“Não serve mais o modelo que temos de autoridade e obediência. A igreja não é construída por superiores e inferiores”, disse o cardeal em congresso para ecônomos religiosos
Da redação, com informações do padre Pedro André, SDB
Está em andamento em Roma, na Universidade Pontifícia Salesiana, o SDB Change Congress. Esta é uma iniciativa da Congregação Salesiana para potencializar a capacidade de trabalho em rede no setor econômico, promovendo a conexão e a partilha dos Ecônomos e Ministério Público, com reuniões regionais e seminários internacionais. O evento começou na última segunda-feira, 19.
O SDB Change Congress visa dar um impulso forte e regenerador a todos os salesianos do mundo, aos seus colaboradores e a quantos trabalham para o bem integral dos jovens. O objetivo é estabelecer orientações claras e definitivas sobre alguns temas que marcarão cada vez mais a vida dos jovens nos próximos anos. Os temas abordados tem sido baseados em: economia sustentável, espiritualidade e liderança salesiana, inteligência artificial, comunicação do futuro e prevenção da corrupção.
Cardeal João Braz de Aviz
O Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de vida apostólica, esteve presente no terceiro dia do Congresso. Em sua fala, dirigida aos participantes provenientes de mais de 100 inspetorias salesianas de todo o mundo, o Cardeal disse que “a Igreja se reforma quando o nosso coração se reforma” referindo-se ao empenho do Papa Francisco de reformar a Igreja, aproximando-a cada vez mais ao Evangelho de Jesus.
“Para nós consagrados, o momento atual é sobretudo um momento de voltar-nos para a nossa consagração fundamental que é o batismo, tornar à vida comunitária, à fraternidade”. Para isso, explicou, é necessário quebrar velhos esquema. “Não serve mais o modelo que temos de autoridade e obediência. A igreja não é construída por superiores e inferiores. A igreja é feita de irmãos e irmãs. Não é o superior que possui o Espírito Santo, mas a comunidade. Não é o superior que evangeliza, mas a comunidade”.
Fidelidade ao Carisma e à Igreja
Dom João alertou sobre a necessidade de valorizar a realidade e ao mesmo tempo do perigo de identificar o carisma com a cultura. “Não vivemos no tempo dos fundadores, é outro tempo. Existem comunidades que até agora não entraram no Concílio Vaticano II”.
“Na origem dos Institutos, a missão é clara e brilhante: os bens são adquiridos, possuídos, administrados e alienados em relação aos propósitos, ao projeto que o Senhor chamou para realizar. O grande amor pelos jovens impulsionou Dom Bosco a trabalhar para eles, aproximar-se deles, oferecer-lhes um lar, espaços. Assim começaram as questões econômicas: o projeto é de Deus e a Providência financia as obras”.
Dom Aviz afirmou que o processo de acreditar na providência nunca deve ser comprometido na dinâmica onde as escolhas econômicas são feitas sem um vínculo com a missão para a qual o Senhor chama. “Na realidade, não pode haver qualquer administração de bens onde haja falta de projetos evangélicos e fins carismáticos. Não pode haver uma gestão cuidadosa e prudente dos bens sem uma missão contra a qual eles são administrados”.
O cardeal também acrescentou que a fidelidade ao carisma fundador e o consequente patrimônio espiritual devem continuar sendo o primeiro critério para avaliar a administração, e de todas as intervenções feitas nos Institutos, em qualquer nível. “A natureza do carisma dirige as energias, sustenta a fidelidade e orienta o trabalho apostólico de todos em direção à única missão”.
Características de um bom ecônomo
Segundo Dom João, o ecônomo (aquele que administra uma casa religiosa ou outras estruturas eclesiais), deve ter as seguintes características:
- É parte de um corpo e serve a um carisma. Não deve ser solitário, não pode trabalhar sozinho. Deve oferecer àqueles que tomam decisões ajudas concretas e prevenir tantas coisas;
- O ecônomo não pode ser eterno. Mudam-se os superiores, mas não se muda o ecônomo. Não pode ser assim;
- A economia interessa a todos e também às comunidades. Deve ser construída num processo comunitário;
- Deve pensar nos pobres;
- O critério para manter uma obra ou deixá-la não pode ser o proveito econômico;
- Se um ecônomo não sabe dialogar com os outros, não serve para esse serviço. Deve escutar o conselho e ser uma pessoa aberta ao diálogo;
- Não é a razão econômica que deve guiar os objetivos;
- Deve prestar contas. É um dos empenhos mais importantes. É um instrumento para o discernimento. Se não se faz prestação de contas se pode haver problemas enormes.
- Se deve fazer, além do balanço normal, um balanço social. Entre as estruturas e as pessoas.
Os três verbos que resumem a missão
“Tentei destacar o papel e as tarefas do ecônomo. Isto pode ser resumido em três verbos. Finalizar: todos os recursos serão alocados para a missão do Instituto e para a sustento dos membros. Prestar contas: compartilhamento de escolhas, ações e resultados. Assegurar: garantir que os bens também sejam protegidos civilmente e que as regulamentações canônicas e civis sejam respeitadas”.
O cardeal acrescentou que, para discernir, é preciso seguir o Evangelho, sendo fundamental ter uma visão carismática, um profissionalismo indispensável. “Outro aspecto indicado pelas Diretrizes: um bom ecônomo não é apegado às riquezas. Este lhe garante a liberdade necessária para discernir o bem e realizar sua missão.”
SDB Change Congress
O irmão Jean Paul Muller, SDB, Ecônomo Geral da Congregação Salesiana e promotor do Congresso, afirmou que as decisões que serão tomadas nestes anos influenciarão o mundo por muito tempo.
“Nós, como Congregação Salesiana, percorreremos um caminho colocando toda a nossa contribuição a serviço. Todos os que atuam no mundo salesiano são chamados hoje a moldar o amanhã! Ser o advogado e defensor dos jovens como ‘pessoas do futuro’ neste mundo, para ajudá-los a moldar seu futuro e transmitir o máximo possível os valores cristãos, para que este planeta alcance uma grande correção de seus pecados”.