“Quando a família vai mal, os problemas aumentam na sociedade”, foi o que alertou o Arcebispo de Aparecida (SP), Dom Raymundo Damasceno, em entrevista. O arcebispo abordou temas importantes como o olhar da V Conferência para a família, a necessidade de o Estado defender a família e testemunhou sua alegria em ser o anfitrião do Santo Padre Bento XVI, durante sua viagem ao Brasil.
Família
A família é fundamental para a sociedade e para a Igreja, numa expressão tão conhecida: é a base, a célula da sociedade e da Igreja. O Papa João Paulo II dizia que o futuro da humanidade passa pela família, porque ela tem uma função social, e prepara os cidadãos do futuro em cada sociedade e prepara também os cristãos para a Igreja em cada geração, porque a família é o santuário da vida, onde ela é acolhida e gerada, desenvolvida e aí é que os filhos são forjados no seu caráter, são formados em valores autênticos, humanos e evangélicos, valores esses que devem guiar a vida de cada um deles quando se tornam adultos, como cristãos e como cidadãos na sociedade.
O Papa também dizia que a família é a fronteira da nova evangelização, que está na base, e essa nova evangelização. Portanto, o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo e os valores todos, que Ele nos trouxe, são transmitidos fundamentalmente pela família aos seus filhos. É aí, portanto, que eles aprendem as boas maneiras. A cultivar certos valores importantes na vida, como a justiça e a verdade, o trabalho, o diálogo, uma vida mais sóbria, a humildade, o respeito às pessoas, ao diferente. É nela que eles aprendem as primeiras noções de religião, o hábito de freqüentar a igreja e também a preparar-se para receber os Sacramentos.
Enfim, é aí que recebem os primeiros cuidados da educação, que vão ser completados na escola, na faculdade, portanto, é aí que se forma o cristão e o cidadão do futuro. Por essa razão, a família tem uma função social muito importante, não é uma instituição de caráter meramente privado, individual, que fica à mercê do gosto de cada um. É uma instituição sagrada, querida por Deus e, por isso, ela deve ser protegida e defendida pelo Estado, porque da família surge todo o bem para a Igreja e para a sociedade.
V Conferência e a família
A V Conferência vai dedicar alguns pontos, no documento final, à família. O Papa Bento XVI, em diversos pronunciamentos, lembrava da importância da família, e as palavras dele evidentemente nos guiaram e nos orientaram nesta V Conferência.
A família é um Dom de Deus, um presente de Deus para a humanidade. Nós sabemos que hoje em dia as famílias sofrem muitas agressões em todos os sentidos e cabe à Igreja a missão de defendê-las e de protegê-las, e não somente a Igreja, mas o Estado também, como uma instituição. Se ele quer uma sociedade que viva em paz, de uma maneira fraterna, solidária, evidentemente que o Estado não pode desconhecer a importância da família, deve defendê-la, estabelecer políticas públicas que venham justamente a fortalecê-la. Daí a necessidade do acesso à educação, à saúde, do trabalho e da remuneração justa.
O Estado tem de fazer todo o possível para defender a família, porque quando a família vai mal, os problemas também aumentam na sociedade. A violência, os meninos de rua, tudo isso tem, muitas vezes, a origem na família. Uma criança que não tem a segurança do lar, a proteção, o carinho e o amor dos pais, não experimentou conviver com outros irmãos, num lar, sabendo tratar o diferente e ao mesmo tempo, aprender assimilar certos valores da vida, evidentemente que isso vai repercutir depois.
Na sua idade adulta, como cidadão e depois e se caso ele venha a constituir uma família, se ele não teve uma experiência de uma família equilibrada, onde ele experimentou o amor, o carinho, evidentemente que ele estará um pouco despreparado para constituir a sua própria família. Na V Conferência, certamente, parte do documento será dedicado à família. É importante que nas nossas paróquias, nas nossas dioceses nós valorizemos de modo muito especial a pastoral familiar.
