As atividades do Simpósio contra Pedofilia, evento que acontece em Roma de 6 a 9 de fevereiro, continuam. Nesta quarta-feira, 8, o psicólogo e fundador do Centro Instituto Terapêutico “Acolher”, padre Edênio Valle, ministra uma palestra sobre o aspecto histórico social cultural e psico-sociológico do tema abordado.
De acordo com o padre, sua palestra terá uma abordagem um pouco diferente das demais, que vão falar sobre o posicionamento da Igreja em relação ao que ela tem feito como resposta ao problema. “Eu sou psicólogo, mas eu não vou abordar propriamente o problema psicológico do clero que incide nesse gravíssimo problema da pedofilia. Eu vou falar do ponto de vista que eu chamaria histórico social cultural e psico-sociológico”, ressaltou.
Padre Edênio disse ainda que o simpósio é uma forma de mostrar que a Igreja tomou consciência da gravidade do problema. Ele lembrou ainda que o Papa Bento XVI, assim como seu antecessor, João Paulo II, está empenhado em fazer com que a Igreja “parta para um posicionamento claro e definido, uma ação preventiva e uma intervenção na sociedade no sentido de ela fazer aquilo que é justo”.
Leia a entrevista na íntegra
Igreja e a pedofilia
Eu acho que, sem dúvida, [o simpósio] mostra que, neste momento, a Igreja tomou consciência de um problema muito sério que provocou escândalo nos principais países católicos e cristãos do mundo e que em parte mostrava, da parte da Igreja, um certo desconhecimento e talvez omissão.
Inimigos da igreja dizem que ela pecou, errou, ela negou um problema para salvar o seu próprio nome. Já João Paulo II e agora o nosso atual papa, Bento XVI, com muita coragem, querem que a Igreja parta para um posicionamento claro e definido, uma ação preventiva e uma intervenção na sociedade no sentido de ela fazer aquilo que é justo, aquilo que o evangelho e a missão dela pede a ela, que é impedir que se cometam crimes contra menores, que são os prediletos de Deus.
Palestras do simpósio
São dez palestras; eu faço a sexta. A maioria das palestras faz uma abordagem mais sobre o que as várias Igrejas, sobretudo a dos Estados Unidos, que é a mais organizada e tem mais tradição, falam sobre aquilo que as igrejas têm feito como resposta.
Também tratam do ponto de vista psicológico, jurídico, mas, sobretudo, vendo o problema, tentando mostrar para 200 bispos onde está o problema da igreja. Começou com o testemunho de uma mulher que foi vítima e de uma especialista psiquiatra no tratamento.
Palestra do padre Edênio
A mim pediram que eu fizesse uma abordagem um pouco diferente. Eu vou tratar do problema das relações entre sociedade, cultura e religião tentando mostrar que a Igreja deve fazer um diálogo com essas instâncias.
Eu sou psicólogo, mas eu não vou abordar propriamente o problema psicológico do clero que incide nesse gravíssimo problema da pedofilia. Eu vou falar do ponto de vista que eu chamaria histórico social cultural e psico-sociológico.
Minha abordagem é um pouco diferente, agora, ao mesmo tempo, no Brasil, eu sou um dos especialistas que há muito anos acompanha isto, em nível da CNBB, do Conselho Nacional de Presbíteros (CNP), da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), então eu vou trazer um pouco da nossa situação. Números, situações, problemas. Eu venho como psicólogo, e não representando a CNBB, que isso fique claro.
Eu vou falar da minha experiência e, como eu sou padre há 50 anos, psicólogo há 46 e doutor em psicologia há 42, então eu acho que eu tenho que dar um testemunho daquilo que seu sei sobre a Igreja do Brasil. Nisto eu sigo o que João Paulo II fez e o que Bento XVI está fazendo, quer dizer, não esconder o problema, mas tentar colocá-lo, entendê-lo e abordá-lo.
Eu acho que considerar os aspectos históricos, sociológicos, econômicos e políticos e a organização da sociedade civil, que atua muito, inclusive grupos hostis à igreja católica, que são fortes no Brasil, isso é fundamental e é disso que eu vou falar.
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