ALERTA

Jovens são mais vulneráveis a consumismo e redes sociais, diz psicólogo

Enxurrada de tendências na internet associada a busca por pertencimento e identificação impactam negativamente crianças e adolescentes, alerta especialista

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: Carlos Barquero via Canva

Entre doces do momento, livros de colorir e chaveiros de pelúcia, as redes sociais têm apresentado cada vez mais tendências nos seus conteúdos. É tanta informação que pode ficar difícil de acompanhar (e entender) tudo o que está acontecendo. Contudo, basta perguntar para um adolescente ou até mesmo uma criança por essas novidades, que é bastante provável que eles saibam dizer o que está na moda.

A massoterapeuta Bruna Soares tem três filhos: Gabriel, de 18 anos; Júlia, de 17; e Manoela, de 13. Ela reconhece que, às vezes, fica desatualizada diante de tanta coisa que surge na internet, mas tenta se manter por dentro das novidades conversando com os filhos. “Entre uma brincadeira e outra, o diálogo faz crescer a amizade e a confiança entre nós”, afirma.

Diretora de uma empresa de marketing, Nicole Melhado explica que a sociedade vive um tempo de hiperconexão, onde tudo acontece e se espalha em tempo real. Ela comenta que, do ponto de vista antropológico, o ser humano sempre buscou imitar comportamentos como forma de se sentir parte de um grupo. Com as redes sociais, esse movimento se intensificou.

“As plataformas amplificam comportamentos, conteúdos e estéticas que geram engajamento. As chamadas trends viralizam quando conseguem unir entretenimento, fácil reprodução e identificação com o público”, detalha Nicole.

Tendência após tendência

Nicole Melhado / Foto: Arquivo pessoal

No entanto, prossegue a especialista, o ciclo dessas tendências é curto porque a velocidade de consumo de conteúdo é muito alta. “Assim que uma nova tendência surge, rapidamente outra toma o seu lugar”, observa.

Em meio a este movimento no mundo digital, as marcas buscam utilizar essas trends para criar conexão com seu público, adaptando linguagens e formatos para se manter próximas e relevantes. Os influenciadores também desempenham um papel fundamental neste ciclo: muitas vezes, são eles que criam ou adaptam um conteúdo que conquista a atenção e começa a ser replicado.

“Esse processo influencia diretamente o comportamento do público, pois os seguidores tendem a confiar no gosto, na curadoria e no estilo de vida dos influenciadores que acompanham. É um mecanismo de validação social: se alguém que admiro e sigo faz, é mais provável que eu queira experimentar também”, conclui Nicole.

Busca por pertencimento

Bruna reconhece essa influência que as redes sociais podem exercer sobre os jovens, tendo impactos positivos e negativos. “Infelizmente, os impactos negativos são maiores”, expressa, “incluindo isolamento social, comparação excessiva e problemas de autoestima e saúde mental, como ansiedade e depressão”.

Bruna (à dir.) com os filhos Gabriel, Júlia (à esq.) e Manoela (ao centro) / Foto: Arquivo pessoal

O psicólogo e membro da Comunidade Canção Nova Daniel Machado reflete que a velocidade das informações recebidas pelo cérebro humano tem gerado uma sobrecarga. O resultado disso é o aumento significativo de transtornos como ansiedade e depressão, citados pela Bruna, e uma sensação de esgotamento emocional, sobretudo entre os mais jovens.

Daniel cita ainda que as redes sociais têm impulsionado o consumismo, reflexo de dois fatores: a busca por pertencimento e a comparação constante. “As plataformas vendem, de forma sutil, a ideia de que para ser aceito ou admirado é preciso ter o que está em alta, seja um produto, uma roupa, ou uma experiência. Isso ativa mecanismos psicológicos ligados à recompensa imediata: a compra traz uma sensação rápida de prazer, mas que dura pouco, levando a um ciclo de insatisfação e desejo por mais”, detalha.

Atenção a crianças e adolescentes

O psicólogo sublinha que as crianças e os adolescentes tendem a ser mais vulneráveis a esse tipo de influência, uma vez que seu cérebro ainda está em desenvolvimento. Assim, os jovens sentem mais intensamente o desejo de aceitação e têm mais dificuldade de filtrar o que é saudável ou não no que consomem.

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Diante disso, Daniel frisa que os pais devem limitar o acesso dos filhos a telas e conteúdos digitais. Até os dois anos, orienta, o contato deve ser zero, pois o cérebro não processa as informações e os estímulos que vem daí. “Posteriormente, o contato com as novas tecnologias e conteúdos deve ser rigorosamente escolhido, cronometrado e supervisionado”, complementa.

Em relação aos adolescentes, o psicólogo indica que os pais tendem a “amenizar” a supervisão, mas deve acontecer justamente o contrário. “Numa fase de vida em que a identidade está sendo construída e onde os adolescentes tendem a aderir aos apelos do grupo social, os pais devem fazer acordos muito concretos com os filhos: ou eles supervisionam os conteúdos, ou não tem celular. Neste caso, como psicólogo, eu sempre digo que é melhor errar por excesso de zelo do que por omissão”, finaliza.

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