O "Recírio"

Neste mundo sempre teremos oportunidade de dar um passo a mais

Nesta segunda-feira, com o Recírio, redobrarão as avaliações que normalmente fazemos do maior acontecimento paraense, que chama a atenção do mundo pela constância, originalidade e presença.

Já nesses dias tenho ouvido muitas pessoas falando suas impressões sobre o Círio 2007, tanto no aspecto de influência pessoal, seja em procurar ajudar com idéias a respeito de questões que podem ser melhoradas. Sem dúvida que tudo pode ser melhor! Enquanto caminhamos nesse mundo sempre teremos oportunidade de dar um passo a mais, seja em nossa vida de conversão, como naquilo que fazemos. Mesmo que procuremos fazer o melhor possível, a cada ano surge uma nova possibilidade de aperfeiçoamento.

A vida é dinâmica e graças a Deus podemos estar atentos aos progressos humanos procurando sempre o melhor. Sou testemunha de que essa é a preocupação constante dos responsáveis em organizar o nosso “Círio de Nazaré”. Voluntários, homens e mulheres de fé que, junto com os seus pastores, fazem com alegria, mesmo apesar dos sacrifícios que isso envolve, a sua parte (em) para fazer acontecer essa tradição de Belém que marca a vida dos seus habitantes e influencia não só o restante (dó) do Pará, mas também de muitos outros lugares do Brasil, principalmente onde residem pessoas que aqui nasceram ou que por aqui passaram e fizeram a experiência do Círio.

A avaliação mais positiva é que o Círio aconteceu mais uma vez! Diferentemente das capitais que perdem sua alma ao crescer, Belém continua dando ao mundo testemunho que a sua alma cresce na proporção que cresce a população de nossa região. As raízes de nossa identidade que nos fazem ser o que somos enquanto povo acolhedor, caloroso, fraterno, ligado à família, aberto aos vizinhos, festivo, religioso e amoroso continuaram sendo alimentadas com mais um Círio. E isso apesar da globalização que, atingindo a todos, leva muitos a perderem suas tradições regionais além de trazer valores estranhos à nossa cultura, levando a tantas situações de violência, das quais infelizmente também somos testemunhas. Talvez devido à disponibilidade e abertura que temos, somos muito mais contaminados pelos falsos valores da globalização que, é claro, tem a sua parte positiva e de avanços científicos.

Segundo alguns filósofos, estamos justamente numa mudança de época, mais que em uma época de mudanças, e sentimos como as transformações culturais, sociais, religiosas têm levado a certas intolerâncias, violências, desagregação familiar, perda dos valores religiosos, dificuldade de relacionamento, relaxamento moral e ético. Aqui em Belém continuamos vendo que é possível ser uma grande metrópole que cresce e se desenvolve, mas que infelizmente se torna cada vez mais violenta. Também podemos ainda contemplar famílias e amigos reunidos de dia ou de noite diante de suas casas para uma festa familiar ou mesmo para a refeição do final de semana. É possível mesmo numa grande multidão reconhecermo-nos e nos darmos as mãos no cumprimento efusivo próprio de nossa região. É possível termos um olhar terno e puro demonstrando o bem que temos no coração apesar de todas as mazelas que existem ao nosso redor.

Tenho claro para mim que enquanto o Círio estiver marcando o ano e trazendo à tona tudo o que aprendemos de nossos pais, mesmo no crescimento e progresso da modernidade, estaremos cultivando nossas raízes que nos fazem ser um povo singular, com suas tradições humanas, religiosas, gastronômicas, culturais, musicais, de danças, de gestos e de preocupação social. Como progredir, melhorar, sermos uma sociedade mais justa, sem perder a alma de nossa região? Eis o desafio que a modernidade nos apresenta neste tempo de tantas transformações!

Posso citar entre as avaliações o sentido da unidade necessária para caminhar, que aprendemos com a “corda”: sem uma unidade não conseguiríamos levar a berlinda até a Praça do Santuário. Como levar uma multidão de pessoas livres a caminharem juntas, na mesma direção, sem perder a liberdade e animadas pela missão que fazem? Alegro-me pelas pequenas comunidades que fizeram as peregrinações e que continuam suas reuniões procurando formar comunidades missionárias; pelos que vieram de longe para cumprir seus votos e que nos deram exemplos de perseverança e coragem no Senhor; os participantes das 11 romarias, da quinzena de pregações e de shows na Praça Santuário; por todos que vieram de suas regiões para passar o segundo final de semana com suas famílias e participarem também da mesa do almoço familiar; por todas as entidades que ajudaram a marcar com os enfeites, outdoors, homenagens e celebrações o clima de nossa grande solenidade de Outubro.

Enquanto houver um pai com o seu filho nos ombros e a mãe ensinando-o a fazer o sinal da cruz ou levantar sua mãozinha ao passar a berlinda navegando pela multidão das ruas de Belém e apontando para uma pequena imagem que nos recorda Maria, a Mãe de Jesus, que nos apresenta o Cristo como Senhor e Salvador e nos ensina a adorar o Deus único e verdadeiro, temos esperanças de que nossas raízes continuarão a levar a seiva para a grande árvore de nossa vida humana e cristã. Que as experiências do Círio deste ano se acrescentem às experiências que temos em nossas vidas e levem-nos a perseverar no bem, a sermos bons e cada vez mais contemplarmos o belo. Deus seja louvado por tudo, e que continuemos com mais essa riqueza de experiência a nossa caminhada em nossa vocação e missão aqui nestas terras da Rainha da Amazônia!

O Recírio

Este ano, a imagem original da virgem de Nazaré retornou ao Gloria as seis da manhã no dia de hoje.

A subida da imagem é realizada no presbitério da Basílica desde 1969. A estatueta permanece ali até o próximo Círio. Logo após a subida acontece a celebração da missa do Recírio, as 6:30h da manhã na Praça Santuário. Por volta das 7:30h da manhã sai uma procissão, com curto percurso, de pouco mais de 200 metros conduzindo a imagem peregrina da virgem padroeira de Belém até a capela do colégio Gentil Bittencourt.

Antigamente , o Recírio era realizado no domingo a tarde. Em 1859 ainda conhecido como “último ato da festividade nazarena”, ao chegar à praça em frente ao Palácio do Governo a missa era celebrada e lá acontecia a queima de fogos de artifícios.

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