Comunidade internacional também não reconhecerá o pleito na Venezuela, que contou com menos de 50% de participação do eleitorado
Ansa
Em uma votação com menos de 50% de participação do eleitorado, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito para governar o país até 2025. A oposição, no entanto, não reconhece o resultado.
Segundo o Comitê Nacional Eleitoral (CNE), presidido pela chavista Tibisay Lucena, Maduro recebeu cerca de 68% dos votos (5,8 milhões), com 96% das urnas apuradas. Já seu principal rival, Henri Falcón, teve 21% (1,8 milhão).
Dissidente chavista, Falcón rompera com a aliança de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD), que pregava o boicote às eleições, e sai das urnas denunciando ilegalidades na vitória de Maduro. “Não reconhecemos este processo eleitoral e o qualificamos como ilegítimo”, denunciou o candidato, exigindo uma nova votação.
“Estamos obtendo 68% dos votos, com 47 pontos de vantagem para o candidato que mente”, comemorou Maduro, acusando seu rival de ter denunciado fraudes antes mesmo que os resultados viessem à tona. Os outros dois postulantes, Javier Bertucci e Reinaldo Quijada, ficaram com 11% e 0,5% dos votos, respectivamente.
A afluência foi de 46%, uma queda de mais de 30 pontos em relação às últimas eleições presidenciais, em 2013, vencidas por Maduro por pouco mais de 200 mil votos sobre Henrique Capriles.
A oposição contesta a validade do pleito, que estava previsto para o fim deste ano, mas acabou antecipado repentinamente para maio. A decisão foi amparada pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC), órgão dominado pelo chavismo e formado pelo governo para suplantar os poderes do Parlamento, controlado pela oposição.
Estados Unidos, União Europeia e o Grupo de Lima, que inclui diversos países das Américas, como o Brasil, não devem reconhecer o resultado da votação. A Igreja Católica também é crítica desse processo eleitoral.
“Hoje tivemos outro simulacro de eleição democrática na Venezuela. Claramente isso não é mais uma democracia”, acusou o presidente da Argentina, Mauricio Macri. O vizinho Chile também não reconheceu o resultado da votação.
As eleições venezuelanas ocorreram em meio a uma grave crise econômica e social, com inflação galopante e centenas de milhares de migrantes forçados se espalhando pela América Latina. A tensão se arrasta desde 2013, quando Maduro assumiu o lugar do falecido Hugo Chávez e passou a conviver com protestos cada vez mais inflamados nas ruas do país.
O ponto mais crítico para o presidente foi em 2015, quando a oposição venceu as eleições legislativas e assumiu a maioria no Parlamento. No entanto, o governo, amparado por uma Suprema Corte e órgãos eleitorais pró-chavismo, entrou em rota de colisão com o Legislativo.
Em 2017, novos protestos tomaram as ruas da Venezuela, gerando dezenas de mortos e fazendo Maduro convocar eleições para uma assembleia constituinte. A oposição, que já detinha o poder Legislativo, boicotou o pleito, também questionado pela comunidade internacional.
Ainda contribuiu para a crise venezuelana a derrocada do preço do petróleo, principal produto da frágil economia do país, que sofre com carência de alimentos e itens básicos.