Papa Francisco encontrou-se com cinco mil jovens consagrados e respondeu a três perguntas sobre o chamado vocacional, a missão dos consagrados na Igreja e sobre a vivência coerente da vocação
Da redação, com Rádio Vaticano
O Papa Francisco encontrou-se na manhã desta quinta-feira, 17, com cinco mil jovens que participam do Encontro Mundial de Jovens Consagrados, em andamento em Roma.
O Pontífice agradeceu as palavras do Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal João Braz de Aviz, e, em seguida, recordou os mártires sírios e iraquianos de hoje.
“Alguns dias atrás na Praça São Pedro um sacerdote iraquiano se aproximou de mim e me deu uma cruz pequena, uma cruz que tinha nas mãos o sacerdote que foi degolado por não renegar a fé em Jesus Cristo. Esta cruz eu a trago aqui à luz dos testemunhos de nossos mártires de hoje, que são mais do que os mártires do primeiro século, e também dos mártires do Iraque e da Síria”, disse o Santo Padre.
Francisco respondeu perguntas feitas por três jovens consagrados: um sírio de Aleppo, uma indiana e uma espanhola.
O Pontífice alertou que a comodidade é um problema sério na vida consagrada. “Eu faço tudo, cumpro os mandamentos, as regras, mas a observância rígida e estruturada tira a liberdade. Existe uma liberdade que vem do Espírito e outra que vem da mundanidade. A liberdade deve ser unida ao testemunho e à fidelidade”.
“Uma mãe que educa os filhos com rigidez, não deixa os filhos sonhar, crescer, anula o futuro criativo dos filhos. Esses filhos serão estéreis. Também a vida consagrada pode ser estéril quando não é profética, quando não se permite de sonhar”, sublinhou.
O Papa recordou Santa Teresa do Menino Jesus, Padroeira das Missões, que fechada num convento “não perdeu a capacidade de sonhar. Não perdeu o horizonte. Nunca perdeu a capacidade de contemplação. Profecia e capacidade de sonhar é o contrário da rigidez. A observância não deve ser rígida, se é rígida não é observância, mas egoísmo pessoal”, disse.
“Um dos pecados que muitas vezes encontro na vida comunitária é o da incapacidade de perdão entre os irmãos e irmãs. A fofoca numa comunidade impede o perdão e distancia um dos outros. Eu gosto de dizer que fofocar não é somente pecado, mas é também terrorismo, porque quem fofoca joga uma bomba na fama do outro, destrói o outro que não pode se defender. Sempre se fofoca na escuridão, não na luz. A escuridão é o reino do diabo. A luz é o Reino de Jesus”, frisou o Papa.
Sobre a instabilidade na sequela de Jesus, Francisco disse “que desde o início da vida consagrada até hoje existem momentos de instabilidade. São as tentações. Os primeiros monges do deserto escrevem sobre isso e nos ensinam como encontrar a estabilidade interior, a paz. As tentações sempre existirão”.
“Vivemos num tempo muito instável. Vivemos a cultura do provisório e essa cultura entrou também na Igreja, nas comunidades religiosas, nas famílias e no matrimônio. A cultura do definitivo: Deus enviou o seu Filho para sempre, não provisoriamente a uma geração ou a um país, mas a todos. A todos para sempre. Este é um critério de discernimento espiritual”, disse ainda Francisco.
Sobre a pergunta relativa à evangelização, o pontífice disse que “evangelizar não é fazer proselitismo. Evangelizar não é somente convencer, é testemunhar que Jesus Cristo está vivo. Se o seu coração arde de amor por Jesus, você é um bom evangelizador ou evangelizadora.” “Desculpem-me se sou um pouco feminista, mas quero agradecer o testemunho das mulheres consagradas. Não todas, pois têm algumas que são histéricas. Vocês têm sempre o desejo de estarem na vanguarda. Por que? Porque vocês são mães e têm essa maternidade da Igreja. Não percam isso. A religiosa é o ícone da Igreja Mãe e de Maria. Vocês têm esse papel na Igreja: serem ícone da Igreja, ícone de Maria, ícone da ternura da Igreja, do amor da Igreja, da maternidade da Igreja e da maternidade de Nossa Senhora. Não se esqueçam disso”, frisou o Papa.
Respondendo à pergunta do jovem consagrado sírio, Francisco destacou a necessidade de seguir Jesus mais de perto, de maneira profética e sublinhou a palavra ‘memória’. “Os apóstolos nunca se esqueceram do encontro com Jesus. Nos momentos escuros, nos momentos de tentação, nos momentos difíceis de nossa vida consagrada é preciso voltar às fontes, recordar a maravilha que sentimos quando o Senhor nos olhou.”
“Você me pediu para partilhar a minha memória, o primeiro chamado em 21 de setembro de 1953, mas não sei como foi. Sei que por acaso, entrei na Igreja, vi o confessionário e sai dali diferente, sai de outra maneira. A minha vida mudou. O sacerdote que me confessou naquele dia, que eu não conhecia, estava ali por acaso porque sofria de leucemia. Ele morreu um ano depois. Depois me guiou um salesiano que tinha me batizado. Fui a ele e ele me encaminhou para os jesuítas. Ecumenismo religioso! Nos momentos difíceis me ajudou muito recordar o primeiro encontro, porque o Senhor nos encontra sempre definitivamente. O Senhor não entra na cultura do provisório. Ele nos ama e nos acompanha sempre. Por isso, estar próximo às pessoas, a proximidade entre nós, fazer profecia com o nosso testemunho, com o coração que arde, com zelo apostólico que aquece os corações dos outros. Portanto, profecia, memória, proximidade, coração que arde, zelo apostólico e cultura do definitivo, e não descartável”, concluiu Francisco.