Na carta escrita no dia 27 de Maio, Domingo de Pentecostes, e publicada esta manhã, dirigida ao clero e aos católicos da China, Bento XVI pede a Pequim “o respeito por uma autêntica liberdade religiosa” e rejeita a idéia de uma Igreja submissa às autoridades chinesas e independente do Vaticano.
O Papa declara-se “aberto a negociações” com o governo chinês mas sublinha que será necessário “tempo e boa vontade das duas partes” para chegar a “uma normalização das relações com a República Popular da China”.
A Santa Sé e a China não mantém relações diplomáticas desde 1951.
Na Carta muito esperada, Bento XVI assegura que a Igreja “convida os fiéis a serem bons cidadãos, colaboradores responsáveis e ativos a favor do bem comum do seu país”. Mas “é também claro ser obrigação do Estado garantir aos seus cidadãos católicos o pleno exercício da sua fé, no respeito de uma autêntica liberdade religiosa”.
Pelo texto, o Papa expressa a sua apreciação pelo sofrimento que os católicos chineses passam, debaixo do comunismo. Ele afirma que a sua devoção à fé e a sua lealdade ao papa “será recompensada, mesmo que tudo possa parecer sem sentido”.
Apesar de a Igreja na China gozar de uma maior liberdade religiosa hoje do que no passado, o Santo Padre afirma que “não pode ser negado que grandes imitações continuam a persistir, e que em certa medida, sufocam a atividade pastoral”.
O Pontifíce critica a interferência do governo chinês em várias áreas da atividade da Igreja e afirma que a sua insistência em registar comunidades e declarar “oficiais” tem dividido a igreja e tem levantado suspeitas, acusações mútuas e recriminações.
No entanto, Bento XVI, abre a porta aos registos governamentais acerca dos bispos e das comunidades católicas, dizendo que é aceitável desde que não comprometa os princípios comuns da fé e da Igreja.
Por outro lado, o Papa afirma que, tais registos têm levado a que alguns líderes religiosos adoptem e reajam contrariamente às suas consciências de católicos. Porque a decisão correta é difícil de determinar e depende de circunstâncias locais, a escolha deveria ser feita pelo respectivo bispo.
E Bento XVI destaca três situações: Alguns bispos, ciosos de manter a sua lealdade ao Papa, escolhem se ordenados clandestinamente, sem a autorização governamental. Bento XVI afirma que uma vez que esta “condição clandestina” não é normal na vida eclesial, o Vaticano espera que estes bispos sejam reconhecidos pelo Governo.
Outros bispos têm sido ordenados sem a aprovação papal, mas lutaram, mais tarde, para obter essa comunhão com o Papa, que a concedeu. Infelizmente, manifesta o Papa, na maioria dos casos, os padres e fiéis da diocese não foram informados da reconciliação do bispo com o Vaticano, gerando graves problemas de consciência.
“Por esta razão, é indispensável, para o bem espiritual das comunidades diocesanas, que a legitimação, uma vez ocorrida, seja do domínio público na primeira oportunidade, e que os bispos legitimados dêem sinais vivos da sus total comunhão com o sucessor de Pedro”, afirmou Bento XVI.
Há ainda, um número pequeno de bispos que foram ordenados sem a aprovação papal e não pediram uma reconciliação. O Papa encoraja-os para retomarem a comunhão com a Igreja para que exerçam o seu ministério de forma válida.
Bento XVI pede também a Pequim a liberdade de nomear os bispos e sublinha a idéia de “uma Igreja independente” do Vaticano “é incompatível com a doutrina católica”. Isto assegura a todos os católicos chineses, divisões entre uma Igreja clandestina fiel ao Vaticano e uma Igreja oficial, “próximas na fraternidade” e apela à “unidade” e à “reconciliação” sob a sua autoridade.
Com uma idéia de unidade, Bento XVI sublinha que todos os bispos, mesmo aqueles que não são reconhecidos pelo Vaticano, “exerçam de forma válida o seu ministério”. Esta carta do Papa “aos bispos, padres, pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica da República Popular da China”, foi também enviada às autoridades chinesas, segundo informação do Vaticano. O Santo Padre sublinha ainda que a Igreja não se identifica com nenhum sistema político. Nem é sua missão “alterar a estrutura administrativa do Estado”, afirma. Não procura privilégios especiais na China, nem entre os seus líderes, mas “procura o diálogo”. Estima-se que existam entre 8 a 12 milhões de católicos na China.