Fim da ditadura

Kadafi é capturado e morto em sua cidade natal na Líbia

Muammar Kadafi está morto, anunciaram os novos líderes da Líbia nesta quinta-feira, 20. De acordo com eles, o antigo líder foi morto por combatentes que invadiram a cidade natal dele e seu último bastião nesta quinta-feira. Seu corpo ensanguentado foi exibido ao redor do mundo a partir de uma imagem de celular.

Autoridades seniores do governo interino, que colocou fim ao governo de 42 anos há dois meses, afirmaram que a morte dele permitirá uma declaração de "libertação" após oito meses de derramamento de sangue. O atual governo enfrenta dificuldades para subjugar milhares de homens leais ao antigo líder.

"Nós confirmamos que todos os males, mais Kadafi, desapareceram deste querido país", disse o primeiro-ministro Mahmoud Jibril em Trípoli, enquanto o corpo era levado como um prêmio de guerra a Misrata, a cidade cujo cerco e sofrimento sob as mãos das forças de Kadafi a tornaram um símbolo da causa rebelde.

"É o momento de dar início a uma nova Líbia, a uma Líbia unida", acrescentou Jibril. "Um povo, um futuro." Uma declaração formal de libertação, que dará início a uma contagem regressiva para uma eleição, será feita na sexta-feira, disse ele mais tarde.

Líderes ocidentais, que tiveram a cautela de não se pronunciarem antes da declaração de Jibril, ecoaram seus sentimentos agora que Kadafi, autoproclamado "rei dos reis" na África, morreu aos 69 anos.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que, ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi um dos primeiros defensores da revolta de fevereiro em Benghazi, afirmou: "O povo da Líbia hoje tem uma chance ainda maior depois dessa notícia de construir um futuro democrático e forte."

A nova bandeira nacional, retomada pelos rebeldes que forçaram Kadafi a fugir da capital Trípoli em agosto, tomava as ruas e praças, enquanto a multidão festejava e disparava para o alto.

Em Sirte, que já foi um vilarejo de pescadores e como cidade natal de Kadafi ganhou esquemas grandiosos e se tornou uma nova "capital da África", os combatentes dançavam e exibiam uma pistola dourada, que, segundo eles, foi retirada de Kadafi.

Os relatos sobre as horas finais do ex-líder foram confusos. Aparentemente, elas custaram a vida de assessores importantes. Mas as principais autoridades do Conselho Nacional de Transição, incluindo Abdel Majid Mlegta, afirmaram que ele morreu em decorrência dos ferimentos que sofreu em confrontos.

Horas finais

Uma descrição possível, feita a partir de várias fontes, sugere que Kadafi pode ter tentado sair de seu último reduto ao alvorecer em um comboio de veículos após semanas de resistência.

Entretanto, ele foi detido por um ataque aéreo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e capturado, possivelmente três ou quatro horas depois, após tiroteios com combatentes do CNT, que o encontraram escondido em uma galeria pluvial.

A Otan informou que seus caças dispararam contra um comboio perto de Sirte por volta das 8h30 (4h30 no horário de Brasília), atingindo dois veículos militares do grupo, mas não pôde confirmar se Kadafi estava em algum deles.

Os relatos de seus inimigos sugerem que a captura e a morte logo depois decorrente dos ferimentos podem ter ocorrido por volta do meio-dia.

Um dos filhos de Kadafi, Saif al-Islam, continuava solto, acreditam eles. Mlegta, do CNT, disse à Reuters que ele foi cercado depois de também tentar fugir de Sirte. Um outro filho, Mo'tassim, cuja prisão foi anunciada no começo do dia, foi morto ao resistir à prisão, acrescentou Mlegta.

Ele disse que Kadafi foi ferido em ambas as pernas no começo da manhã enquanto tentava fugir em um comboio que foi atacado por caças da Otan. "Ele também foi atingido na cabeça", disse ele. "Houve muitos disparos contra o grupo dele e ele morreu."

Não foram poucos os combatentes do CNT em Sirte que disseram ter visto o ex-líder morrer, mas muitos relatos eram conflitantes.

A televisão líbia exibiu um vídeo de duas galerias pluviais, de cerca de 1 metro, onde afirmou que os combatentes encurralaram o homem que por muito tempo inspirou temor e admiração ao redor do mundo.

Depois do levante em fevereiro no leste do país ao redor de Benghazi, inspirado pelos movimentos da Primavera Árabe que derrubaram os líderes da Tunísia e do Egito, a revolta contra Kadafi cresceu lentamente em todo o país até a queda dramática de Trípoli, em agosto.

Libertação

Esperava-se o anúncio da liberação final, enquanto o presidente do CNT preparava-se para falar à nação de 6 milhões de habitantes. Agora, eles enfrentam o desafio de transformar o país rico em petróleo em uma democracia que possa acabar com as divisões tribais, étnicas e regionais exploradas por Kadafi e seu clã.

O período de dois meses desde a queda de Trípoli representou um teste de paciência para a aliança de forças anti-Kadafi e seus apoiadores árabes e ocidentais, que começaram a questionar a capacidade das forças do CNT de acabar com a resistências dos homens leais a Kadafi em Sirte e em outras duas cidades.

Procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob a acusação de ordenar a morte de civis, Kadafi foi derrubado pelas forças rebeldes em 23 de agosto, uma semana antes do 42o aniversário do golpe militar que o conduziu ao poder em 1969.

Os combatentes do CNT hastearam a bandeira nacional vermelha, preta e verde acima de um grande edifício no centro de um bairro de Sirte e os tiros de comemoração ecoaram entre os camaradas extasiados.

Centenas de soldados do CNT cercavam a cidade costeira no Mediterrâneo há semanas em uma luta caótica que matou e feriu muitos homens de ambos os lados.

Os combatentes do CNT afirmaram que havia um grande número de corpos dentro do último reduto das tropas de Kadafi. Não foi possível verificar imediatamente essa informação.

A morte de Kadafi é um revés aos que buscavam a verdade plena com relação ao ataque ocorrido em 1988 sobre Lockerbie na Escócia ao voo 103 da Pan Am, no qual 270 pessoas morreram, em sua maioria norte-americanos, e pelo qual um dos agentes de Kadafi foi condenado.

"Ainda há muito a ser resolvido e talvez tenhamos perdido a oportunidade para chegar mais perto da verdade", disse Jim Swire, pai de uma das vítimas de Lockerbie.

Swire nunca acreditou na culpa de Abdel Basset al-Megrahi, que foi condenado pelo ataque em 2001 e enviado para cumprir prisão perpétua numa prisão da Escócia. Al-Megrahi foi libertado e mandado de volta para a Líbia em 2009 porque se acreditava que ele tinha apenas alguns meses de vida.

"Embora não tenhamos nada de evidência de que o próprio Kadafi estivesse envolvido na atrocidade de Lockerbie, minha aposta é de que ao menos ele sabia quem esteve", afirmou Swire à Sky TV.

"Eu teria gostado de ver Kadafi comparecer perante o Tribunal Penal Internacional para responder às acusações sobre o tratamento que dispensou a seu próprio povo e para ouvir o que sabia sobre a atrocidade de Lockerbie."

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