O prefeito da Congregação para os Bispos – órgão da Cúria Romana, com sede no Vaticano –, Cardeal Marc Ouellet, afirma que compreender o ser humano a partir do mistério da Trindade "poderia reavivar a esperança, exaltando o dom de si a Deus e aos outros como caminho de felicidade".
É o que ele afirma no artigo que escreveu para a edição desta sexta-feira, 25, do jornal oficial do Vaticano L'Osservatore Romano, com o título "A novidade antropológica do cristianismo".
Cardeal Ouellet indica que hoje há, de um lado, um grande clima de relativismo ético – segundo o qual todos são juízes particulares da própria existência – e, de outro, muitas aspirações ao amor e à liberdade que acabam enredadas nas pedras do individualismo e hedonismo. "As nossas sociedades geram uma massa de indivíduos solitários que não ousam se comprometer em um projeto de matrimônio para fundar uma família", afirma.
O prefeito da Congregação vaticana lembra que essa insegurança no coração encontra raízes em um mal-estar mais profundo. Tomando como inspiração as palavras do Papa Bento XVI no Motu proprio Ubicumque et semper – através do qual instituiu o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização -, ele recorda que o Pontífice descreve esse mal-estar como "o deserto interior que nasce lá onde o homem, desejando ser o único artífice da sua natureza e do seu destino, se encontra desprovido daquilo que constitui o fundamento de tudo", isto é, Deus.
"O Santo Padre repete essa mensagem desde o início do seu pontificado: 'O grande problema do Ocidente é o eclipse de Deus: é um eclipse que se expande. Definitivamente, todo o problema pontual pode ser reconduzido a essa questão'", cita Ouellet.
Nova evangelização
O Cardeal diz que está convencido de que a nova evangelização deve anunciar a novidade antropológica do cristianismo que emana do ministério trinitário. Mas o que isso significa?
"A busca da felicidade que habita no coração do homem, as suas exigências afetivas, e sobretudo a sua aspiração à liberdade tornam-se incompreensíveis na ausência de Deus no horizonte, Deus que é Amor e que, por amor e através do amor, criou o homem à sua imagem e semelhança", responde o prefeito.
Ouellet explica que essa concepção ficou praticamente esquecida por século, embora ocupasse um lugar central nas reflexões dos Padres da Igreja e de São Tomás de Aquino.
"Hoje, as sociedades ocidentais secularizadas estão em declínio, pois falta um enraizamento nas suas tradições cristãs. Elas retomarão vigor e tornarão a ser fecundas na medida em que os indivíduos, frente ao anúncio do Evangelho, desejarem se tornar pessoas em comunhão profunda com Deus em Cristo. O anúncio de uma antropologia trinitária poderia, portanto, reavivar a esperança", finaliza.