Evangelização

Dom Cláudio clama "novo Pentecostes" para América Latina

"Necessitamos de um novo Pentecostes!". Esta foi a exclamação do prefeito da Sagrada Congregação para o Clero, Dom Cláudio Cardeal Hummes, no início de sua intervenção na manhã desta quinta-feira, dia 24, na Conferência de Aparecida (SP). Incentivando a "grande missão continental" que a Igreja deve empreender na América Latina e no Caribe, o bispo tocou no drama dos batizados que não foram bem evangelizados.

"De fato, a grande maioria dos católicos em nosso continente não participam mais, ou nunca participaram, da vida de nossas comunidades eclesiais. Nós os batizamos, mas por muitos motivos não temos conseguido evangelizá-los suficientemente", apontou.

Dom Cláudio finalizou dizendo que a  "grande missão" só será eficaz com a "luz, estímulo, fortaleza e unção" do Espírito Santo.

Pentecostes é a festa celebrada 50 dias após a Páscoa, na qual os cristãos revivem o momento do surgimento da Igreja, há cerca de 2 mil anos. O Espírito Santo foi derramado sobre apóstolos e a Mãe de Jesus que estavam  rezando em Jerusalém. Após o fato, eles passaram a evangelizar sem medo de perseguições.

Às 8h do próximo domingo, os bispos reunidos na Conferência de Aparecida vão celebrar a Festa de Pentecostes na Basílica Nacional, em comunhão com a Igreja no mundo todo.

Leia intervenção de Dom Cláudio Cardeal Hummes na íntegra:

"A grande missão continental

Esta V Conferência deseja despertar a Igreja na América Latina e no Caribe com um grande impulso missionário. Sabemos quanto necessita a Igreja hoje em todo o mundo deste impulso. Esta V Conferência é uma oportunidade única que Jesus Cristo nos oferece para decidir uma Grande Missão Continental em nosso continente. Não podemos perder esta oportunidade, esta hora de graça. Necessitamos de um novo Pentecostes!

De fato, a grande maioria dos católicos em nosso continente não participam mais, ou nunca participaram, da vida de nossas comunidades eclesiais. Nós os batizamos, mas por muitos motivos não temos conseguido evangelizá-los suficientemente. O Papa, em seu discurso aos bispos brasileiros em São Paulo, no 11 de maio último, referindo-se a nossos católicos que abandonam a vida eclesial, disse: “Parece claro que a causa principal deste problema, entre outras, pode ser atribuída à falta de uma evangelização na qual Cristo e sua igreja estejam no centro de toda explicação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas – o que é motivo de justa preocupação – são incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, às vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata” (n.3).

Em resumo, o Papa nos disse que nós não evangelizamos suficientemente àqueles que batizamos. Bom, aqueles a quem nós batizamos, têm o direito de ser evangelizados por nós, porque no momento de batizá-los, nós assumimos o compromisso de evangelizá-los e conduzi-los a Jesus Cristo. Por isso que uma Grande Missão Continental para ir em busca destes católicos pouco evangelizados, não é uma forma de proselitismo nem de anti-ecumenismo, porque se trata daqueles que batizamos. Obviamente, devemos também evangelizar a todos aqueles que pouco ou nada conhecem de Jesus Cristo e seu Reino. Jesus Cristo enviou os seus discípulos a evangelizar a todos os povos a fazer deles seus discípulos.

Neste mesmo discurso do Papa, ele disse que necessitamos de "uma missão evangelizadora que convoque todas as forças vivas deste imenso rebanho. Meu pensamento se dirige, portanto, aos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que fazem prodígios, muitas vezes com imensas dificuldades para a difusão da verdade evangélica". Mais adiante, o papa fala de visitas missionárias domiciliares, dizendo: "Neste esforço evangelizador, a comunidade eclesial se destaca pelas iniciativas pastorais, ao enviar, sobretudo entre as casas das periferias urbanas e do interior, seus missionários, leigos e religiosos, buscando dialogar com todos em espírito de compreensão e delicada caridade".

Logo, em seguida, o Papa mostra como a missão evangelizadora não pode ser separada da solidariedade com os pobres e de sua promoção integral, dizendo: "Mas se as pessoas encontradas estão numa situação de pobreza, é preciso ajudá-las, como faziam as primeiras comunidades cristãs, praticando a solidariedade, para que se sintam amadas de verdade. O povo pobre das periferias urbanas ou do campo precisa sentir a proximidade da Igreja, seja no socorro das suas necessidades mais urgentes, como também na defesa dos seus direitos e na promoção comum de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz. Os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e um Bispo, modelado segundo a imagem do Bom Pastor, deve estar particularmente atento em oferecer o divino bálsamo da fé, sem descuidar do 'pão material'".

Esta Grande Missão Continental deve nascer de nossa abertura ao impulso do Espírito Santo e assim constituir-se em um novo Pentecostes. Por isso, ela exigirá a decidida ação das Conferências Episcopais, das dioceses, das paróquias e de todas as formas de associação de fiéis. Os planos de pastoral destes vários níveis eclesiais necessitam assumir a missão colocá-la em seu centro. Isto significará revisar as estruturas pastorais das dioceses e paróquias, para que se tornem aptas para convocar, preparar e enviar seus fiéis a fazer a missão dentro de seu próprio território e participar da missão "ad gentes".

Essa atividade missionária deve transformar-se em característica permanente das comunidades. A Grande Missão Continental poderia estender-se até à realização da VI Conferência Geral a ser celebrada no futuro, não para que então termine o impulso missionário, que deve ser permanente, mas sim para que então se possa avaliar seus frutos e decidir seu futuro.

Esta missão deve estender-se a toda a sociedade, ainda que os pobres sejam seus destinatários privilegiados, como disse o Papa. As periferias urbanas pobres e do interior, mas também todas as pessoas dos vários segmentos da sociedade, de todas as instituições da sociedade, como são a política, a economia, a cultura, o mundo das comunicações sociais e assim por diante. Mas é bom recordar que além da evangelização dirigida à sociedade como um todo, é importante buscar contato com cada pessoa, principalmente na sociedade pós-moderna e urbana nas quais as pessoas se sentem muito distantes e necessitam de encontros inter-pessoais, que as reconheçam e valorizem, além de oferecer-lhes solidariedade e amor fraterno.

Queridos irmãos e irmãs, tudo indica que Jesus Cristo convida a nossa Igreja latino-americana e caribenha a esta Grande Missão Continental. O Espírito Santo, agente principal e alma da missão da Igreja, nos oferece sua luz, seu estímulo, sua fortaleza e sua unção. Não tenhamos medo, nos disse Jesus. "Duc in altum". Levemos nossos barcos mar adentro. Jesus Cristo estará conosco nesta pesca, que será milagrosa".

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