Na noite deste Sábado Santo, 23, o Papa Bento XVI presidiu a celebração da Vigília Pascal na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A Missa teve início no átrio da Basílica, com a benção do fogo e a preparação do Círio Pascal. Durante a cerimônia, o Santo Padre administrou o batismo, a crisma e a primeira comunhão a seis catecúmenos, provenientes da Suíça, Albânia, Rússia, Peru, Singapura e China.
Em sua homilia, o Papa explicou o porquê dos cristãos celebrarem o domingo ao invés do sábado, como pedia o Antigo Testamento. "O Sábado é o sétimo dia da semana. Depois de seis dias em que o homem, de certa forma, participa no trabalho criador de Deus, o Sábado é o dia do repouso. Mas, na Igreja nascente, sucedeu algo de inaudito: no lugar do Sábado, do sétimo dia, entra o primeiro dia. Este, enquanto dia da assembleia litúrgica, é o dia do encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, que no primeiro dia, o Domingo, encontrou como Ressuscitado os seus, depois que estes encontraram vazio o sepulcro".
Acesse
.: ÍNTEGRA: Homilia de Bento XVI na Vigília Pascal
.: Veja fotos da Missa no Flickr
Bento XVI destacou que a ressurreição de Cristo inverteu a estrutura da semana, que passa a iniciar com "o dia do encontro com o Ressuscitado" e explica que este encontro continua acontecendo todos os dias, em cada Santa Missa, na celebração da Eucaristia, onde "o Senhor entra de novo no meio dos seus e dá-Se a eles, deixa-Se por assim dizer tocar por eles, põe-Se à mesa com eles".
"Este processo inovador, que se deu logo ao início do desenvolvimento da Igreja, só se pode explicar com o fato de ter sucedido algo de inaudito em tal dia. O primeiro dia da semana era o terceiro depois da morte de Jesus; era o dia em que Ele Se manifestou aos seus como o Ressuscitado. De fato, este encontro continha nele algo de impressionante. O mundo tinha mudado. Aquele que estivera morto goza agora de um vida que já não está ameaçada por morte alguma. Fora inaugurada uma nova forma de vida, uma nova dimensão da criação", ressaltou o Santo Padre.
Vigília Pascal
Bento XVI explicou ainda o rito da Vigília Pascal, apresenta “dois grandes sinais que caracterizam a celebração litúrgica" do Sábado Santo. "Temos antes de mais nada, o fogo que se torna luz. A luz do círio pascal que, na procissão através da igreja encoberta na escuridão da noite, se torna uma onda de luzes, fala-nos de Cristo como verdadeira estrela da manhã eternamente sem ocaso, fala-nos do Ressuscitado em quem a luz venceu as trevas”, disse.
Em seguida, o Papa falou sobre o segundo sinal, que é a água: “esta recorda, por um lado, as águas do Mar Vermelho, o afundamento e a morte, o mistério da Cruz; mas, por outro, aparece-nos como água nascente, como elemento que dá vida na aridez. Torna-se assim imagem do sacramento do Batismo, que nos faz participantes da morte e ressurreição de Jesus Cristo”.
Bento XVI ressaltou então outra característica da Vigília, que disse ser verdadeiramente essencial, qual seja: o fato de nos proporcionar um vasto encontro com a palavra da Sagrada Escritura. “A Igreja quer, através de uma ampla visão panorâmica, conduzir-nos ao longo do caminho da história da salvação, desde a criação passando pela eleição e a libertação de Israel até aos testemunhos proféticos, pelos quais toda esta história se orienta cada vez mais claramente para Jesus Cristo”, sublinhou o Papa.
E assim recordou que, “na Vigília Pascal, o percurso ao longo dos caminhos da Sagrada Escritura começa pelo relato da Criação”, a qual disse não se tratar de uma informação sobre a realização exterior da transformação do universo e do homem. O Santo Padre a compreende “não como narração real das origens das coisas, mas como apelo ao essencial, ao verdadeiro princípio e ao fim do nosso ser”.
Falou ainda sobre a mensagem central do relato da Criação, citando São João, nas primeiras palavras do seu Evangelho “No princípio, era o Verbo”. “O mundo é uma produção da Palavra, do Logos, como se exprime João com um termo central da língua grega. ‘Logos’ significa ‘razão’, ‘sentido’, ‘palavra’ ”. E prosseguiu: “não é apenas razão, mas Razão criadora que fala e comunica a Si mesma. Trata-se de Razão que é sentido, e que cria, Ela mesma, sentido. Por isso, o relato da criação diz-nos que o mundo é uma produção da Razão criadora. E deste modo diz-nos que, na origem de todas as coisas, não está o que é sem razão, sem liberdade; pelo contrário, o princípio de todas as coisas é a Razão criadora, é o amor, é a liberdade”.