Bento XVI deixou um forte apelo nesta segunda-feira, 25, contra a eutanásia, pedindo o respeito de toda a sociedade para com as pessoas em final de vida e para com suas famílias, repetindo "a firme e constante condenação ética de qualquer forma de eutanásia direta".
O Papa falava aos participantes do Congresso Internacional "Junto ao doente incurável e ao moribundo: orientações éticas e operativas", promovido pela Academia Pontifícia para a Vida (APV) de 25 a 27 de Fevereiro, no Vaticano.
Para Bento XVI, nas grandes cidades em que cada vez há mais pessoas idosas e solitárias, mesmo nos momentos de doença grave e na proximidade da morte, as pressões eutanásicas tornam-se cada vez mais pesadas, sobretudo quando se insinua uma visão utilarista em relação à pessoa.
"Numa sociedade complexa, fortemente influenciada pelas dinâmicas da produtividade e pelas exigências da economia, as pessoas frágeis e as famílias mais pobres arriscam-se, nos momentos de dificuldade económica ou de doença, a serem esquecidas", acusou.
Neste contexto, Bento XVI pediu que à imagem do que já acontece por ocasião do nascimento, as famílias tenham "direitos específicos" na fase terminal de um parente, para que possam acompanhá-lo com mais proximidade.
Citando a sua última encíclica, Spe salvi, o Papa frisou que a medida da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com aquele que sofre.
"Uma sociedade que não consegue aceitar quem sofre e não é capaz de contribuir através da com-paixão (sic)a fazer que o sofrimento seja partilhado é uma sociedade cruel e desumana", atirou.
"Embora na consciência de que ‘não é a ciência que redime os homens’, toda a sociedade e em especial os setores ligados à ciência médica têm o dever de exprimir a solidariedade do amor, a salvaguarda e o respeito da vida humana em cada momento do seu desenvolvimento terreno, sobretudo quando essa sofre uma condição de doença ou se encontra na sua fase terminal", prosseguiu.
Mais concretamente, especificou o Papa, trata-se de "assegurar a cada pessoa que o apoio necessário, através de terapias e intervenções médicas adequadas, individuadas e geridas segundos os critérios da proporcionalidade médica, sempre tendo em conta o dever moral de fornecer (da parte do médico) e de acolher (da parte do paciente) aqueles meios de preservação da vida que, na situação concreta, resultem ‘ordinários’".
"Pelo contrário, no caso de terapias que se possam considerar extraordinárias, o recurso às mesmas deverá ser considerado moralmente lícito, mas facultativo", prosseguiu.
Evocando uma "sociedade solidária e humanitária", que tenha em conta as dificuldades enfrentadas por quem tem a seu cargo, por períodos prolongados, doente graves não auto-suficientes, Bento XVI observou que "um maior respeito da vida humana individual passa inevitavelmente pela solidariedade concreta de todos e de cada um, constituindo um dos mais urgentes desafios do nosso tempo".
No Congresso promovido pela APV estão a ser debatidas questões que se colocam às equipas médicas perante os doentes incuráveis, no campo do "encarniçamento terapêutico e do abandono do paciente". As novas e crescentes oportunidades de intervenção médica podem levar, segundo este organismo do Vaticano, "a um agravamento do sofrimento" dos doentes.
A Academia Pontifícia para a Vida foi instituída por João Paulo II em 11 de Fevereiro de 1994, com o Motu Proprio “Vitae Mysterium”. Tem como objectivo o estudo, a informação e a formação sobre os principais problemas de bioética e de direito, relativos à promoção e defesa da vida, sobretudo na relação directa que estes têm com a moral cristã e com as directivas do magistério da Igreja Católica.