Roma

Os "nãos" da Igreja são "sins" à dignidade humana, afirma Papa

“Os não da Igreja, nas suas indicações morais”, são na realidade “um grande sim à dignidade da pessoa humana, à vida, à capacidade de amar”: sublinhou Bento XVI recebendo neste sábado de manhã os participantes no Congresso Internacional “O óleo nas feridas”, promovido pelo Pontifício Instituto João Paulo II para os Estudos sobre matrimónio e família, no desejo de entrever “uma resposta às chagas do aborto e do divórcio”.

Um tema que alude, naturalmente, à parábola do Bom Samaritano. De fato o aborto e o divórcio constituem feridas profundas, que “tanto sofrimento comportam na vida das pessoas, das famílias e da sociedade”, como observou o Papa. “Os homens e mulheres dos nossos dias encontram-se por vezes despojados e feridos, à margem das estradas que percorremos, muitas vezes sem ninguém que escute o seu grito de ajuda e se aproxime da sua pena para a aliviar e tratar”.

Reconhecendo que o divórcio e o aborto, são por vezes decididas em circunstâncias dramáticas, comportando traumas e profundos sofrimentos em quem as realiza, Bento XVI referiu as vítimas inocentes que assim são atingidas: a criança acabada de conceber e ainda não nascida e os filhos envolvidos na ruptura dos elos familiares. Feridas que permanecem por toda a vida. A nitidez do juízo da Igreja a este propósito não exclui uma atitude de compreensão perante as pessoas concretas, sublinhou o Papa:

“É claro e a todos conhecido o juízo ético da Igreja sobre o divórcio e o aborto provocado: trata-se de culpas graves que, em diferentes medidas e salvaguardada a avaliação das responsabilidades subjectivas, ferem a dignidade da pessoa humana, implicam uma profunda injustiça nas relações humanas e sociais e ofendem o próprio Deus, autor da vida.

E contudo a Igreja, a exemplo do seu Divino Mestre, tem sempre presente as pessoas concretas, sobretudo as mais debeis e inocentes, vítimas das injustiças e pecados, e também as dos outros homens e mulheres que, tendo realizado tais atos, se mancharam de culpas e levam consigo as respectivas feridas interiores, procurando a paz e a possibilidade de levantar-se”.

“A estas pessoas, assegurou Bento XVI, a Igreja tem o dever primário de as abordar com amor e delicadeza, com solicitude e atenção materna, para anunciar a proximidade misericordiosa de Deus, em Jesus Cristo”. Como ensinam os Padres da Igreja, é Cristo “o autêntico Bom Samaritano, que se fez nosso próximo, que derrama sobre as nossas chagas o óleo e o vinho, e nos conduz à estalagem, a Igreja, em que nos faz receber os necessários cuidados, confiando-nos aos seus ministros e pagando em pessoa, antecipadamente, o preço da nossa cura”. “O Evangelho do amor e da vida é também, sempre, evangelho de misericórdia, que se dirige ao homem concreto e pecador que nós somos, para o levantar das quedas e o restabelecer das feridas”.

Citando o seu predecessor, o Servo de Deus João Paulo II : “não existe para o homem outra fonte de esperança a não ser a misericórdia de Deus”, Bento XVI observou que “é a partir desta misericórdia que a Igreja cultiva uma indomável confiança no homem e na sua capacidade de se restabelecer”. Foi neste contexto que o Papa acrescentou:

“Os não que a Igreja pronuncia nas suas indicações morais e sobre os quais por vezes a atenção da opinião pública se detém de modo unilateral, na realidade são grandes sim à dignidade da pessoa humana, à sua vida e à sua capacidade de amar. São a expressão da confiança constante de que, não obstante as suas debilidades, os seres humanos são capazes de corresponder à altíssima vocação para a qual foram criados: a de amar”.

Quase a concluir a sua alocução aos participantes no Congresso promovido pelo Instituto de Estudos sobre o matrimónio e a família, Bento XVI recordou ainda “a grande tarefa dos discípulos do Senhor Jesus, que se encontram a caminhar lado a lado com tantos homens e mulheres de boa vontade”: “O seu programa, o programa do bom samaritano, é um coração que vê, que vê onde é que há necessidade de amor e atua em consequência”.

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