Na homilia de hoje, Francisco refletiu sobre as várias despedidas que existem na vida, inclusive a última, quando é preciso dizer “adeus” e entregar-se a Deus
Da Redação, com Rádio Vaticano
Na manhã desta terça-feira, 19, o Papa Francisco celebrou a Missa na Casa Santa Marta colocando no centro da homilia o discurso de Jesus antes da Paixão e a despedida de Paulo em Mileto antes de ir a Jerusalém. O Pontífice se inspirou nas leituras do dia para falar do que significa dizer adeus para um cristão.
“Jesus se despede, Paulo se despede, e isso nos ajudará a refletir sobre nossas despedidas”, disse o Papa, lembrando que, na vida, existem pequenas e grandes despedidas, além de muito sofrimento e lágrimas. Como exemplo, ele citou a realidade dos que são vítimas das perseguições e obrigados a fugir.
“Pensemos hoje naqueles pobres de etnia rohingya de Mianmar. No momento de deixar suas terras para fugir das perseguições, não sabiam o que lhes aconteceria. E há meses estão numa embarcação, ali… Chegam a uma cidade, onde lhes dão água e alimentos, e dizem: ‘vão embora daqui’. É uma despedida. Aliás, hoje acontece esta grande despedida existencial. Pensem na despedida dos cristãos e dos iezites (cristãos iraquianos, ndr), que acreditam não poder voltar mais para sua terra, porque foram expulsos de casa. Hoje”.
Francisco mencionou também outros tipos de despedida, como aquela da mãe, que saúda e dá o último abraço no filho que parte para a guerra. Essa mãe se levanta todos os dias com o medo de que alguém lhe diga: ‘agradecemos muito pela generosidade de seu filho, que deu a vida pela pátria’. E há também a “última despedida, que todos devem fazer quando o Senhor chama para o outro lado. Eu penso nisto”.
O momento do adeus
O Santo Padre explicou que essas grandes despedidas da vida, inclusive a última, não são como um ‘até logo’, ‘até breve’, que são as despedidas que indicam um regresso imediato ou depois de uma semana: são despedidas que não se sabe quando e como voltar. Ele recordou que o tema do adeus está presente também nas artes e nas músicas.
“Vem-me uma em mente, a dos alpinos, quando o capitão se despedia dos seus soldados: o testamento do capitão. Eu penso na grande despedida, na minha grande despedida, não quando digo, ‘até depois’, ‘até mais tarde’, ‘até breve’, mas ‘adeus’? Estes dois textos dizem a palavra ‘adeus’. Paulo confia a Deus os seus companheiros e Jesus confia ao Pai os seus discípulos, que permanecem no mundo. ‘Eles não são do mundo, mas cuida deles’. Confiar ao Pai, confiar a Deus: esta é a origem da palavra ‘adeus’. Nós dizemos ‘adeus’ somente nas grandes despedidas, sejam as despedidas da vida, seja a última”.
Segundo Francisco, faz bem pensar na despedida deste mundo. “Eu creio que, com estes dois ícones – o de Paulo, que chora, de joelhos na praia, todos ali, e Jesus, triste, porque ia para a Paixão, com os seus discípulos, chorando no seu coração – podemos pensar na nossa despedida. Vai nos fazer bem. Quem será a pessoa que vai fechar os meus olhos?”.
A entrega a Deus
Pensar na despedida implica refletir sobre o que cada um vai deixa para esta terra. Francisco explicou que tanto Paulo como Jesus fazem uma espécie de exame de consciência e é bom para cada um se imaginar nesse momento.
“Quando será, não sabemos, mas haverá o momento no qual ‘até depois’, ‘até breve’, ‘até amanhã’, ‘até mais’ vai se tornar ‘adeus’. Estou preparado para confiar a Deus todos os meus entes queridos? Para confiar-me a Deus? Para dizer aquela palavra que é a palavra da entrega do filho ao Pai?”
O Papa concluiu a homilia aconselhando todos a lerem as leituras de hoje sobre a despedida de Jesus e de Paulo e a pensar que, um dia, cada um deverá dizer a palavra “adeus”. “A Deus confio a minha alma; a Deus confio a minha história; a Deus confio os meus entes queridos; a Deus confio tudo (…) Que Jesus morto e ressuscitado envie-nos o Espírito Santo, para que aprendamos a palavra, aprendamos a dizê-la, existencialmente, com toda a força: a última palavra, adeus”.