Segundo especialistas ligados à pastoral, mães não transmitem o vírus a seus filhos e leite pode ajudar na imunidade dos bebês
CNBB
Por ocasião do 1º de agosto, Dia Mundial da Amamentação, a Pastoral da Criança apontou uma novidade para as mães brasileiras que, neste contexto de pandemia, ficam com medo dos riscos de transmitir o vírus para seus bebês na amamentação. Estudo, coordenado por especialistas ligados à pastoral, comprovou que as mães não transmitem o vírus a seus filhos e que, ao contrário, facilita que os bebês construam sua imunidade ao novo coronavírus.
A amamentação é muito importante para o bebê e para a mãe. Por isso, a Pastoral da Criança trabalha pela sua promoção nas mais de 28 mil comunidades em que atua e em parceria com todos os atores que a defendem e apoiam. Até os seis meses, o bebê só precisa receber leite de peito. Os bebês que são alimentados com outro tipo de leite têm mais risco de ter pneumonia, diarreia, infecção de ouvido, alergia e infecção urinária. Além de os bebês sofrerem mais com essas doenças, elas também surgem com maior gravidade. Isso acontece porque as defesas do corpo do bebê não são reforçadas com a proteção que o leite materno dá.
O doutor em Epidemiologia pela London School of Hygiene and Tropical Medicine e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (RS) – (UFPel), Cesar Victora, aponta que a cada dia, aprendemos mais sobre os benefícios do aleitamento. Segundo ele, que também é coordenador do Comitê de Mortalidade Infantil da cidade de Pelotas desde 2006 e um dos autores da EPICOVID-19, pesquisas nos últimos anos têm demonstrado a importância do micro-bioma intestinal para a saúde e desenvolvimento da criança, com efeitos que persistem até a idade adulta.
A Epicovid-19 é uma pesquisa coordenada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas e financiada pelo Ministério da Saúde que tem por objetivo medir a prevalência do coronavírus e avaliar a velocidade de expansão da COVID-19 no país.
“O leite materno contém oligossacarídeos, uma espécie de fertilizante ou adubo que promove o crescimento de uma flora bacteriana saudável no intestino da criança. Estudos recentes demonstram a presença de células tronco no leite materno. São células vivas, cujas funções ainda não entendemos completamente mas que seguramente desempenham algum papel importante para a saúde infantil“, afirmou o pesquisador.
A força do leite materno
O doutor informa ainda que o leite materno tem o potencial de transmitir anticorpos maternos protetores ao bebê e é importante que as mães continuem amamentando, principalmente na época em que o coronavírus está circulando. Essa recomendação também vale para as mães que têm suspeita ou diagnóstico confirmado de coronavírus, pois elas podem continuar amamentando.
O pesquisador ressalta que “a pandemia por covid-19 tem causado também alguma preocupação em relação ao aleitamento, pois fragmentos de RNA viral foram identificados no leite materno. No entanto, não há nenhum estudo demonstrando que estes fragmentos indicam a possível transmissão do vírus pelo leite. Em segundo lugar, a mortalidade por covid-19 é baixíssima entre crianças, mesmo entre aquelas que são amamentadas no peito. E, finalmente, as mortes infantis que seriam causadas pela interrupção do aleitamento seriam muito mais frequentes do que uma eventual morte devida a transmissão do vírus pelo leite, que como afirmei acima ainda não está confirmada”, disse.
Segundo o doutor Nelson Arns Neumann, Coordenador Internacional da Pastoral da Criança, mestre em Epidemiologia e doutor em Saúde Pública e um dos autores da EPICOVID-19, os cientistas descobriram que a mãe quebra o vírus e passa pedacinhos dele pelo leite materno. “A criança em contato com estes pedacinhos de vírus começa a produzir seus anticorpos. Com isso, a criança já pode ficar imune ou, como começou a fabricar mais cedo os anticorpos, sara mais rápido. Isso vale para muitos tipos de vírus”, explicou.
O doutor Nelson, alerta que mesmo quando a mãe tem o coronavírus recomenda-se que continuem a amamentação seguindo alguns cuidados para evitar a transmissão, como a lavagem correta das mãos antes de pegar o bebê e o uso de uma máscara durante a amamentação. Contudo, segundo Nota da Sociedade Brasileira de Pediatria, de março de 2020, no caso da mãe não se sentir à vontade para amamentar diretamente a criança, é possível tirar o leite por meio da ordenha, seja manualmente ou por meio de bombas (com higiene adequada) e uma pessoa saudável poderá oferecer o leite ao bebê por copinho, xícara ou colher.