O próprio tema da Conferência está a nos dizer que a família é chamada a tornar-se discípula de Jesus Cristo, a começar pelos pais. Eles têm a missão de ser formadores de seus filhos, discípulos e missionários num ambiente onde cada um vive, onde cada um atua, portanto, o primeiro lugar onde eles atuam é o seu lar, no ambiente familiar. Aí os pais são chamados a ser discípulos e também a fazer de seus filhos, discípulos, para que eles se tornem também missionários de Jesus Cristo, no seu ambiente escolar, porque o melhor apóstolo do jovem é o próprio jovem. Se eles aprenderem a ser discípulos de Jesus Cristo, no próprio lar, eles vão também ser missionários de Jesus Cristo no ambiente onde eles vivem, no seu estudo, no seu ambiente de lazer, na sua comunidade, no seu bairro. Eles vão dar testemunho perante as outras crianças e jovens, esses valores do Evangelho, tão importantes para nós, como a solidariedade, a paz, o diálogo, o perdão, o amor, a misericórdia, o trabalho, a sinceridade, a ajuda ao mais fraco, a partilha, às vezes do pouco bem que se tem, mas ele sabe partilhar ainda. Então ele vai ser também missionário, a criança, o jovem, e mais tarde é claro, ele será um cristão, um discípulo de Cristo mais maduro na sua fé e evidentemente, como conseqüência, um missionário mais comprometido com o testemunho de Jesus Cristo e dos seus valores, no ambiente onde cada um for chamado a viver mais tarde, como adulto.
A família é chamada a ser a Igreja doméstica, onde os pais vivem a fé, o amor, esse clima de oração e, ao mesmo tempo, procuram fazer de seus filhos, discípulos e missionários de Jesus Cristo, esta é a primeira responsabilidade dos pais. Além do lar, cada mãe, cada pai, no ambiente onde trabalham, são chamados e ser discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que os próprios filhos vejam que eles vivem de maneira coerente na sociedade e isso dá muito mais força ao que lhes é ensinado.
Visita do Papa
É uma alegria muito grande ser o anfitrião do Santo Padre Bento XVI, aqui em Aparecida (SP), no Seminário Bom Jesus, e ao mesmo tempo de ter sido anfitrião de todos os delegados, convidados especiais e os observadores na V Conferência, uma honra, uma alegria muito grande.
Exigiu de nossa parte um esforço de todos, para podermos preparar esses dois grandes acontecimentos, mas hoje já após a visita do Santo Padre, no dia 13, quando ele abriu a V Conferência, e agora, já concluindo os trabalhos, nós só temos que louvar e agradecer a Deus, porque tudo transcorreu da melhor maneira possível. Não houve nenhum incidente, nada de grave que perturbasse a presença dos Bispos e do Papa. Tanto em São Paulo, como de modo particular aqui, em Aparecida, o Santo Padre foi acolhido de uma maneira muito afetuosa, tão carinhosa, tão calorosa pelos fiéis da arquidiocese, como pelos romeiros que aqui vieram.
Todos contribuíram, cada um a seu modo, de acordo com suas possibilidades e suas responsabilidades, para o bom andamento desses dois grandes acontecimentos que vão marcar a história da Igreja na América Latina, e em particular a história da Igreja, aqui em Aparecida.
A Igreja de Aparecida será algo de diferente a partir da visita do Papa e da V Conferência, porque nós todos somos chamados, como deseja o Santo Padre e a própria V Conferência, que toda Igreja da América Latina e do Caribe se coloque num estado de missão, isto é, que todos nós nos sintamos comprometidos, responsáveis, para levar Jesus Cristo àqueles que se afastaram de nossas comunidades, àqueles que em sua vida não são mais influenciados pelo Evangelho, ou àqueles que nunca ouviram falar de Jesus Cristo.
Nós temos essa grande responsabilidade de fazer com que todos descubram a alegria de ser discípulos de Jesus Cristo, de ser missionários de Jesus Cristo, porque o nosso mundo somente será feliz e encontrará a paz à medida que nós realmente encontrarmos em Jesus Cristo, o Filho de Deus, o nosso Salvador, o Caminho, a Verdade e a Vida.