Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI a empresários de Roma

Gentil Presidente,
ilustres Senhoras e Senhores!

Tenho o prazer de oferecer as minhas cordiais boas-vindas a cada um de vós, nesta véspera da Festa de São José, que é um exemplo para todos aqueles que atuam no mundo do trabalho. Dirijo o meu respeitoso pensamento ao presidente da União de Industriais e Empresários de Roma, doutor Aurelio Regina, agradecendo-lhe as amáveis palavras que me dirigiu. Com ele, saúdo a Junta e o Conselho Diretivo da Sociedade.

A realidade dos negócios romana, composta, em grande parte, de pequenas e médias empresas, é uma das mais importantes associações territoriais filiadas à Confindustria, que hoje opera também em um contexto caracterizado pela globalização, pelos efeitos negativos da recente crise financeira, pela chamada "financeirização" da economia e das próprias empresas. Trata-se de uma situação complexa, porque a atual crise afetou severamente os sistemas econômicos e produtivos de vários países. Todavia, isso deve ser vivido com confiança, porque pode ser considerada como uma oportunidade do ponto de vista da revisão dos modelos de desenvolvimento e de uma nova organização do mundo financeiro, um "tempo novo" – como já foi dito – de um profundo repensar.

Na Encíclica social Caritas in veritate, destaquei que viemos de um estágio de desenvolvimento em que se privilegiou aquilo que é material e técnico, em detrimento do que é ético e espiritual, e encorajei a colocar no centro da economia e das finanças a pessoa (cf. n. 25), que Cristo revela na sua dignidade mais profunda. Propondo, também, que a política não seja subordinada a mecanismos financeiros, solicitei a reforma e a criação de sistemas jurídicos e políticos internacionais (cf. n. 67), proporcionais às estruturas globais da economia e das finanças, para conseguir mais eficazmente o bem comum da família humana. Seguindo os passos de meus predecessores, reiterei que o aumento do desemprego, especialmente entre os jovens, o empobrecimento econômico de muitos trabalhadores e o surgimento de novas formas de escravidão exigem como objetivo prioritário o acesso a um trabalho digno para todos (cf. nn. 32 e 63). Aquilo que guia a Igreja em fazer-se promotora de um objetivo similar é o convencimento de que o trabalho é um bem para o homem, para a família e para a sociedade, e é uma fonte de liberdade e de responsabilidade. Para alcançar tais objetivos, estão obviamente envolvidos, juntamente com outros sujeitos sociais, os empresários, que são particularmente encorajados em seus esforços para servir à sociedade e o bem comum.

Ninguém ignora quantos sacrifícios devem ser afrontados para abrir ou manter no mercado a própria empresa, aquela "comunidade de pessoas" que produzem bens e serviços e que, portanto, não tem como única finalidade o lucro, mesmo que necessário. Em particular, as pequenas e médias empresas encontram-se cada vez mais necessitadas de financiamento, enquanto o crédito se torna menos acessível e é muito forte a concorrência nos mercados globalizados, especialmente por parte daqueles países onde não existem – ou são mínimos – os sistemas de proteção social para os trabalhadores. Disso resulta que o elevado custo do trabalho torna os próprios produtos e serviços menos competitivos e são necessários não poucos sacrifícios para que não seja preciso demitir os próprios funcionários e permitir-lhes atualização profissional.

Neste contexto, é importante saber vencer aquela mentalidade individualista e materialista, que nos sugere desviar os investimentos da economia real para privilegiar o empenho do próprio capital em mercados financeiros, em vista de rendimentos mais fáceis e mais rápidos. Permito-me recordar que, ao contrário, as vias mais seguras para combater o declínio do sistema de negócios do próprio território consistem em colocar-se em rede com outras realidades sociais, investir em pesquisa e inovação, não praticar uma concorrência desleal entre empresas, não esquecer os próprios deveres sociais, mas estimular uma produtividade de qualidade para atender às reais necessidades das pessoas. Existem várias provas de que a vida de uma empresa depende da sua atenção a todos os sujeitos com que desenvolve relações, da ética de seu projeto e de suas atividades. A mesma crise financeira demonstrou que, dentro de um mercado assolado por falências, resistiram aqueles agentes econômicos capazes de se ater ao comportamento moral e atento às necessidades do próprio território. O sucesso dos empreendimentos italianos, especialmente em algumas regiões, sempre foi caracterizada pela importância atribuída à rede de relacionamentos que soube tecer com os trabalhadores e com outras realidades empresariais, mediante relações de colaboração e confiança recíproca. A empresa pode ser vital e produzir "riqueza social" se a direção dos empreendedores e gerentes é baseada em um olhar previdente, que prefere o investimento a longo prazo que o lucro especulativo, e que promove a inovação, ao invés de pensar em acumular riqueza apenas para si.

Os empresários atentos ao bem comum são chamados a perceber a própria atividade sempre no contexto de um conjunto plural. Tal abordagem gera, mediante a dedicação pessoal e a fraternidade vivida concretamente nas decisões econômicas e financeiras, um mercado mais competitivo e ainda mais civil, animado pelo espírito de serviço. É claro que uma lógica similar de empresa assume determinadas motivações, uma certa visão do homem e da vida; um humanismo, isto é, que nasça da consciência de ser chamado como indivíduos e comunidade a fazer parte da única família de Deus, que nos criou à Sua imagem e semelhança e nos redimiu em Cristo; um humanismo que reavive a caridade e nos guie pela verdade; um humanismo aberto a Deus e, exatamente por isso, aberto ao homem e a uma vida entendida como tarefa solidária e alegre (cf. n. 78). O desenvolvimento, em qualquer área da existência humana, implica também a abertura ao transcendente, a dimensão espiritual da vida, a confiança em Deus, o amor, a fraternidade, o acolhimento, a justiça, a paz (cf. n. 79). Me apraz sublinhar tudo isso enquanto nor encontramos na Quaresma, tempo propício para a revisão profunda das próprias atitudes e para se interrogar sobre a coerência entre os fins a que tendemos e os meios que utilizamos.

Gentis Senhoras e senhores, vos deixo essas reflexões. E, enquanto vos agradeço pela vossa visita, faço votos de todo o bem para a atividade econômica, bem como para a associativa, e de bom grado concedo a vós e a todos os que vos são caros a minha Bênção.

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