Em seu último domingo de férias em Castel Gandolfo este ano, o Papa encontrou-se neste Domingo com os fiéis no pátio da residência apostólica, para rezar com eles a oração do Angelus e fazer a sua habitual reflexão dominical.
Bento XVI quis remarcar o 40º aniversário da encíclica de Paulo VI, Popolorum Progressio, que, a seu parecer, “mantém ainda hoje toda a sua urgência”. Com efeito, disse o Papa, “não há tempo a perder: é preciso construir um mundo no qual todos os homens possam viver uma vida plenamente humana, onde o pobre possa se sentar à mesma mesa do rico”.
Citando ainda o documento mais célebre do Papa Montini, Bento XV disse:
“A miséria é conseqüência das servidões que vêm dos homens e de uma natureza mal domada. Infelizmente, alguns povos sofrem pela soma de ambos os fatores. Como ignorar, especialmente neste momento, os países do norte da África, castigados nos últimos dias por inundações tão graves? Não podemos também esquecer de muitas outras situações de emergência humanitária, em várias regiões do planeta, onde os conflitos por poderes políticos e econômicos agravam realidades ambientais já difíceis”.
Continuando sua advertência, em tom bastante sério, Bento XVI recordou que nós conhecemos a estrada a seguir: “a Lei e os Profetas – como diz Jesus, no Evangelho”. E citou novamente o apelo de Paulo VI, afirmando que ainda hoje, “os povos da fome interpelam dramaticamente os povos da opulência”.
A liturgia deste domingo apresenta a parábola do homem rico e do pobre Lázaro, na qual o rico usa seus bens de modo injusto, egoísta e desenfreado, pensando exclusivamente em si mesmo e ignorando o mendicante que bate à sua porta. Já o pobre, por sua vez, tem um nome: Lázaro, abreviação de Eleazar, que significa ‘Deus ajuda’. E recebe a atenção de Deus.
O Papa explicou aos fiéis esta relação:
“Quem é esquecido por todos, não é esquecido por Deus; quem não vale nada aos olhos dos homens, é precioso aos olhos do Senhor. Esta parábola demonstra como as desigualdades sofridas na vida terrena são repagadas com a justiça divina. Depois da morte, Lázaro foi acolhido na beatitude eterna, enquanto o rico acabou no Inferno, em meio a tormentos”.
Assim, o papa tirou a conclusão: “É durante a vida que precisamos nos converter. Depois, não serve para nada. Que Nossa Senhora nos ajude a ouvir e colocar na prática esta parábola de Deus: que nos faça mais atenciosos com os irmãos mais necessitados, dividir com eles o pouco que possuímos e contribuir para difundir a lógica e o estilo da autêntica solidariedade”.
Após a oração do Angelus com os fiéis, Bento XVI pediu uma solução pacífica para o fim dos conflitos em Mianmar (antiga Birmânia). Ele classificou o conflito como extremamente sério, e ofereceu sua solidariedade à população do país.
“Eu estou acompanhando com muita atenção os eventos extremamente sérios que estão acontecendo em Mianmar nesses dias. Eu gostaria de expressar minha aproximação espiritual com a querida população, nesta situação dolorosa que atravessa” – disse o papa, convidando a toda a Igreja a fazer o mesmo.
Nas duas últimas semanas, Mianmar teve as ruas tomadas por manifestantes protestando contra o governo militar, mas o número de pessoas nas marchas é agora muito menor e as principais cidades contam com forte presença militar. Os monges budistas que estavam inicialmente liderando os protestos foram presos ou confinados a seus templos. De acordo com números do governo, dez pessoas foram mortas durante a violenta repressão às manifestações pró-democracia na semana passada.
Além do apelo pela pacificação em Mianmar, o papa falou também de outra situação difícil, a da Península coreana. Os importantes progressos no diálogo entre as duas Coréias fazem esperar que os esforços de reconciliação se concretizem, em benefício do povo coreano e da estabilidade e da paz em toda a região.
Bento XVI saudou os fiéis em francês, inglês, espanhol, alemão, eslovaco, e polonês. Em italiano, despediu-se dos moradores da cidade de Castel Gandolfo, anunciando seu retorno ao Vaticano, na próxima quarta-feira. Enfim, concedeu a todos a sua benção.