Primeira mulher eleita e reeleita presidenta da Argentina, Cristina Kirchner assume no sábado, 10, o seu segundo mandato de quatro anos. Ela conta com o apoio da maioria do Congresso e do eleitorado. Na eleição do dia 23 de outubro, obteve 54% dos votos – mais do que todos os presidentes que governaram nos últimos 28 anos de democracia.
Cristina deve sua vitória ao bom desempenho da economia e à fragmentação da oposição. Ela sucedeu o marido, Nestor Kirchner, que morreu no ano passado. Ele foi eleito em 2003 com apenas 22% dos votos. Na época, a Argentina saía de uma das piores crises econômicas e políticas de sua história, parecida com a crise que hoje atinge a Europa. O país aguentou anos de recessão e de acordos jamais cumpridos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), antes de decretar a moratória da dívida externa e desvalorizar o peso.
Desde 2003, a economia argentina tem crescido em média 7% ao ano, graças em parte ao aumento dos preços do petróleo e de produtos agrícolas, como a soja. Mas o terceiro governo kirchnerista enfrenta hoje novos desafios. O principal é equilibrar as contas em meio a uma crise econômica internacional.
“Cristina Kirchner enfrenta hoje uma conjuntura econômica diferente daquela que encontrou quando foi eleita pela primeira vez”, afirma o analista político Rosendo Fraga.
A economia e as exportações da Argentina continuam crescendo. Mas, no primeiro governo de Cristina, os gastos públicos também subiram. “Desde 2007, aumentaram 30% ao ano”, disse o economista Fausto Spotorno. Com isso, a Argentina, que tinha um superávit fiscal, hoje é deficitária.
Após ter sido reeleita, Cristina anunciou medidas para enxugar a economia e frear a saída de dólares do país. Ela manteve os programas de ajuda social, mas cortou os subsídios do governo que beneficiavam, além dos pobres, empresas e consumidores das classes média e alta.
Desde a crise de 2001, o governo congelou as tarifas de gás, luz e água, cobradas dos consumidores. Os aumentos das empresas eram financiados pelo Estado argentino. A partir de janeiro, não serão mais. Quem quiser se beneficiar dos subsídios terá que provar para a Afip (a Receita Federal argentina) que não está em condições de pagar suas contas.
O governo também impôs novos controles ao câmbio. Os argentinos que quiserem comprar dólares terão que pedir permissão ao Fisco e provar que têm em volume suficiente pesos declarados para realizar a operação. Na Argentina, essa medida tem um impacto grande: muitas pessoas estão acostumadas a poupar em dólares, e a guardá-los fora do sistema financeiro, para se protegerem das eventuais crises.
Além de enfrentar um panorama de crise mundial, Cristina Kirchner tem um desafio político pela frente: controlar os sindicatos, aliados ao governo. Eles pedem aumentos salariais de mais de 20% (índice de inflação das consultoras privadas, que representam o dobro do oficial). Os sindicalistas também querem pagar menos impostos e uma participação nos lucros das empresas. Cristina já disse que não cederá – uma decisão que foi bem acolhida pelo empresariado.
“Cristina manteve o discurso: quer que os empresários invistam mais no país. Mas deu um basta às reivindicações dos sindicatos, algo que os empresários interpretaram como positivo”, disse Rosendo Fraga.