Em 5 de Setembro de 1997, o coração de Madre Teresa de Calcutá deu o último suspiro. Passados dez anos, a obra que esta santa ergueu continua viva e o seu sorriso perdurará. Esta data ficará na história do século XX. Durante a sua vida, ela simbolizava o amor aos mais carentes, com atitudes que lhe rendeu o apelido de "santa das sarjetas". Aquela frágil mulher tinha uma força inesgotável e colocava em prática as palavras do Evangelho: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22, 39).
Com o final do milênio à porta desapareceu a mulher que se entregou aos "mais pobres dos pobres" e deixou muitos corações desamparados. Uma parada cardíaca, depois de várias pneumonias e crises de malária, "levaram" Madre Teresa. A humanidade perdeu alguém que, por nada ter, nem poder, tinha toda a autoridade porque ninguém conseguia dizer não a um pedido que ela formulasse.
Calcutá chorou, provavelmente, como nenhuma outra cidade do mundo, a morte desta mulher que escolheu a gigantesca metrópole indiana para viver toda uma vida ao serviço daqueles que não tinham ninguém. "Era uma verdadeira santa admirada por todos os indianos, independentemente da sua religião" – sublinhavam os habitantes de Calcutá.
Vocação precoce
Em Skopje, capital da Macedônia, pequena cidade com cerca de vinte mil habitantes, nasceu, a 26 de Agosto de 1910, Agnes Gonxha Bojaxhiu. A sua família era católica e pertencia à minoria albanesa que vivia no Sul da antiga Iugoslávia. Um dia após o seu nascimento, Gonxha recebeu o Batismo e a sua educação teve lugar numa escola estatal durante os tristes anos da Primeira Guerra Mundial. Com um timbre de voz muito suave e harmonioso, a pequena Gonxha tornou-se solista do coro da Igreja da sua aldeia e, mais tarde, chegou a dirigir esse mesmo coro paroquial.
Ainda criança, Gonxha entrou para a Congregação Mariana das Filhas de Maria que tinha uma filial na sua paróquia. Os mais pobres da região recorriam à Igreja para diminuírem as suas carências. Gonxha sentia a sua vocação crescendo ao assistir a esta atividade de assistência aos mais carentes.
"Aos pés da Virgem de Letnice escutei um dia o chamado que me apelava a servir Deus" – disse, posteriormente, Madre Teresa e confessou ainda que descobriu a intensidade do chamado "com uma grande alegria interior". Quando completou 18 anos, o apelo à vida religiosa tornou-se irresistível para a jovem e, a 25 de Dezembro de 1928, partiu de Skopje rumo a Rathfarnham, na Irlanda, onde se situa a Casa Geral do Instituto da Beata Virgem Maria.
Gonxha tinha como ideal ser missionária na Índia e um sacerdote jesuíta contribuiu para esta doação aos mais pobres devido à informação de que, na Índia, as freiras dessa congregação faziam um "excelente" trabalho.
Depois de uma longa viagem, a futura religiosa chegou à casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto. A estadia em Rathfarnham foi um porto intercalar já que embarcou rumo a Bengala. Durante a primeira semana esteve em Calcutá e daí viajou até Dajeerling, ao seminário da Congregação fundada pela missionária Mary Ward.
Feitos os estudos e chegada a hora de professar os votos temporários de Pobreza, Castidade e Obediência – 24 de Maio de 1931 – Gonxha escolheu o nome de Teresa. De acordo com as constituições da Congregação do Loreto devia mudar de nome. "Escolhi chamar-me Teresa" – contou anos depois, devido à figura inspiradora de Santa Teresa D'Ávila. No entanto "não foi pela grande Teresa que escolhi o nome – disse – mas sim pela pequena: Santa Teresa de Lisieux".
Encarregada de dar formação espiritual às "Filhas de Santa Ana" – hoje formam uma congregação autônoma – Teresa absorveu o estilo de vida bengali e, posteriormente, transmitiu-o às suas freiras, quando criou as "Missionárias da Caridade".
Uma viagem luminosa
O momento da virada aconteceu de forma imprevista. Num dos seus relatos, Teresa conta que, a 10 de Setembro de 1946, numa viagem para o convento de Dajeerling, onde ia fazer os exercícios espirituais, enquanto rezava sentiu um "chamado dentro do chamado". A mensagem era clara: "devia deixar o convento do Loreto (em Calcutá) e entregar-se ao serviço dos mais pobres e viver entre eles". Com a "iluminação divina", Teresa sentiu uma hesitação: como realizá-la. Este dia de Setembro ficou marcado na história das Missionárias da Caridade e, obviamente, no livro da vida de Madre Teresa como o "Dia da Inspiração".
Teresa de Calcutá pensava nos pobres da cidade que todas as noites morrem pelas ruas e, na manhã seguinte, são lançados para os carros de limpeza como se fossem lixo. Não se habituava a este "terrível espectáculo matinal". Queria fazer algo em prol daqueles esqueléticos a pedir esmola na rua e a esperar que o tempo os levasse.
A luz recebida no trajeto de Calcutá para Dajeerling foi objeto de meditação no retiro de Teresa. Este terminou numa pergunta muito concreta: "Que poderei fazer por estes infelizes?".
Abandonado o hábito da Congregação do Loreto, a Irmã Teresa comprou um sari branco, debruado de azul e colocou-lhe no ombro uma pequena cruz. Foi com esta nova indumentária – o vestido duma modesta mulher indiana – que passou a ser conhecida no mundo inteiro.
A vida da religiosa sofreu novos contornos e quando a Santa Sé reconheceu a Congregação – 7 de Outubro de 1950 pelo Papa Pio XII – a instituição da Madre Teresa de Calcutá contava com centenas de membros em todo o mundo. Primeiro, começou a levar os moribundos para um lar onde eles pudessem morrer em paz e com dignidade. Em seguida, abriu um orfanato. De forma gradual, outras mulheres se uniram a ela neste projeto. Nasceu uma nova Congregação religiosa – "Missionárias da Caridade" – para se dedicar aos mais pobres entre os pobres.
A luz do projeto ganhou raízes no solo fértil e as vocações começaram a surgir. Neste viveiro vocacional – muitas das mulheres que aderiram foram antigas alunas – Madre Teresa vê uma bênção de Deus. Sem operações de marketing, o trabalho da consagrada albanesa ganhava visibilidade e as vocações para "Missionárias da Caridade" surgiam a bom ritmo.
De abrigo em abrigo, Teresa de Calcutá dava – mais do que donativos – lições de higiene e moral, palavras amigas e as mãos sempre prontas para qualquer trabalho. Não foi preciso muito tempo para que todos a conhecessem. Quando ela passava, crianças famintas e sujas, deficientes, enfermos de toda a espécie, gritavam por ela com os olhos inundados de esperança: "Madre Teresa! Madre Teresa!"
Dez anos depois da morte de Madre Teresa de Calcutá, a Congregação das Missionárias da Caridade, que a religiosa fundou, continua a dar seguimento à sua obra, ajudando os mais desfavorecidos e estabelecendo centros de acolhimento para pessoas carentes.