Em março, Papa reza por cristãos perseguidos; confira relatos de quem já viveu essa realidade e de voluntária na causa
Denise Claro
Da redação
“Para que os cristãos discriminados ou perseguidos por causa da sua fé permaneçam fortes e fiéis ao Evangelho, graças à oração incessante de toda a Igreja.”, esta é a intenção de oração do Papa Francisco para este mês de março.
A realidade dos que são perseguidos por causa de sua fé é muito dura, especialmente em países do Oriente Médio. Grupos como o Estado Islâmico, Boko Haram e Al Qaeda não medem esforços para impor seus ideais e massacrar quem não partilha deles.
Diante de tantas situações difíceis, cristãos de todo o mundo têm dado seu testemunho da fé em Cristo, muitas vezes com a própria vida. Até mesmo em países em que a fé pode ser vivida livremente, em que aparentemente não há esta opressão, a perseguição se faz presente.
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O coronel peruano David de Vinatea é um exemplo disso. David servia no exército do seu país e era responsável por combater o tráfico de drogas. Era conhecido por uma placa que mandou colocar na entrada de seu posto de trabalho que dizia: “Deus manda nesta base”. Em 1994, em uma operação contra o tráfico, foi perseguido por causa do seu testemunho cristão e preso sob falsas acusações.
“Comecei a viver a perseguição quando dei testemunho da minha fé e não me deixei levar pela corrupção. Não foi fácil, sabia o risco que estava correndo por manter minha fidelidade a Deus, mas o assumi com muita responsabilidade. Depois que fui preso, eu e minha família passamos muitos anos de sofrimento, posso dizer que até hoje sentimos as consequências, mas o apoio que recebemos dos cristãos de todo o mundo nos ajudou a suportar as dificuldades.”
Em 1997, o coronel David foi sentenciado injustamente a 16 anos de prisão. Ao final, sua pena foi reduzida a 8 anos, e em todo o tempo em que esteve preso, sua família sofreu graves ameaças. Na prisão, David se manteve firme em seu testemunho, aproveitando para evangelizar os outros detentos, por meio de estudos bíblicos.
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A ONG cristã Portas Abertas auxilia cristãos que sofrem com a perseguição. Alyne Romeiro, voluntária na instituição, explica como se dá esta ajuda. “A Missão Portas Abertas existe para apoiar e encorajar os cristãos perseguidos, de modo a perseverarem em sua fé, por pior que seja a perseguição que enfrentam. Esse apoio se dá de diversas formas, como visitas que fazemos aos cristãos em seus países, treinamento, campanha de cartas e por meio da oração”.
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David de Vinatea fala sobre a importância da oração feita pelos cristãos animados pela ONG, em sua causa, no tempo em que esteve preso. “A oração dos irmãos nos fortaleceu no tempo que vivíamos toda aquela dificuldade. Conforme víamos os anos passando, e a situação não mudava, quase nos faltavam forças. Mas logo nos lembrávamos que irmãos do mundo todo estavam rezando por nós e nos sentíamos acompanhados, sentíamos claramente suas orações, elas nos faziam ter certeza de que não estávamos sozinhos. Tínhamos fé que Deus nos respondia, nos dando ânimo para seguir adiante e esperar o tempo Dele.”
O coronel entende a importância de rezar pelos que vivem perseguições. Hoje, ele e sua família também são intercessores pela Igreja perseguida. “Devemos pensar sempre que onde vivemos somos privilegiados por podermos ir a Igreja, ler a Bíblia livremente, mas em outras partes do mundo onde a perseguição acontece não se pode ter uma Bíblia e nem se reunir com os outros cristãos sem pagar as consequências. Os cristãos nesses lugares são torturados, encarcerados, maltratados e em muitos casos pagam com sua vida por serem fiéis a Deus.”
Cristãos livres rezando pelos que são perseguidos
Alyne conta que aderiu à causa após fazer um acampamento de simulação de perseguição: “Ao fazer esta experiência, entendi que precisava usar minha liberdade para servir aos meus irmãos que sofrem por causa de sua fé e passei a atuar como voluntária.”
A voluntária teve a oportunidade de visitar e encorajar cristãos na China, Jordânia, Israel, Palestina, Cuba, Quirguistão e Turquia. “Fui para levar Bíblias e encorajar os que lá estavam, mas o amor e a gratidão deles por nós é algo constrangedor. A gente acha que vai pra lá para abençoá-los, mas nós é que somos abençoados, na verdade.”
Alyne lembra que há situações muito difíceis, em que se vive isolado e com medo, em que muitos não podem nem compartilhar com a própria família sobre sua fé, pois correm risco de vida, devido à suas culturas. A voluntária reforça a importância da vivência da fé em meio ao sofrimento. “Muitos perdem tudo por causa de Cristo. O desafio para eles é perseverar e ser fiel até a morte, para receber a Coroa da Vida, como está no livro do Apocalipse. Outra questão é o testemunho, retribuindo com amor e perdão aqueles que os perseguem, pois só assim os perseguidores poderão ser alcançados pelo amor de Jesus”.
Aos cristãos que, como no Brasil, têm a oportunidade de viver com liberdade sua fé, Alyne enfatiza: “O primeiro ponto é não ignorar essa realidade. Em segundo lugar, a oração pelos que são perseguidos é fundamental, pois quanto mais orarmos por eles, mais testemunhos de fé e perseverança chegarão até nós, o que também irá alimentar nossa fé e nos motivar a orar ainda mais”.
Alyne resume a importância do testemunho dado. “Sei que é difícil imaginar que em pleno século XXI isso acontece, mas infelizmente é uma realidade. Há cristãos que estão sendo perseguidos e até mesmo morrendo por não abrir mão da fé em Cristo Jesus. Eles fizeram uma escolha e não voltam atrás, pois sabem que a recompensa eterna é maior do que qualquer coisa que essa vida terrena pode oferecer”.