Impactos negativos no desenvolvimento infantil incluem agitação, irritabilidade e dificuldades na autorregulação emocional
Gabriel Fontana
Da Redação
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Foto: Kelly Sikkema via Unsplash
Fenômenos nas redes sociais, é difícil assistir a apenas um ou dois. Minutos e até mesmo horas se passam enquanto a atenção fica completamente presa aos vídeos curtos que vão passando pela tela dos smartphones.
Opção de entretenimento e distração, esse tipo de conteúdo pode ser prejudicial se consumido em excesso. Ainda que os vídeos possam conter informações relevantes e contribuir com o aprendizado, a frequência com que são assistidos e a superficialidade para condensar os temas abordados podem trazer riscos, sobretudo para os mais novos.
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Estéfani Ortiz / Foto: Arquivo pessoal
A neuropediatra Estéfani Ortiz aponta que a presença dos dispositivos eletrônicos tornou-se cada vez maior no cotidiano das crianças. Ela sublinha, porém, que a exposição excessiva a plataformas de vídeos curtos tem suscitado preocupações entre especialistas em desenvolvimento infantil.
Segundo Estéfani, as cores vibrantes, sons altos e mudanças rápidas de cena – recursos utilizados para prender a atenção – geram uma sobrecarga sensorial que pode resultar em estados de agitação, irritabilidade e dificuldades na autorregulação emocional das crianças. “A exposição contínua a esses estímulos intensos pode sobrecarregar o sistema nervoso em desenvolvimento, tornando mais desafiador para a criança processar informações de maneira calma e organizada”, observa.
Além disso, a neuropediatra cita que “estudos indicam que o consumo frequente de vídeos de curta duração pode estar associado a dificuldades de concentração, redução da capacidade de atenção sustentada e impactos negativos no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças”.
Impaciência e reforço da gratificação instantânea
Outro impacto negativo é o reforço da gratificação instantânea, que também leva à impaciência. A natureza imediatista dos vídeos curtos pode incentivar nas crianças uma busca constante por recompensas rápidas, dificultando o desenvolvimento da paciência e da capacidade de lidar com tarefas que exigem esforço contínuo. “Essa dinâmica pode comprometer a habilidade da criança em se engajar em atividades que demandam perseverança e dedicação”, pontua Estéfani.
Esta ativação excessiva do sistema de recompensas do cérebro aumenta a liberação de dopamina e pode levar a comportamentos compulsivos. Tais fatores podem gerar alterações na estrutura e na função cerebral, prejudicando a capacidade de focar em tarefas prolongadas e complexas.
“Embora os vídeos curtos possam oferecer entretenimento e, em alguns casos, informações educativas, é crucial que seu consumo seja moderado e supervisionado”, sinaliza a neuropediatra. “Pais e educadores devem estar atentos aos potenciais impactos negativos dessa prática e incentivar atividades que promovam o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de maneira equilibrada e saudável”, acrescenta.
Sugestões de conteúdos para crianças
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Emily Pires / Foto: Arquivo pessoal
A neurocientista Emily Pires indica que, caso os pais ainda permitam que as crianças façam uso de telas, é preferível que o conteúdo oferecido a elas seja mais calmo, educativo e compatível com o ritmo de desenvolvimento infantil.
Entre as sugestões estão vídeos mais longos e narrativos, pois ajudam a desenvolver a paciência e capacidade de atenção porque exigem que a criança acompanhe uma história do início ao fim. Além disso, cita a neurocientista, conteúdos com músicas mais suaves e tranquilas podem auxiliar no desenvolvimento da linguagem e regulação emocional.
Animações com cores mais suaves e movimentos mais lentos ajudam a evitar a sobrecarga sensorial e, consequentemente, a ansiedade. Por fim, vídeos interativos e educativos e programas que incentivam a criança a cantar, repetir palavras ou resolver desafios podem ser mais benéficos, sugere Emily.
A principal recomendação, contudo, é que os pais estejam presentes e participem dos momentos com tela, ajudando a criança a processar o conteúdo e fazendo conexões com a vida real. Por outro lado, é importante que outras atividades sejam proporcionadas ao longo do crescimento da criança.
Desenvolvimento fora das telas
A neurocientista salienta que o desenvolvimento infantil acontece principalmente fora das telas, por meio de experiências concretas que envolvem movimento, interação social e criatividade. “Algumas atividades fundamentais incluem brincadeira ao ar livre: correr, pular corda, andar de bicicleta e brincar com outras crianças são essenciais para o desenvolvimento motor e social”, afirma.
Além disso, jogos e atividades manuais também são importantes, como desenhar, pintar, montar blocos e brincar com massinha, contribuindo com o desenvolvimento da coordenação motora e também da criatividade. Emily cita ainda outras alternativas, como leitura e contação de histórias, música e dança, e brincadeiras simbólicas (brincar de “faz de conta).
“O ideal é que o tempo de tela seja limitado e equilibrado com essas atividades que realmente contribuem para o crescimento saudável da criança. Se as telas forem utilizadas, que seja de forma consciente e supervisionada, garantindo que a criança tenha um desenvolvimento mais equilibrado e saudável”, conclui a neurocientista.