Segundo números divulgados, nesta terça-feira, 15, dos 275 mil deslocados, 70 mil são menores de idade
ANSA
A ofensiva militar da Turquia no nordeste da Síria já gerou mais de 275 mil deslocados internos, segundo números divulgados nesta terça-feira, 15, pelo governo de Rojava, a zona de administração autônoma controlada pelos curdos no país árabe. De acordo com um comunicado, a cifra de pessoas obrigadas a fugir de casa inclui 70 mil menores de idade e diz respeito sobretudo a algumas áreas das províncias setentrionais de Raqqa e Hasakah.
Segundo as autoridades de Rojava, há muitos deslocados dormindo na rua ou em escolas por causa da falta de assistência humanitária, já que a maior parte das organizações internacionais deixou a região.
Leia mais
.: Forças sírias e curdas se unem contra invasão na Turquia
O governo local ainda apelou às Nações Unidas, à Liga Árabe e à União Europeia para que intervenham “imediatamente” para fornecer apoio médico e logístico aos curdos. A ofensiva turca começou na última quarta-feira, 9, após os Estados Unidos terem anunciado a retirada de suas tropas do nordeste da Síria. O objetivo de Ancara é encerrar o domínio dos curdos na fronteira entre os dois países e enviar milhões de refugiados sírios para a região.
EUA: sanções contra a Turquia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira, 14, um decreto que aplica sanções contra a Turquia por causa de sua incursão militar no nordeste da Síria. A medida chega cerca de uma semana após Trump ter anunciado a retirada das tropas americanas da região, e do início de uma ofensiva contra os curdos no país árabe por parte da Ancara.
Desde então, a Turquia já conquistou cerca de mil quilômetros quadrados de território na Síria e “neutralizou” cerca de 600 combatentes curdos, segundo suas próprias contas. As sanções impostas por Trump atingem três ministros turcos, Hulusi Akar (Defesa), Suleyman Soylu (Interior) e Fatih Donmez (Energia), além dos ministérios da Defesa e da Energia como um todo. O presidente também aumentou a sobretaxa alfandegária contra o aço importado da Turquia para 50% e interrompeu as negociações para um acordo comercial de US$ 100 bilhões.
“Estou totalmente preparado para destruir a economia da Turquia se seus líderes continuarem nesse caminho perigoso e destrutivo”, disse Trump. O mandatário ainda enviará para Ancara “o quanto antes” seu vice, Mike Pence, e o conselheiro para Segurança Nacional da Casa Branca, Robert O’Brien, para iniciar tratativas com o governo Erdogan.
Leia também
.: Papa Francisco pede fim da violência na Síria e no Equador
“O presidente Trump comunicou claramente que, os Estados Unidos da América querem que a Turquia pare a invasão, implemente um cessar-fogo imediato, e comece a negociar com as forças curdas na Síria para encerrar a violência”, reforçou Pence. A decisão de Trump de se retirar da Síria foi criticada até por aliados nos EUA, já que pode abrir caminho para o Estado Islâmico reconquistar territórios no país árabe e para o regime de Bashar al Assad se fortalecer.
Sem proteção americana, os curdos fecharam uma aliança com Damasco para defender as cidades de Manbij e Kobane, mas a primeira já foi conquistada por Ancara, segundo a Rússia. As Forças Democráticas da Síria (SDF), coalizão formada majoritariamente por curdos, foram a principal aliada dos EUA na luta contra o EI no país e controlam um vasto território na fronteira com a Turquia.
A milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), um dos principais componentes das SDF, é acusada de “terrorismo” por Ancara e de ter ligações com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), movimento baseado na Turquia e que luta pela criação de um Estado curdo. Essa etnia reúne cerca de 30 milhões de pessoas e é considerada o maior povo apátrida no mundo.