Bento XVI se mostrou hoje a favor do progresso científico na medicina, mas disse que a vida deve ser respeitada e defendida em todas as suas fases, "já que da defesa desses valores fundamentais depende a qualidade da convivência humana".
O Papa fez estas declarações durante a visita a Policlínica São Mateus, um dos hospitais mais prestigiados da Itália.
O Pontífice disse aos doentes e dirigentes do centro que o hospital é um lugar que de certa forma pode ser considerado "sagrado", já que nele se experimentam a fragilidade da natureza humana e a enorme potencialidade de recursos criados pelo homem e pela tecnologia ao serviço da vida.
"Meu desejo é que o progresso científico e tecnológico necessário promova junto com o bem-estar do doente os valores fundamentais como o respeito e a defesa da vida em cada uma de suas fases, dos quais depende a qualidade verdadeiramente humana da convivência", disse.
Após a visita ao hospital, o Papa celebrou uma missa na esplanada Orti dell' Almo e dedicou a homilia à figura de Santo Agostinho, cujos restos mortais estão na basílica de San Pietro in Ciel d'Ouro, de Pavia.
Bento XVI é um estudioso de Santo Agostinho, um dos principais inspiradores de seu pensamento teológico, e, em 1953, fez uma tese de doutorado sobre o autor de "A cidade de Deus".
Santo Agostinho (354-430) nasceu em Souk-Ahras, na Argélia, cidade que sob a dominação romana se chamava Tagasta, e foi bispo de Hipona (a atual Anaba, também na Argélia). Em 1295 foi aclamado "doutor da Igreja" durante o Pontificado de Bonifácio XIII.
Santo Agostinho teve grande influência no pensamento católico e assentou as bases da separação dos poderes espiritual e temporal. O Papa lembrou o livro "As confissões", de Agostinho, e disse que o santo é um modelo de conversão para os cristãos de todos os tempos devido a sua incessante busca pela verdade.
"Agostinho jamais se conformou com a vida como lhe era apresentada e como todos a viviam. Sempre estava atormentado pelo tema da verdade", disse o Pontífice. "Queria encontrar a verdade, queria saber o que é o homem, de onde vem o mundo, de onde nós viemos, para onde vamos e como podemos encontrar a verdadeira vida. Queria encontrar o caminho objetivo da vida, e não viver cegamente, sem sentido e sem meta", disse o Papa.
Segundo Bento XVI, a "paixão pela verdade" é a palavra-chave da vida de Agostinho. A conversão do santo foi dividida em três períodos: o caminho rumo ao cristianismo, a ordenação sacerdotal e suas obras e homilias.
O Papa ressaltou que Agostinho considerava que a obrigação dos bispos é "corrigir o indisciplinado, confortar o desanimado, ajudar os fracos, refutar o opositor, estimular os negligentes, conter os brigões, ajudar os necessitados, libertar os oprimidos, mostrar sua aprovação aos bons, tolerar os maus e amar todos".
Também acrescentou que, para o santo, o homem só é perfeito em Cristo e deve rezar todos os dias. O Pontífice disse que Agostinho era um homem "humilde", como se vê na integração de seu pensamento na fé da Igreja e no reconhecimento de que ele mesmo e toda a Igreja necessitam da misericórdia de um Deus que perdoa.
Antes de retornar a Roma esta noite, o Papa se reunirá com representantes da cultura local e visitará o túmulo de Santo Agostinho.