Sob protestos

Ministros tunisianos deixam o partido governista

Ministros do governo provisório da Tunísia vêm deixando o partido que governa o país desde a independência, reagindo a protestos populares pelo fim da influência desse grupo após a queda do presidente Zine al Abedine Ben Ali.

A decisão, anunciada nesta quinta-feira, 20, pela TV estatal, pode contribuir para a restauração da credibilidade do governo provisório, depois de quatro ministros da oposição terem deixado o gabinete nesta semana, em protesto contra a manutenção de membros do antigo regime.

O primeiro-ministro e o presidente interino já haviam deixado o partido Reunião Constitucional Democrática (RCD) nesta semana.

Em mais um passo no rompimento com o regime de Ben Ali, deposto por uma rebelião popular na semana passada, o Banco Central assumiu o controle sobre um banco pertencente a um genro do ex-presidente, segundo a TV estatal.

Na véspera, 33 membros da família de Ben Ali foram detidos por suspeitas de enriquecimento ilícito. A TV estatal mostrou peças de ouro e joias supostamente apreendidas com essas pessoas. A Suíça congelou o patrimônio de parentes do ex-presidente, que passou 23 anos no poder e se refugiou na Arábia Saudita.

Manifestantes, embora menos numerosos do que durante os dias de furor que levaram à queda de Ben Ali, continuaram na quarta-feira insistindo na demissão de todos os ministros ligados ao outrora temido RCD.

Eles dizem que só isso poderá satisfazer as esperanças desencadeadas pela chamada "Revolução de Jasmim", motivada pela pobreza, o desemprego e a corrupção no país.

Também na quarta-feira, os líderes provisórios da Tunísia anunciaram a libertação dos últimos presos políticos e prometeram um "completo rompimento com o passado".

Os tiroteios e saques nas ruas diminuíram nos últimos dias, mas um morador do bairro de Mouroudj, a cinco quilômetros do centro de Túnis, disse que policiais e militares agiram na noite de quarta-feira, depois que homens armados começaram a disparar. Helicópteros sobrevoaram a área, e as forças de segurança usaram alto-falantes para dizer às pessoas que ficassem em suas casas.

Em Sidi Bouzid, localidade na região central do país, onde a revolta contra Ben Ali teve início quando um jovem vendedor de legumes se imolou ao ser proibido de trabalhar, moradores disseram ainda não ter visto sinais de mudança.

"A gangue de Ben Ali continua na RCD e está tentando roubar a revolução e o sangue dos mártires", disse o professor e sindicalista local Lazhar Gharbi. "Queremos a dissolução desse partido. Essa é a solução, e queremos responsabilizar seus membros pela corrupção", disse ele à Reuters.

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