Superior da comunidade dos monges caldeus em Erbil, padre Yohanna Samer Soreshow, comenta ida do Papa à região
Da redação, com Vatican News
A ocupação a planície de Nínive por parte do Isis esvaziou esta região da presença cristã. Mais de 100 mil cristãos foram forçados a deixar suas casas junto com outras minorias perseguidas, tais como os yazidis. Muitas dessas famílias encontraram refúgio no Curdistão iraquiano, no bairro cristão de Erbil. Nos últimos anos, pelo menos 55 mil cristãos iraquianos também foram expatriados do Curdistão iraquiano. A fúria destrutiva dos jihadistas não poupou suas igrejas e propriedades, que foram destruídas ou seriamente danificadas.
O padre Yohanna Samer Soreshow, Superior da Comunidade dos Monges Caldeus em Erbil, conta como há dois anos começou a construção de um novo mosteiro para substituir o perdido em Mosul.
Como o senhor se sentiu diante dessa expropriação?
Padre Soreshow: “Nos tiraram tudo, mas há sempre aquela ancoragem à fé, aquela esperança de voltar a ser como era antes. Estamos tentando novamente aqui, o velho mosteiro acabou em escombros, há a esperança de refazê-lo aqui em Erbil, mas também a de poder um dia voltar para Mosul. Nossos olhos ainda estão voltados para aqueles lugares devastados, para aqueles lugares desconsagrados onde cada vestígio de nossa presença milenar foi enterrado.
Aqui os cristãos não são estrangeiros, somos nativos, ainda falamos aramaico, a língua de Jesus, estamos enraizados aqui, mesmo que nos tenhamos mudado de uma cidade para outra. Há uma mistura de sentimentos. Sentimo-nos feridos, roubados, pisoteados em nossa dignidade, mas sempre retribuímos com a oração, com a intenção de amar e a vontade muito enraizada no Evangelho para fazer o bem, numa tentativa de criar uma sociedade melhor para que as pessoas que prejudicaram minorias possam mudar”.
Como vocês se prepararam para a chegada do Papa Francisco?
Padre Soreshow: “Dizemos “irmão”, tanto em árabe como em aramaico, o que significa que alguém resgata alguém que está sofrendo. Nós sempre quisemos que nossos irmãos em Cristo sentissem nossa dor e viessem em nosso auxílio. A obstinação do Santo Padre em vir aqui e não decepcionar nossas expectativas, e a memória do povo iraquiano em suas orações nos deram conforto para que não sofrêssemos duas vezes. Ele vem dizer: “Eu sou seu irmão, sinto sua dor, trago paz, esperança, amor”. Todos estão se preparando com os meios possíveis que têm – não estamos vivendo uma estação alta do ponto de vista econômico – mas todos, muçulmanos e cristãos, todos, estão fazendo o melhor que podem para receber o Papa com elegância.
Ele fez um gesto ‘louco’ ao vir aqui, mas está nos dando extrema felicidade porque sabemos que temos valor aos seus olhos. Ele não vem aqui para resolver nossos problemas, mas para nos ajudar a nos amarmos e a dialogar, e para poder dar valor ao cidadão, independentemente de sua afiliação étnica ou religiosa. Na cidade de Qaraqosh crianças e adultos estão se preparando com danças, desenhos, roupas especiais. Em Erbil esperamos que esta fraternidade seja precisamente a dos que ajudam, que não voltemos à página de sangue na qual o irmão mata seu irmão.”
O senhor gostaria de nos dizer algo sobre a situação dos refugiados?
Padre Soreshow: “Eu estava um pouco enjaulado com o serviço de ensino, mas quando fui para os acampamentos eu sabia que a realidade que tinha visto nas redes sociais era ainda mais dolorosa. Quando cheguei, percebi que as pessoas estavam sem nada, mas ainda com um sorriso fraco. “Eles levaram nossas casas, mas nós ainda temos nossa fé, eles não a tiraram de nós”, diziam.
Os bens terrenos talvez voltem para as gerações futuras, mas o importante é não ter perdido sua fé. Foi encorajador para mim que pedia para trabalhar, perguntando onde, como…. Essas pessoas sofreram tanto que eu deveria aprender tudo com elas, deveria ser mais forte e mais corajoso, como elas.”