Professor Guzmán Carriquiry, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, fala sobre a expectativa de Cuba em receber o Papa Francisco
Da redação, com Rádio Vaticano
A ilha de Cuba, meta da primeira parte da iminente viagem apostólica do Papa, viveu momentos difíceis nos últimos decênios. Mas agora, graças à aproximação com os Estados Unidos tanto desejada também pela Igreja local, abrem-se novas prospectivas para o povo e os fiéis.
Em entrevista a Rádio Vaticano o professor Guzmán Carriquiry, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, falou sobre o significado da viagem de Francisco à ilha caribenha:
Prof. Carriquiry – “Alguns quiseram sublinhar a dimensão política desta viagem em tempos de reaproximação das relações entre Estados Unidos e Cuba, tendo presente que o Papa falará ao Congresso dos EUA e na Assembleia Geral das Nações Unidas. Mas, não é uma intencionalidade política o que leva o Papa a Cuba e aos Estados Unidos, mas um objetivo pastoral e missionário: isso é muito importante, é necessário reafirmá-lo com força. O Papa vai a Cuba para abraçar na caridade de Cristo todo o povo cubano para confirmar a fé dos católicos cubanos, para agradecer a Igreja cubana pela sua fidelidade e para encorajá-la hoje a prestar um precioso serviço para toda a nação em todos os âmbitos, em todas as dimensões da vida do país.”
A Igreja cubana viveu momentos de grande dificuldade nos últimos decênios. Agora tem diante de si novas prospectivas, inclusive de presença na sociedade. Qual é a sua reflexão?
Prof. Carriquiry – “É preciso afirmar, antes de tudo, que Cuba, ao contrário dos regimes soviéticos da Europa Oriental, nunca rompeu as relações diplomáticas com a Santa Sé: elas até foram melhoradas nos últimos anos, assim como melhoraram as relações de diálogo entre as autoridades cubanas e aquelas eclesiásticas. Isso é importante, mas é ainda mais importante enaltecer essa renovada vitalidade da Igreja de Cuba. A peregrinação da Virgem da Caridade do Cobre de 2010 até o fim de 2011 foi um sinal evidente de vida dos cubanos entre o estupor e a devoção, o entusiasmo – acolhida em todas as casas, nos lugares de trabalho. Foi como relançar a presença da Igreja no tecido vivo do povo cubano. Hoje, a Igreja de Cuba é um grande sinal de esperança. A Igreja não pede privilégios para si mesma, mas uma maior presença nas instâncias educativas, da comunicação social, dos serviços sociais, da caridade e em todos os âmbitos da vida pública do país, seria um sinal de maior espaço de liberdade para todos.”
O povo cubano está vivendo um período de grandes mudanças, mas também de grande esperança. Qual sua expectativa?
Prof. Carriquiry – “Lembro aquelas palavras proféticas de São João Paulo II quando disse: ‘Cuba se abra ao mundo e o mundo se abra à Cuba’. Hoje parece se realizar esse desejo em modo particular. Como disse Papa Francisco, ‘a Igreja constrói sempre pontes, não muros’. A superação desses 50 anos de contraposição entre Estados Unidos e Cuba é um grande bem. Certamente é importante para uma extensão das relações e estou convencido que o Santo Padre Francisco pedirá, como fizeram os seus predecessores, de superar o embargo que ainda enfrenta o povo cubano. Existem passos para frente para serem dados, a esperança é que de uma parte a queda dos muros ajudem a melhorar a situação econômica de um povo empobrecido como aquele cubano e, da outra, favoreça o desenvolvimento de uma sociedade mais plural e menos engessada do regime.”
Depois de Cuba, Papa Francisco vai aos EUA. Como a reaproximação entre esses dois países pode mudar o panorama do continente americano?
Prof. Carriquiry – “Hoje é uma oportunidade histórica para os Estados Unidos para rever seriamente as próprias responsabilidades em relação à América Latina e para relançar uma política de cooperação com os países latino-americanos, muito respeitada pelos seus interlocutores. Uma outra intuição profética de João Paulo II pode acontecer, aquela da exortação apostólica ‘Ecclesia in America’: a Igreja que é sinal de comunhão entre as igrejas de todo o continente e de solidariedade entre os povos. Da outra parte, o fato que os hispânicos sejam um componente tão importante na sociedade, na população norte-americana, ajuda esse processo. Não se pode esquecer que, daqui a pouquíssimos anos, os hispânicos constituirão a metade dos católicos nos Estados Unidos. Essa refundação das relações entre EUA e os países latino-americanos feita com esse respeito, com essa autêntica solidariedade, é algo que deverá passar através de tempos certamente longos, não é algo simples.