Senhor Embaixador,
aproveito de bom grado este momento da apresentação das Cartas Credenciais, com que hoje é designado oficialmente Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Portugal junto da Santa Sé, para lhe dar as boas-vindas e, congratulando-me pela sua nomeação, formular venturosos votos para a sua nova missão que se propõe como novo contributo no edifício das relações de amizade existentes entre o seu país e esta Sé Apostólica. Como lembrava nas suas palavras de saudação, a fé e a história uniram-se para forjar um vínculo especial entre o povo português e o Sucessor de Pedro, um vínculo que é confiado à responsabilidade de cada uma das gerações sucessivas, pelo qual jamais devemos deixar de dar graças a Cristo, Bom Pastor da sua Igreja e Senhor da história, dos indivíduos e das nações.
A nobre expressão dos sentimentos que o animam neste dia, certamente muito significativo, mereceu toda a minha atenção. Quero antes de mais manifestar-lhe o meu reconhecimento pelas palavras que me dirigiu e, depois, retribuir os sentimentos de estima que o Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, me fez chegar através de Vossa Excelência, pedindo-lhe por minha vez a amabilidade de significar ao Senhor Presidente a minha gratidão pelos mesmos, juntamente com encorajadores votos na sua alta missão e a certeza da minha oração ao Altíssimo pela prosperidade e o bem espiritual de todos os portugueses.
Quando me preparava para este encontro com o Senhor Embaixador, acudiam à mente as edificantes e felizes imagens, que guardo na memória e no coração, da minha visita a Portugal no passado mês de Maio, desejando aqui agradecer uma vez mais a todos o contributo dado para uma serena e frutuosa realização da mesma; efeito este amplamente conseguido como atestam as inúmeras mensagens que me chegaram alusivas àqueles dias memoráveis. Jamais esquecerei o acolhimento caloroso a mim reservado, bem como a maneira gentil e respeitosa com que as minhas palavras foram recebidas. Considero que tudo isto tem também uma importância social: onde a sociedade cresce e as pessoas se fortalecem no bem graças à mensagem da fé, sai beneficiada também a convivência social e os cidadãos sentem-se mais disponíveis para servir o bem comum.
Com a sua presença no fórum internacional, a Santa Sé põe todo o seu empenho em servir a causa da promoção integral do homem e dos povos. Deveria ser convicção de todos que os obstáculos a tal promoção não são apenas de ordem econômica, mas dependem de atitudes e valores mais profundos: os valores morais e espirituais que determinam o comportamento de cada ser humano para consigo mesmo, os outros e a criação inteira. A presença do Senhor Embaixador neste lugar testemunha a vontade que Portugal tem de dar um lugar importante a tais valores, sem os quais uma sociedade não se pode estabelecer de modo duradouro.
Quando a Igreja, no seu país, promove a consciência de que esses mesmos valores devem inspirar a vida pública e particular, fá-lo não por ambições políticas, mas para ser fiel à missão que o seu divino Fundador lhe confiou. "Dado que a Igreja – são palavras do Concílio Vaticano II – não está ligada, por força da sua missão e natureza, a nenhuma forma particular de cultura ou sistema político, econômico ou social, pode graças a esta sua universalidade, constituir um laço muito estreito entre as diversas comunidades e nações, contanto que nela confiem e lhe reconheçam a verdadeira liberdade para cumprir esta sua missão" (Const. Gaudium et spes, 42). Ela não representa modelos parciais e passageiros de sociedade, mas tende à transformação dos corações e das mentes, para que o homem possa descobrir-se e reconhecer-se a si mesmo na verdade plena da sua humanidade. E dado a sua missão ser de carácter moral e religioso, a Igreja respeita a área específica de responsabilidade do Estado. Ao mesmo tempo encoraja os cristãos a assumirem plenamente as suas responsabilidades como cidadãos para, juntamente com os outros, contribuírem eficazmente para o bem comum e para as grandes causas do homem.
De uma respeitosa colaboração e leal entendimento entre a Igreja e o poder civil, só poderão derivar benefícios para a sociedade portuguesa. Animada por esta esperança, há seis anos, nascia a nova Concordata entre a Santa Sé e Portugal, a que aludia o Senhor Embaixador. Naquela ocasião, o Papa João Paulo II viu naquele instrumento jurídico a confirmação dos "sentimentos de mútua estima que animam as relações recíprocas" e fez votos de que "a nova Concordata pudesse favorecer um entendimento sempre maior entre as Autoridades do Estado e os Pastores da Igreja para o bem comum da Nação" (L’Osservatore Romano, ed. portuguesa de 22/V/2004, 253). Com alegria, ouvi o Senhor Embaixador referir e desejo daqui encorajar os esforços que se estão a fazer para uma completa e fiel aplicação da mesma nos diversos campos da Igreja Católica e da sociedade portuguesa.
Antes de terminar este encontro, quero assegurar-lhe, Senhor Embaixador, a plena colaboração e apoio da Santa Sé no desempenho da alta missão que lhe foi confiada. Pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima, peço ao bom Deus do Céu que assista, com a abundância dos seus dons, Vossa Excelência e sua distinta família, quantos servem o bem comum da Nação portuguesa e todo o seu povo, sobre o qual estendo a minha Bênção.
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