Economia de Francisco

Papa aos jovens: abandonem a economia que gera morte e assumam a que gera vida

Uma festa de música, testemunhos, alegria e emoção: assim foi o encontro do Papa com os jovens da “Economia de Francisco”, que se reuniram esta semana em Assis para repensar uma nova economia mundial

Da Redação com Vatican News

Francisco em Assis no encontro com os jovens na Economia de Francisco de Assis Riccardo Fabi via Reuters

O Encontro realizado em Assis na Itália, teve seu início na quinta-feira, 22 e reuniu hoje jovens do mundo inteiro para pensar em uma nova economia mundial. Antes de pronunciar seu discurso, o Papa Francisco ouviu o testemunho de oito jovens de várias proveniências que ilustram projetos concretos inspirados pela iniciativa.
A principal mensagem que o Papa Francisco ofereceu aos jovens reunidos girou em torno da possibilidade de mudança, da transformação de uma economia que mata numa economia da vida.

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Três anos se passaram desde a convocação do Papa até a sua realização e hoje a juventude mundial vive e cresce num período desafiador entre crise ambiental, pandemia e guerras. Os jovens herdaram grandes riquezas, mas ao mesmo tempo um planeta degradado e privado de paz.

Neste cenário, os jovens são chamados a se tornarem artesãos e construtores da casa comum. As finanças são etéreas, é preciso redescobrir as raízes humanas da economia, exortou Francisco.

“Uma nova economia, inspirada em Francisco de Assis, hoje pode e deve ser uma economia amiga da terra e uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata numa economia da vida, em todas as suas dimensões”.

Mudança rápida e firme

Os jovens têm este potencial transformador, afirmou o Papa. Mas advertiu para que não sejam como muitos estudantes das Faculdades de Economia, com a cara fechada, mas sim criativos e otimistas.

“Este entusiasmo deve ser aplicado imediatamente para uma conversão ecológica. Uma economia humana pede uma nova visão do meio ambiente”. Nos últimos dois séculos, acrescentou Francisco, a terra foi saqueada para aumentar o nosso bem estar, mas não o bem estar de todos. “É este o tempo de uma nova coragem para abandonar as fontes fósseis de energia, de acelerar o desenvolvimento de fontes com impacto zero ou positiva”.

O Pontífice acredita que para mudar essa realidade é preciso estar disposto a fazer sacrifícios. Passar de um estilo de vida insustentável para um estilo sustentável significa transformar as dimensões sociais, relacionais e espirituais. “É necessária uma mudança rápida e firme. E o digo seriamente. Conto com vocês! Por favor, não nos deixem tranquilos e deem-nos o exemplo”, exortou o Papa, pedindo coragem e uma “pitada” de heroismo. Ali citou a experiência de um jovem que recusou emprego quando descobriu que seria operário numa fábrica de armas.

A poluição da desigualdade

“Quando tentamos salvar o planeta, não podemos ignorar o homem e a mulher que sofrem. O grito da terra e o grito dos pobres é o mesmo. A poluição que mata não é somente aquela provocada pelo dióxido de carbono, mas também a desigualdade polui o nosso planeta. As calamidades ambientais não podem cancelar as calamidades da injustiça social e da injustiça política”, disse Francisco.

Aos jovens presentes, o Papa explicou que fazer economia inspirando-se em Francisco de Assis significa comprometer-se em colocar os pobres em primeiro lugar. Sem o amor pelos pobres e por toda pessoa vulnerável, não há “Economia de Francisco”.

“Enquanto o sistema produzir descartados e atuarmos segundo este sistema, seremos cúmplices de uma economia que mata. São Francisco não ensina somente a amar os pobres, mas também a pobreza. O capitalismo quer ajudar os pobres, mas não os estima. Não devemos amar a miséria, pelo contrário, devemos combatê-la. Mas o Evangelho diz que sem estimar os pobres não se combate nenhuma miséria”.

O Santo Padre disse desse estilo de vida insustentável que acomete também as relações humanas, a começar pela família, incapaz de acolher e cuidar de novas vidas. “O resultado é o inverno demográfico, onde se prefere ter relações afetivas com cães e gatos. E as mulheres são as primeiras a serem penalizadas por terem que optar entre filhos e carreira. O consumismo atual procura preencher o vazio das relações humanas com mercadorias sempre mais sofisticadas as solidões são um negócio do nosso tempo!”

O capital espiritual

Francisco falou do capitalismo como ainda um gerador de insustentabilidade espiritual. “A técnica nos ensina o “que” fazer e “como” fazer, mas não ensina o “porquê”. A falta de sentido torna os jovens frágeis e incapazes de elaborar sofrimentos e frustrações, o que faz do capital espiritual um motor imprescindível para a mudança”.
O Pontífice fez estas reflexões para deixar aos jovens três indicações de percurso: olhar o mundo com os olhos dos mais pobres, investir em criar trabalho digno para todos e concretude para que todas as ideias se transformem em ação.

O Papa concluiu com uma oração:

“Pai, pedimos seu perdão por ferir gravemente a terra, por não respeitar as culturas indígenas, por não estimar e amar os mais pobres, por criar riqueza sem comunhão. Deus vivo, que por seu Espírito inspirou os corações, os braços e as mentes destes jovens e os colocou em direção a uma terra prometida, olha com bondade para sua generosidade, seu amor, sua disposição para passar a vida por um grande ideal. Abençoe-os em seus esforços, seus estudos, seus sonhos; acompanhe-os em suas dificuldades e sofrimentos, ajude-os a transformá-los em virtude e sabedoria. Apoiá-los em seus desejos de bondade e vida, sustentá-los em suas decepções diante de maus exemplos, não desanimar e continuar em seu caminho. Senhor, cujo Filho unigênito se tornou carpinteiro, dá-lhes a alegria de transformar o mundo com amor, inteligência e mãos. Amém”.

 

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