Apesar de seu caminho de sofrimento, ainda atual, a Igreja na China experimenta o crescimento numérico e a comunhão – de quase todos seus bispos e sacerdotes – com a sede de Roma: aos católicos desse país Bento XVI escreverá uma carta. É o que confirma um comunicado difundido no sábado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, ao término de dois dias de reunião – convocada pelo Papa – sobre a situação da Igreja Católica na China continental.
“Os problemas eclesiais mais graves e urgentes, que esperam adequadas soluções em relação aos princípios fundamentais da constituição divina da Igreja e da liberdade religiosa” centraram a reunião, presidida pelo secretário de Estado do Papa, o cardeal Tarcisio Bertone. Tal exame se realizou à luz da atribulada história da Igreja na China e dos principais acontecimentos dos últimos anos. Para isso se contou, no Palácio Apostólico Vaticano, com alguns representantes do Episcopado chinês (Hong Kong, Macau e Taiwan) e aqueles que, para a Santa Sé, seguem mais de perto a questão chinesa.
No encontro se pôde afirmar e agradecer o luminoso testemunho, oferecido por bispos, sacerdotes e fiéis que mantiveram a própria fidelidade à Sé de Pedro, às vezes inclusive a custa de graves sofrimentos. Da mesma forma se constatou que atualmente a quase totalidade dos bispos e sacerdotes está em comunhão com o Sumo Pontífice, expressa o comunicado da Santa Sé. E com surpresa se comprovou também o crescimento numérico da comunidade eclesial na China.
Fruto desta reunião – de cujos trabalhos se informou pontualmente ao Papa – é a vontade de prosseguir o caminho de um diálogo respeitoso e construtivo com as Autoridades governamentais, para superar as incompreensões do passado. Igualmente se expressa o desejo de uma “normalização das relações nos diversos níveis, a fim de consentir a pacífica e frutífera vida da fé na Igreja e de trabalhar juntos pelo bem do povo chinês e pela paz no mundo”, conclui o comunicado.
O Santo Padre saudou os convocados ao término da reunião, ainda que não participou diretamente nela. As relações diplomáticas da Santa Sé e o governo chinês foram quebradas quando em 1951, dois anos depois da chegada ao poder de Mao Tse-tung, foi expulso o núncio apostólico, o arcebispo Antonio Riberi.
O governo chinês permite a prática religiosa em seu país só com pessoal reconhecido e em lugares registrados ante o Departamento de Assuntos Religiosos e sob o controle da “Associação Patriótica” – cujo estatuto recolhe a criação de uma Igreja nacional desgarrada da Santa Sé. Entre os últimos problemas candentes está a situação criada pelas três ordenações episcopais ilegítimas (sem consentimento do Papa) celebradas, pelas mãos dos patrióticos, em solo chinês em 2006 – em Kunming (30 de abril), Anhui (2 de maio) e Xuzhou (30 de novembro).
Concluída a reunião no Vaticano, o especialista em contexto chinês o padre Bernardo Cervellera – diretor de AsiaNews.it, do Pontifício Instituto de Missões Exteriores (PIME) – citou no sábado na agência palavras de católicos chineses (“oficiais” e “clandestinos”): fonte de perseguições, a Associação Patriótica é o único e verdadeiro obstáculo para o restabelecimento de relações diplomáticas entre Roma e Pequim. O órgão informativo do PIME recorda também que ao menos 17 bispos “não oficiais” permanecem desaparecidos, em prisão ou isolamento, 20 estão presos. O último acontecimento deste tipo aconteceu na província de Hebei: 9 sacerdotes foram detidos; cinco ainda estão na prisão.