Homilia

Dom Odilo: evangelização é acima de tudo obra de Deus

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Estimados irmãos e irmãs, a Igreja na América Latina vive dias de especial graça de Deus. No tempo Pascal e peparando-nos para a celebração de Pentecostes, estamos reunidos aqui em Aparecida em nome das Igrejas locais de todo Continente para discernir na luz e na graça do Espírito Santo o que Deus quer dizer hoje a nós e a nossos povos. Ao mesmo tempo para discernir sobre as prioridades e as escolhas pastorais mais importantes que ajudem a Igreja a realizar sua missão de discípula e missionária de Jesus Cristo neste tempo em meio aos nossos povos.

A palavra de Deus agora proclamada ouvida ilumina nosso trabalho e missão. Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos vemos em ação o grande evangelizador dos povos o apóstolo Paulo. Ele parte de novo, ele e seus companheiros, discípulos e missionários pregam incansalvelmente o evangelho unindo povos e culturas diversas na mesma fé e na mesma Igreja. O evangelho vai superando as fronteiras geográficas e políticas, as barreiras culturais, raciais e étnicas. A comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja vai se tornando o espaço e a casa comum de toda a família humana. Podemos dizer que está em ação a verdadeira globalização do mundo que acontece através do anúncio do Evangelho. Jesus torna-se para todos caminho, verdade e vida.

Também hoje, a globalização desencadeada pelo progresso científico e técnico pode receber um endereço verdadeiro e uma alma, na medida quando soubermos iluminar e transformar essa nova forma de convivência pela força do Evangelho e pela graça da encarnação e da redenção do verbo de Deus. Paulo não evangeliza sozinho. Seu ardor e seu entusiasmo por Jesus Cristo consegue envolver tantas outras pessoas, aqui são citadas algumas como Apolo, Áquila e Pricila. Paulo sabe fazer pastoral vocacional e sabe formar as pessoas para o ministério, espondo-lhe exatamente o caminho de Deus. Percorre novamente como se fisesse visitas pastorais as regiões já evangelizadas da Galácia e da Frígia, fortalecendo todos os discípulos. Dedica-se a confirma na fé os irmãos de Acaia que enfrentam dificuldades e estão vacilantes na fé. Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, Apolo e tantos outros são verdadeiros discípulos e amigos de Jesus Cristo, e por isso tornam-se seus ardorosos missionários. Nosso trabalho evangelizador entre os povos da América Latina e do Caribe requer de nós igualmente, que convidemos muitas outras pessoas, muitos outros discípulos de Jesus Cristo numa eficaz pastoral vocacional. Que os preparemos devidamente e os enviemos em missão. Precisamos de sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas a Deus na vivência dos muitos carismas que o Espírito Santo suscita a partir da vivência do evangelho. Precisamos também de muitos leigos e leigas bem formados e felizes por serem discípulos de Jesus Cristo e membros da Igreja para que possam transformar com sua presença e atuação as estruturas da convivência humana com a luz, o sal e o fermento do evangelho.

No evangelho de São João que nós ouvimos, Jesus consola os discípulos perplexos diante do anúncio de sua subida ao Pai. Os discípulos estavam tristes porque ainda não haviam compreendido que Jesus havia confiado a eles sua própria missão, a missão de evangelizar o mundo. Nem haviam compreendido que sua ausência física não significava abandono, mas uma nova presença. Jesus lhes entregava Seu nome como referência para a identificação dos discípulos e como força para a missão no mundo. Era o mesmo que dizer: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra". E depois, ou ainda dizer: "Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos". O nome de Jesus é a autoridade com a qual os discípulos deverão anunciar o evangelho para realizar milagres, para convidar todos as conversão e a vivência do Reino de Deus. Em nome de Jesus os discípulos poderão dirigir-se também ao Pai celeste para pedir com toda confiança aquilo que quiserem, com a certeza de que serão ouvidos. O nome de Jesus entregue aos discípulos lhes confere uma intimidade e uma amizade com o próprio Jesus que o próprio Pai do céu reconhece, por isso nem mais é preciso que Jesus mesmo interceda em favor dos discípulos, pois o próprio Pai conhece, ama e escuta aqueles que creram e se tornaram amigos de Jesus. Em outras palavras, crer no Filho, amar o Filho é também ter a certeza do amor do Pai.

Quando Jesus afirma, "saí do Pai e vim ao mundo, e novamente parto do mundo e vou para o Pai"; ensina que leva consigo no retorno ao Pai também a humanidade unida a Si pelo mistério da encarnação e da redenção. O Filho não retorna sozinho ao Pai, mas leva Consigo a humanidade, que uniu a Si para sempre. Isso deve ser motivo de grande alegria para os discípulos, pois lhes mostra claramente o destino final do caminho do discipulado, ou seja, a participação para sempre na glória do Filho na casa do Pai. Este é um dos aspectos fundamentais do discipulado é o chamado a viver a graça da íntima união da amizade com o Filho de Deus, que nos amou  epor nós se entregou, para que tivéssemos parte na sua vida. Pelo mistério da encarnação, o Filho de Deus associou a Si intimamente toda a humanidade pelo envio dos discípulos em missão. Essa graça deve ser anunciada como boa notícia para toda a humanidade. Toda a família humana cada pessoa e todos os povos precisam conhecer a se alegrar na misericórdia de Deus Pai manifestada na obra do Filho e sempre atual pela ação do Espírito Santo.

A Igreja no meio dos povos da América Latina e do Caribe recorda com gratidão e alegria que é mensageira do evangelho do Filho, e não da própria palavra. Ela se apresenta diante do mundo no nome de Jesus, com a autoridade de Jesus, com o nome e autoridade do Filho de Deus, mas ainda, ela se apresenta no nome do pai, do Filho e do Espírito Santo; pois assim ela foi enviada por Jesus.

A evangelização é acima de tudo desejo e obra do próprio Deus. Por isso ao mesmo tempo que a Igreja se sente enviada com grande responsabilidade, que a leva a dizer com São Paulo, "ai de mim se eu não evangelizar", ela se sente agraciada de maneira inaudita, ela sente-se feliz e confiante, pois sabe, não está sozinha, ela sabe que deve evangelizar com grande humildade e fidelidade, umas vez que é servidora e não dona do evangelho. O anúncio da Santa Palavra de Deus e o testemunho da vida nova que brota da fé é o maior serviço que a Igreja pode prestar aos povos para que eles conheçam o amor do Pai e tenham a vida plena por meio do Filho.

Caríssimos irmãos e irmãs, no evangelho lido hoje, Jesus manda que peçamos em seu nome tudo o que quisermos. Na certeza que o Pai nos atenderá no dia de hoje, vamos então pedir  de maneira especial a graça do afervoramento e da fortaleza da fé para todos os filhos da Igreja, para que possam testemunhar essa fé com coragem e alegria. E peçamos que o Espírito Santo desperte no coração da Igreja, também hoje, o mesmo ardor dos discípulos da primeira e da segunda hora.

Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja invocada com tantos títulos bonitos interceda por nossos povos, e aqui invocada por Nossa Senhora Conceição Aparecida, interceda por nós e por nossos povos. Que ela nos ensine sempre o verdadeiro caminho do discipulado e nos acompanhe na missão. Assim seja.

*Dom Odilo Scherer é o arcebispo de São Paulo (SP)

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