Segundo Mushtaq Gill, os advogados evitam decidir o que fazer por medo de retaliação e vingança por parte dos fundamentalistas
Da Redação, com Agência Fides
“Os magistrados não querem julgar o caso de Asia Bibi”, declarou à Agência Fides o advogado cristão, Sardar Mushtaq Gill, responsável pela Ong LEAD, que está acompanhando este caso e outras vítimas de blasfêmia.
Segundo Mushtaq Gill, os advogados evitam decidir o que fazer num caso tão delicado, por medo de retaliação e vingança por parte dos fundamentalistas e, por esse motivo, adiam continuamente o processo. No último dia 27, o julgamento foi adiado pela quinta vez.
“Estamos preocupados porque, diante desta inércia, muitas vítimas inocentes definham nas prisões apenas por causa de sua fé, entre elas Asia Bibi e Sawan Masih. Enquanto isso, a multidão de extremistas que queima casas e igrejas de cristãos permanece impune”, ressalta.
O advogado afirma que clima de ameaça é ainda forte para todos os cristãos. “Recentemente um acusado de blasfêmia, Khalil Ahmed, foi morto, por um adolescente, quando estava na delegacia. Também um advogado e ativista de direitos humanos, Rashid Rehman, foi morto porque tinha decidido defender um suposto blasfemo. Os seus assassinos ainda estão foragidos”, lembrou.
Mushtaq Gill conta também que o juiz que condenou o assassino do governador Salmaan Taseer, foi forçado a fugir para o exterior. Para o advogado, a lei da blasfêmia tornou-se um instrumento de perseguição até mesmo contra aqueles que defendem os acusados, fazendo do Paquistão, um país muito perigoso para as minorias.
“Estamos vivendo um dos piores momentos da história do país: vemos níveis sem precedentes de marginalização e violência contra as minorias religiosas. Como podemos falar sobre liberdade religiosa, liberdade de pensamento e expressão, se a lei não é uma garantia para todos, se não existe um julgamento justo e se foi difundida a detenção injusta só por causa da diferença de fé?”, indaga.
O advogado fez um apelo ao governo, como um Estado laico, para que todos possam desfrutar de direitos iguais e serem tratados do mesmo modo perante a lei. “As minorias querem promover a paz e a harmonia religiosa no Paquistão”, concluiu o advogado.
Asia Noreen, conhecida como Asia Bibi, foi condenada à morte em 8 de dezembro de 2010, acusada de blasfêmia contra o profeta Maomé. O caso da paquistanesa cristã, casada e mãe de 5 filhos, ganhou interesse mundial após acusações de perseguição religiosa, pois, segundo relatos da comunidade cristã local, Asia teria se negado a converter-se ao islamismo.