Sacerdote escreveu artigo sobre as consequências dos abusos sexuais contra menores, em particular, quando cometidos por sacerdotes e religiosos
Da redação, com Rádio Vaticano
“As feridas espirituais causadas pelos abusos sexuais” é o título de um longo artigo do padre jesuíta Hans Zollner, publicado no sábado, 4, na última edição da revista “Civiltà Cattolica”. Nele, o Presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana aprofunda o tema das terríveis consequências dos abusos contra menores, em particular, quando cometidos por sacerdotes e religiosos.
Padre Zollner, que é membro da Comissão para a Proteção dos Menores instituída pelo Papa Francisco, concentra seu artigo na “perspectiva” e no “sofrimento” das vítimas dos abusos, sublinhando o “trauma espiritual”, além do psíquico e físico, que é provocado quando o abusador é um representante da Igreja. “Se alguém é abusado pelo pai existe sempre um outro a quem dirigir-se para pedir ajuda: Deus. Porém, se é um sacerdote que comete o abuso, então a imagem de Deus fica obscurecida e pode-se cair em uma escuridão e em uma solidão abismal”, observou.
O sacerdote chama a atenção para a “mentalidade de trincheira” que muitas vezes foi adotada pela Igreja, com a intenção de resolver situações internamente, excluindo a dimensão pública, por temer pela própria reputação ou por aquela da própria Instituição. O resultado, segundo o sacerdote, é que se esquece quer o sofrimento das vítimas (que devem ser mantidas em silêncio), quer uma lei da mídia que afirma: “Cedo ou tarde as coisas vem à tona. Tome a iniciativa, reconheça o erro, desculpe-se honestamente e terás credibilidade”.
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O artigo dedica um amplo espaço às exigências e aos esforços que hoje os católicos devem enfrentar em relação a este tema, e pede um renovado compromisso e uma revisão do modo de ser Igreja. “O Papa Bento XVI com coerência tomou providências contra os autores de abusos, mesmo em altos escalões, com a sua renúncia deu um excelente exemplo de como é possível administrar o poder (na Igreja)”, relembrou Padre Zollner.
Sobre o Papa Francisco, o sacerdote jesuíta reforçou também sua admiração. “[Francisco] não se cansa de estigmatizar as doenças do clericalismo e de uma vida cômoda, e de pregar um retorno à simplicidade e a urgência do Evangelho”.
“A luta contra os abusos terá ainda uma longa duração, sendo necessário por isto dizer adeus à ilusão, de que a simples introdução de regras ou de linhas guias, seja a solução para isto”, escreveu padre Zollner. Para o alemão, o tema implica em uma conversão radical e uma atitude decidida para fazer justiça às vítimas e para a prevenção total.
“O Papa Francisco continuou e fortaleceu a linha de seu predecessor, sobretudo com a instituição da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. Ele criou assim, a nível de Igreja universal, as condições estruturais e materiais para poder acelerar com eficiência a tutela da infância em toda a Igreja Católica”, conclui padre Zollner.