Santo Padre falou sobre o risco dos cristãos se isolarem, esquecendo-se de olhar para os excluídos sociais
Da Redação, com Rádio Vaticano
Na missa desta segunda-feira, 17, na Casa Santa Marta, o Papa Francisco falou dos cristãos que correm o risco de se isolarem em um “microclima eclesiástico”, ou seja, que querem estar com Jesus, mas não com os pobres.
Para Francisco, a Igreja vive em todas as épocas a tentação de olhar para Jesus esquecendo de ver Nele o pobre que pede ajuda, fechando-se em um “microclima eclesiástico”, ao invés de se abrir aos excluídos sociais. A homilia foi inspirada em um trecho do Evangelho, cujo protagonista é o cego de Jericó.
O cego, explicou o Papa, representa a primeira classe de pessoas que povoa a narração do evangelista Lucas. Um homem que não contava nada, mas que tinha sede de salvação, de ser curado e que, portanto, grita mais forte do que o muro de indiferença que o circunda, para bater à porta do coração de Jesus. A este homem se opõe o círculo dos discípulos, que querem calá-lo para evitar que incomode e, assim – afirmou o Papa – afastar “o Senhor da periferia”:
“Esta periferia não podia chegar ao Senhor, porque este círculo – mas com muita boa vontade, hein – fechava a porta. E isso acontece com frequência entre nós, fiéis: quando encontramos o Senhor, sem que percebamos, se cria este microclima eclesiástico. Não só os padres, os bispos, mas também os fiéis: ‘Mas nós somos os que estão com o Senhor’. E de tanto olhar para Ele, não olhamos para as suas necessidades: não olhamos para o Senhor que tem fome, que tem sede, que está na prisão, que está no hospital. ‘Aquele Senhor não, pois é um marginalizado’. E este clima nos faz tão mal”.
O Papa descreveu o grupo dos que se sentem eleitos pelo Senhor e que, por isso mesmo, querem afastar qualquer pessoa que possa incomodá-Lo – inclusive as crianças. Essas pessoas, observou, esqueceram e abandonaram o primeiro amor.
“Quando, na Igreja, os fiéis, os ministros se tornam assim… não eclesial, mas ‘eclesiástico’, de privilégio de proximidade ao Senhor, têm a tentação de esquecer o primeiro amor, aquele amor tão bonito que todos nós recebemos quando Ele nos chamou, nos salvou. Esta é uma tentação dos discípulos: esquecer o primeiro amor, ou seja, esquecer inclusive as periferias, onde eu me encontrava, e também me envergonhar disso”.
Há ainda o terceiro grupo nesta narração: o povo simples, que louva a Deus pela cura do cego. São pessoas simples, o povo fiel que sabe seguir Deus sem pedir nada em troca e não se esquece da “Igreja marginalizada” das crianças, dos doentes, dos prisioneiros.
“Peçamos ao Senhor a graça de que todos nós, que temos a graça de sermos chamados, de jamais nos afastar desta Igreja; de jamais entrar neste microclima dos discípulos eclesiásticos, privilegiados, que se afastam da Igreja de Deus, que sofre, que pede salvação, que pede fé, que pede a Palavra de Deus. Peçamos a graça de ser povo fiel de Deus, sem pedir ao Senhor qualquer privilégio que nos afaste de Seu povo”.