Índia, na Ásia.

Curiosidades

Paulo VI criou cardeais três futuros Papas, que anos depois foram seus sucessores no Pontificado. Ele criou os cardeais Karol Wojtyla (João Paulo II), em 1967; Albino Luciani (João Paulo I), em 1973; e Joseph Ratzinger (Bento XVI), em 1977.

O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1967 pelo Papa Paulo VI com o objetivo de levar os homens a corresponderem à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade.

Personalidade de Paulo VI

O doutor em Teologia Moral, padre Wagner Ferreira, lembra que muitos críticos diziam que Paulo VI era um homem triste e incerto, porém, o antigo presidente do Instituto Paulo VI, Giuseppe Camadini, afirmava o contrário, que ele foi um Papa de personalidade forte e, ao mesmo tempo, gentil.

Um exemplo disso foi que Paulo VI foi o primeiro Papa a escrever um documento sobre a alegria. Trata-se da Exortação Apostólica “Gaudete in Domino” (em tradução livre: “Alegrai-vos no Senhor”), publicada em 1975, que fala sobre a alegria cristã.

Biografia

Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini nasceu no dia 26 de setembro de 1897, na cidade italiana de Concesio. Desde cedo, sua vida foi muito envolvida com religião. Entrou para o seminário com o objetivo de se tornar um sacerdote no ano de 1916.

Depois de ser ordenado em 1920, estudou ainda na Universidade Gregoriana, na Universidade de Roma e na Pontifícia Academia Eclesiástica. Giovanni Montini tinha um talento notável para a vida religiosa, foi o que o levou rapidamente a desenvolver uma carreira na Cúria Romana. Na administração do Vaticano, ocupou cargos importantes dentro da Igreja Católica, desenvolvendo funções muito próximas e de confiança dos papas Pio XI e Pio XII. Já em 1944, Giovanni Montini trabalhava diretamente com o papa Pio XII.

A nomeação de Giovanni Montini para o cargo de Arcebispo de Milão parecia ser um método para afastá-lo do papado. Porém acredita-se mais que tal medida foi tomada por Pio XII para permitir que Giovanni tivesse mais experiência pastoral. De qualquer forma, mesmo sem ser cardeal da Igreja, durante o conclave de 1958 que elegeria o novo papa, Giovanni Montini recebeu vários votos. O sucessor de Pio XII acabou sendo João XXIII, que, no mesmo ano, elevou Giovanni à condição de cardeal. João XXIII exerceu pouco tempo o cargo de Supremo Pontífice.

Já em 1963 foi realizado um novo conclave para eleger seu sucessor. Desta vez, Giovanni Montini foi eleito papa, no dia 21 de junho, tornando-se o 262º Pontífice da Igreja Católica.

Para exercer o cargo máximo da Igreja Católica, escolheu o nome de Paulo VI, indicando que tinha uma missão mundial de propagar a mensagem de Cristo. Promoveu grandes reformas no cristianismo que foram significativas para afetar toda a Igreja. Permaneceu no governo da igreja por 15 anos.

Faleceu no dia seis de agosto de 1978 e foi sucedido por João Paulo I. O processo de beatificação de Paulo VI começou em 1993 e se concretizou em 2014. E será canonizado dia 14 de outubro de 2018.

(Informações: Arquidiocese de São Paulo)

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