"A Igreja está profunda e irrevogavelmente comprometida em rejeitar todo o anti-semitismo”, assegurou o Papa Bento XVI, recebendo nesta quinta-feira, 12, no Vaticano, uma delegação de rabinos americanos, representados pelo Rabino da Sinagoga de Nova Iorque, visitado pelo Papa no ano passado.
Dando-lhes as boas-vindas à "casa de Pedro, o lar do Papa", o Pontífice observou que "encontros como estes dão a oportunidade de demonstrar o nosso respeito pelos outros". Recordou ainda, "com gratidão", as diferentes ocasiões em que passou com os seus amigos judeus: "experiências de estima fraterna e sincera amizade”, referindo-se às visitas que fez à comunidade judaica em Washington e Nova Iorque (2008) e em Colônia (2005).
Bento XVI sublinhou especialmente a sua visita, no ano seguinte, ao campo de extermínio de Auschwitz, "experiência tão profundamente tocante", que é difícil encontrar palavras para a exprimir. "Caminhando através da entrada daquele lugar de horror, cenário de tão indescritíveis sofrimentos, meditei no incontável número de prisioneiros, tantíssimos deles judeus, que percorreram aquele mesmo caminho em direção ao cativeiro…”.
"Aqueles filhos de Abraão, dominados pela dor e humilhados até à abjeção, pouco tinham quem os pudesse sustentar senão a sua fé no Deus dos seus antepassados, uma fé que nós cristãos partilhamos convosco, nossos irmãos e irmãs. Como poderemos começar a apreender a enormidade do que ocorreu naquelas infamantes prisões! Toda a raça humana sente profunda vergonha e confusão perante a selvagem brutalidade mostrada para com o vosso povo, em qualquer tempo".
Mencionando o fato desta delegação estar de passagem por Roma, a caminho de Israel, o Papa declarou que também está se prepararando "para visitar Israel, uma terra que é santa tanto para os cristãos como para os judeus, uma vez que é ali que se encontram as raízes da nossa fé".
“Desde os primeiros tempos do Cristianismo, a nossa identidade e cada um dos aspectos da nossa vida e culto sempre estiveram intimamente ligados à antiga religião dos nossos pais na fé”.
O Papa reconheceu que "os dois mil anos de história das relações entre Judaísmo e Igreja passaram por muitas fases, algumas das quais é penoso recordar". Mas "qual é a família que nunca passou por distúrbios e tensões de algum tipo?"
“Agora que conseguimos nos encontrar num espírito de reconciliação, não devemos permitir que as dificuldades do passado nos impeçam de estender uns aos outros a mão da amizade".
A Declaração "Nostra Aetate" do Concílio Vaticano II – sublinhou o Papa – constituiu uma pedra valiosa no caminho para a reconciliação, apontando claramente os princípios que desde então têm orientado a posição da Igreja nas relações Cristãos – Judeus”.
"A Igreja está profunda e irrevogavelmente empenhada em rejeitar todo o anti-semitismo e continua a construir boas e perduráveis relações entre as duas comunidades".
Como imagem que bem personifica este compromisso da Igreja, Bento XVI recordou a figura do seu predecessor João Paulo II, junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, "invocando o perdão de Deus para todas as injustiças que o povo Judeu teve que sofrer". "Faço minha a sua oração", ali então pronunciada, a 26 de Março do ano 2000:
"Deus dos nossos pais, Vós escolhestes Abraão e os seus descendentes para levar às nações o Vosso Nome: estamos profundamente entristecidos pelo comportamento daqueles que, no decurso da história, fizeram sofrer estes vossos filhos. Pedindo o vosso perdão, queremos nos empenhar, nós mesmos, numa genuína fraternidade com o povo da Aliança".
Quase a concluir este seu discurso à delegação de rabinos norte-americanos, o Papa retomou ainda a questão da Shoah, o Holocausto dos Judeus:
"O ódio e desprezo por homens, mulheres e crianças que se manifestou na Shoah foi um crime contra Deus e contra a humanidade. E deve estar claro para todos e cada um, especialmente para os que se mantêm na tradição das Sagradas Escrituras, segundo as quais cada ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. É intolerável e absolutamente inaceitável toda e qualquer negação ou minimização deste terrível crime".
Bento XVI concluiu reafirmando que "nunca se poderá esquecer este terrível capítulo da nossa história". Recordar é "uma advertência para o futuro".
“Recordar é fazer tudo o que está em nosso poder para prevenir qualquer repetição de tal catástrofe, na família humana, construindo pontes de amizade duradoura. É minha fervorosa oração que a memória deste terrível crime fortaleça a nossa determinação em cicatrizar as feridas que durante muito tempo macularam as relações entre Cristãos e Judeus".
O rabino Arthur Schneier, em sua saudação, agradeceu ao Santo Padre: "Obrigado por ter compreendido a nossa dor e a nossa angústia, e pela sua firme declaração de indiscutível solidariedade para com o povo judaico e pela condenação de todas as formas de negação do Holocausto". Sublinhou ainda que o empenho pessoal de Bento XVI encoraja a reforçar ainda mais os laços entre católicos e hebreus em todas as partes do mundo.
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